Que têm em comum o princípio da inexistência de movimento dos filósofos Zenão e Parménidas, os processos de criação em BD e a autobiografia? A(s) resposta(s) encontra(m)-se em “The three paradoxes” (Fantagraphics Books), no qual Paul Honrschemeier começa por reflectir sobre a criação em BD, quando não consegue definir uma sequência para a BD que cria. Abandona-a, por isso, para ir dar um passeio nocturno com o pai, a pretexto de fazer fotos dos seus lugares de infância para uma correspondente online, mas buscando a companhia (a segurança?) do progenitor.
Só que aqueles lugares trazem memórias – que Honrschemeier vai narrando, em histórias paralelas, de traço e estilo diferentes, que revelam diferentes influências gráficas até – vincando o carácter autobiográfico do livro. Nessas recordações aleatórias, ele procura as soluções de que a sua BD precisa, em avanços e recuos que não o convencem. E que mostram também a encruzilhada em que ele se encontra pois vai encontrar – finalmente – a tal correspondente, por quem já se apaixonou (?) numa antevisão optimista do encontro – na versão pessimista, ela traz uma faca para o matar…
“The three paradoxes” é, assim, uma narrativa sobre os processos da mente e a forma como eles condicionam a nossa percepção da realidade e um exercício no qual o autor joga com a forma e o conteúdo da obra que desenvolve (na sua BD e na realidade… da BD!).
Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias