Hellboy surpreende pela arte e pelas múltiplas referências
O que primeiro atrai em Hellboy é a arte de Mike Mignola, que quase se poderia classificar como uma “linha clara” escura, já que o seu desenho plano, estilizado, desprovido de pormenores desnecessários, extremamente legível, invulgar no universo dos comics norte-americanos, é servido por tons soturnos, sombrios, mesmo quando a acção decorre em montanhas verdejantes…
Isso contribui sobremaneira para o ambiente opressivo e tenso das narrativas, onde o inesperado espreita a cada página e onde cada construção – quase sempre velhos castelos decadentes – esconde perigos inimaginados.
Mas são as narrativas, bem construídas, envolventes, alternando suspense com cenas de acção, com as pontas soltas necessárias para serem retomadas mais tarde, fazendo a ligação entre as histórias e criando uma interessante cumplicidade com o leitor, que mais surpreendem, pela conjugação de aspectos que aparentemente nada têm em comum: investigações de tom detectivesco e demónios saídos do inferno – o primeiro dos quais o próprio Hellboy -, o paranormal par a par com a ciência, a retoma da temática nazi como personalização do mal absoluto como um dos lados do eterno confronto entre este e o bem…
“Verme Conquistador”, que tem introdução de Guillermo del Toro, reúne todos aqueles aspectos, cruzando-os com diversas referências literárias, cinematográficas e televisivas agradavelmente retros, numa história que traz Hellboy de novo à velha Europa, a mais um castelo em ruínas, para evitar a concretização de um plano iniciado pelos nazis 60 anos antes, quando enviaram o primeiro ser humano para o espaço.
Mignola, o expressionista
Hellboy – Verme conquistador
Mike Mignola (argumento e desenho)
G. Floy Studio
Mike Joseph Mignola nasceu a 16 de Setembro de 1960, em Berkeley, na Califórnia. Publicou os primeiros trabalhos aos 19 anos, destacando-se pelo invulgar grafismo que alguém classificou como “uma combinação de expressionismo alemão com a arte de Jack Kirby”.
Contratado pela Marvel em 1983, desenhou Daredevil, X-Men, Hulk, Conan ou Homem-Aranha e, a partir de 1987, também histórias de Batman para a DC Comics.
Em 1993, na Dark Horse, criou Hellboy, assinando argumento e desenhos, que já lhe valeu diversos prémios Harvey e Eisner.
Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias