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“Sinto-me uma criança a contar histórias a outras crianças!”

Diz Artur Correia, autor do “Romance da Raposa” em BD

Chama-se Artur Correia, nasceu em Lisboa a 20 de Abril de 1932, tem uma vida dedicada à BD e ao cinema de animação e o pretexto para a conversa foi o lançamento recente do “Romance da Raposa”, baseado na obra de Aquilino Ribeiro.

Iniciou a carreira “aos 14 anos, no “Papagaio”, após o curso na Machado de Castro”, mas desde “os sete que copiava tudo o que era bonecada, influenciado pelo “Mosquito” que era mentor e substituía o cinema, enquanto influenciador da nossa fantasia”. No site que o filho lhe dedicou evoca que “na altura recebia 7$50 por ilustração e 20 escudos por página ou capa” e confessa que era um dos que “alargava os desenhos das histórias do Tim-Tim” (era assim que então se escrevia), “transformando uma prancha única numa dupla, para ocupar a página central”!
Autodidacta, com formação “baseada apenas no gosto pelo desenho, feita no contacto com mestres da BD e ilustradores”, conseguiu através da banda desenhada – “de que outra maneira poderia comunicar?” – suprir a necessidade de transmitir “pensamentos, humores, alegria, etc.”. A opção pelo traço humorístico e pelo tom infanto-juvenil surgiu da sua preferência por obras nesse estilo “com que alimentava aquela parte de criança que vive em nós”! É com ele que chega melhor às crianças, que adora, e revela que ao criar BD se sente “como uma criança a contar histórias a outras crianças”! O que fez no “Camarada”, “Cavaleiro Andante”, “Fagulha” ou “Pisca-Pisca”, em histórias como “As Aventuras de Dom João e Cebolinha”, “O Neto de Robin dos Bosques” ou “Madrepérola em vaso”. Ou, mais recentemente, nos álbuns “História Alegre de Portugal” ou “Super-Heróis da História de Portugal”.
Com uma passagem de quase 30 anos (1965-1994) pelo desenho animado, com estúdio próprio, o Topefilme, que foi forçado a fechar “por falta de encomendas”, reconhece que a animação o “influenciou enormemente na forma de fazer BD”, pois nela descobriu “as linhas de força” “plongés”, multiplanos, etc.”!
Aliás, o recém-editado livro – formato escolhido pela Bertrand Editora de que gosta, considerando que “os desenhos não perderam” – “Romance da Raposa”, tem origem na série de 13 filmes que realizou no final da década de 90, a partir do romance de Aquilino Ribeiro, e as personagens agora desenhadas “baseiam-se nas que foram criadas para o desenho animado” por si e por Ricardo Neto. É “uma obra fresquinha”, diz, cujas mais de 200 páginas lhe tomaram “um ano de trabalho gostoso, em que lutou afincadamente para a execução dessa obra de mestre Aquilino”.
Apontando a falta de revistas “que revelaram tantos autores e onde outros encontravam resposta ao seu talento”, como a principal razão para os tempos difíceis que a BD vive em Portugal, mantém “o amor por esta arte” e aponta como seu lema “terminar uma obra e começar outra, mesmo que não tenha encomenda!”. Por isso, trabalha já numa adaptação de “Shakespeare naquilo que ele tem de menos trágico”. E a finalizar, dos 70 anos de desenho que soma, guarda, para “além da coluna vertebral torcida”, como “melhor privilégio e compensação, a atenção tantas vezes dedicada” ao seu trabalho.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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