The Simpsons, 20 anos depois

Se alguém tivesse adormecido em frente à televisão há 20 anos e agora, ao acordar, o aparelho ainda ligado estivesse a transmitir a mesma série, ela apenas poderia ser The Simpsons, a mais antiga série televisiva em exibição, já na 21ª temporada nos Estados Unidos.

Foi a 17 de Dezembro de 1989 que a disfuncional família composta por Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie fez a sua estreia como série autónoma, com um episódio especial de Natal, que antecedeu a primeira temporada, exibida entre Janeiro e Maio de 1990. Por isso, ao completar 20 anos, já com contrato assinado até 2011, deixam para trás os 12 anos dos Flinstones, até então a mais longa animação televisiva, e Gunsmoke, antiga recordista, com 20 temporadas entre 1955 e 1975. Mas 635 episódios, mais do que os Simpsons que, até domingo passado, contam “apenas” 450 capítulos. Ou quase meio milhar, se lhes adicionarmos os 48 do período em que existiram como rubrica curta no The Tracey Ullman Show, entre 19 de Abril de 1987 e 14 de Maio de 1989, onde se deu a sua estreia absoluta.
Antes disso, conta a lenda, Matt Groening criou-os num quarto de hora, enquanto aguardava por uma entrevista na Fox, para uma eventual adaptação em desenho animado da sua série de cartoons “Life is Hell”, protagonizada por Sheba e Binky, um casal de coelhos antropomórficos, que mostrava todos os aspectos que infernizam a vida quotidiana, do trabalho ao amor, do sexo à morte. Para não perder os direitos sobre a sua criação de papel Groening, que por vezes também se desenhava nos cartoons, terá rabiscado uns bonecos que viriam a originar os Simpsons tal como os conhecemos. Ou nem tanto, pois a evolução gráfica da série nos primeiros anos é por demais evidente, com o arredondamento das formas, a saída dos olhos das órbitas, um ganho de expressividade e uma melhor definição dos seus volumes. O que não impediu que continuassem a ser feios, com apenas quatro dedos e possuidores de um humor cáustico e cruel, muitas vezes subversivo, que não conhece limites temáticos, apontando as suas baterias ao quotidiano banal dos norte-americanos – cujas mudanças vai acompanhando e assimilando – e aos temas que vão fazendo a actualidade política, cultural, desportiva ou social, satirizando de igual forma o sexo e a morte, a educação e a saúde, a economia e a própria televisão.
Apesar de (ou por isso), têm percorrido uma senda de sucesso planetário, que lhes garante audiências semanais de milhões de espectadores por todo o mundo, gera milhões de dólares de lucro provenientes da venda dos DVD com os episódios e do imenso merchandising associado à marca Simspon, tornou ricos os seus produtores e faz com que desde que os Aerosmith apareceram num episódio em 1991, celebridades de todas as áreas se ofereçam para participar nas histórias, dobrando os seus próprios bonecos.
Que nos continuam a divertir, episódio após episódio, enquanto nos mostram o pior do ser humano. De nós.


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Curiosidades

Até domingo passado os Simpsons protagonizaram 450 episódios regulares mais 48 no The Tracey Ullman Show.

Já conquistaram 23 Emmy, 22 Annie, um Peabody e uma estrela na Calçada da Fama em Hollywood.

Em 1998, a Times considerou-os a melhor série televisiva do século XX.

No genérico da série, quando Maggie passa na caixa registadora do supermercado, o preço exibido é 847,63 dólares.

A cena do sofá que abre cada episódio já variou entre os 5 e os 46 segundos.

Matt Groening escolheu o nome de Springfield para lar dos Simpsons porque nos EUA existem 121 cidades com essa denominação em 36 estados.

Para baptizar os Simpsons, Matt Groening recorreu aos nomes do pai (Homer), mãe (Marge) e sobrinhas (Lisa e Maggie).

Os Simpsons são amarelos por opção do colorista Gyorgi Peluci, porque Bart, Lisa e Maggie não tinham uma linha que separasse o cabelo da testa, e com um tom de pele realista iria parecer que tinham feito uma lobotomia!

Uma cronologia oficiosa dá 39 anos a Homer, 37 a Marge, 10 a Bart, 8 a Lisa e 2 a Maggie. No entanto, as datas de nascimento e casamento apresentam variações entre episódios.

As vozes de quase todas as personagens dos Simpsons são feitas por apenas seis pessoas.
A voz de Bart pertence a uma mulher e na versão dobrada em português do filme, foi também uma, Carla de Sá, quem lhe emprestou a voz.

A célebre interjeição de Homer – “d’oh” – foi proferida 377 vezes nas primeiras 15 temporadas e está registada no The Oxford English Dictionary.

Homer já teve 46 profissões diferentes. E já morreu várias vezes, quase sempre nos sangrentos episódios especiais “Treehouse of Horror”.

Na versão árabe, Home bebe soda e não cerveja e os seus cachorros quentes são feitos com salsichas egípcias, não de carne de porco.

O Q. I. de Lisa é de 159 pontos.

Os Simpsons moram no 742 de Evergreen Terrace (nome da rua onde Groening morou em criança), mas o número da porta também já foi 59, 94, 723 e 1094.

Pelos Simpsons já passaram mais de duas centenas de figuras reais da política, desporto, artes ou economia. Os primeiros foram os Aerosmith, em 1991.

No tempo de The Tracey Ullman Show, cada filme demorava quatro semanas para ficar pronto. Hoje, cada episódio tem cerca de 24 mil desenhos, 8 meses de trabalho e um custo que ronda um milhão de dólares.

Ao longo dos episódios, já ocorreram 31 mortes de personagens, a mais marcante das quais a de Maude Flanders, esposa do beato Ned, empurrada involuntariamente por Homer do topo de um estádio, porque a actriz que lhe dava voz exigia um aumento salarial. Desta forma, foi despedida.

Os Simpsons já foram capa de revistas como a Rolling Stones, Maxim, Playboy ou Super-Interessant e protagonizaram publicidade da Renault, uma colecção de moda de Linda Evangelista ou campanhas pelo consumo de leite ou segurança no trabalho.

Quando os Simpsons andam de carro, Homer é o único que não usa o cinto de segurança.

Um concurso recente para a criação de uma nova personagem para os Simpsons teve mais de 25 000 participantes. A vencedora foi Peggy Sue, que propôs Richard Bomb, um mulherengo sul-americano.

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Polémicas

Dado o tipo de humor praticado e a não existência de temas tabus, não surpreende que os episódios dos Simpsons provoquem polémica. A surpresa vem do nível que ela pode atingir.
Durante a campanha para as presidenciais norte-americanas, Homer ao votar em Obama na urna electrónica, vê serem somados dois votos a… John McCain! O alvo da piada era a empresa responsável pelo fabrico das máquinas, que tinha ligações ao Partido Republicano e contribuíra para a campanha de George W. Bush.
A outro nível, o episódio mostrado este fim-de-semana na RTP 2, provocou celeuma quando foi exibido no Reino Unido, por Homer acusar um novo vizinho de ser terrorista apenas por ser muçulmano e chamar Oliver a Alá. A escuta parcial de conversas de Amid leva-o a descobrir que este vai explodir um centro comercial… algo perfeitamente normal para quem trabalha numa empresa de demolições! Na sequ~encia desta demonstração de xenofobismo gratuito, Homer provoca a demolição de uma ponte.
Em 2008, o presidente venezuelano Hugo Chávez proibiu um canal privado de transmitir os Simpsons na programação matinal infantil devido à sua “má influência americana”. A série de Matt Groening foi substituída pela Marés Vivas.
Num episódio da 19ª temporada, durante uma conversa no bar do Moe, Carl e Lenny dizem que estão cansados da democracia e que preferiam uma ditadura como “a de HYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Juan_Per%C3%B3n” o “Juan Perón” Juan Perón, porque quando ele desaparecia com alguém… era para sempre e a sua mulher era a Madonna”! Temendo reacções adversas, a própria Fox decidiu não exibir o episódio na América Latina.
Seis anos antes a visita da família amarela ao Brasil provocou uma onda de protestos, quer pela erros primários – os brasileiros falavam espanhol, a Amazónia ficava junto ao Rio de Janeiro – quer pela imagem do país apresentada, com cobras e macacos nas ruas, violência juvenil, sequestros frequentes e apresentadoras de programas infantis sexualmente provocantes. A secretaria de Turismo do Rio de Janeiro chegou mesmo a ponderar processar os produtores da série.
E bem antes disso, em 1996, num dos episódios mais polémicos, o ex-presidente George Bush, muda-se para Springfild em busca de paz. Algo difícil quando os vizinhos se chamam Simpson. Depois de Bart triturar o seu livro de memórias, o ex-presidente responde com palmadas, desencadeando uma guerra aberta entre as duas famílias. Esta foi a resposta a um comentário de Bush em 1990, quando afirmou que preferia que as famílias americanas fossem parecidas com os Waltons – uma simpática família da TV, dos anos 70 – do que com os Simpsons.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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