Chama-se Hervé Darmenton mas é mais conhecido como Achdé, o actual desenhador de Lucky Luke. “Há já 15 anos”, como faz questão de lembrar com visível orgulho.
Em 1999 participou “num álbum de homenagem a Morris”, o criador do “cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra”, que “gostou bastante das suas páginas” e o convidou para se “ocupar de Rantanplan”. Morris faleceu em 2001 e seis meses mais tarde Achdé foi “chamado para retomar a série”. Se “financeiramente a proposta era aliciante”, o que o fez aceitar o convite foi “poder cumprir um sonho de criança” pois o seu “primeiro álbum foi um Lucky Luke” e desde então nunca deixou de o ler.
“Para além da enorme pressão que a herança de Morris impunha, o mais difícil foi criar os automatismos que todos os autores têm, os pequenos gestos que a personagem repete sistematicamente”, relembra. E se hoje são muitas as séries clássicas retomadas por outros autores, em 2003 “Lucky Luke foi pioneiro; ninguém sabia o que ia acontecer, como os leitores iam reagir, mas felizmente o público gosta do que faço”.
Recusa a existência “de um Lucky Luke de Morris e outro de Achdé”, mas aponta diferenças: “Morris foi influenciado pelo cinema do seu tempo e isso reconhece-se na sua forma de planificar e narrar. Hoje, imperam as séries de TV, por isso é o seu ritmo narrativo que se reflecte nas actuais aventuras. Se Morris tivesse continuado, o seu Lucky Luke seria semelhante ao meu”, assevera. “É preciso saber renovar dentro da tradição da série”.
Herdeiro dos grandes nomes da BD humorística, prefere este género “porque os tempos já são suficientemente difíceis para ler BD que preocupa ou entristece”.
Está muito satisfeito com a parceria com o argumentista Jul, no recente álbum, “Terra prometida”, que aborda temas complexos, como a emigração e os judeus, mas que tanto pode ser lido por uma criança como por um adulto”. Pela primeira vez desde que assumiu Lucky Luke, “a história tem dois níveis de leitura, como no tempo de Goscinny”, por isso não se importava “de continuar a trabalhar com Jul”, o que vai acontecer “pelo menos nos dois próximos álbuns”, sendo que no segundo “os Dalton deverão aparecer pela primeira vez” desde que desenha Lucky Luke.
O seu maior orgulho, é ver à sua frente “crianças com o álbum do cowboy em que aprenderam a ler ou leitores que evocam as várias histórias…”, por isso valoriza muito “o contacto pessoal” e não se imagina sem ele, como demonstrou na Comic Con Portugal na afabilidade e simpatia com que autografou os álbuns dos que esperaram pacientemente nas longas filas.
Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias