De novo

Jacques Tardi, antes de ser um grande autor de BD, é um (fantástico) pintor da Paris da primeira metade do século passado. Por isso (também) adaptou aos quadradinhos muitos romances policiais franceses, ambientados lá. E, por isso, são em Paris, nos anos 1920, as aventuras da sua heroína fetiche, Adèle Blanc-Sec.
Criada em 1976, parcialmente publicada em português (pela Bertrand e pela Witloof), é outra das suas paixões, a que regressa ciclicamente, por mais que anuncie o fim das suas (extraordinárias) aventuras. Por isso, cada novo álbum/ciclo, é como que um regresso ao passado, em que reencontrámos não só Adèle, como também uma vasta, caricatural e estereotipada galeria de aliados e vilões, como na recente primeira parte de “Le labyrinthe infernal” (Casterman), o seu nono álbum, que, significativamente, começa com ela a exclamar: “Não vamos recomeçar eternamente com os mesmos disparates!”.
Mas a verdade é que tudo recomeça, com o tom assumido de farsa, numa evocação /homenagem aos folhetins populares de então, publicados na imprensa, numa aventura em que é claro que Tardi se diverte – e assim nos diverte a nós – ao voltar a envolver Adèle com pterodáctilos, monstros, sábios loucos, atentados e conspirações, num hábil emaranhar de pistas que, como sempre, deverá culminar (no próximo álbum?) num grande final operático, que resolverá tudo… até ao próximo regresso de Adèle!


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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