Astérix não mudou em 50 anos!

O riso é o mais importante em Astérix
Sinto-me orgulhoso por poder celebrar este meio século de amizade com os leitores!

Chama-se Albert Uderzo e nasceu em Fismes, na França, a 25 de Abril de 1927. Os 50 anos de Astérix, que se cumprem hoje, foram o pretexto para uma conversa por mail, na qual evocou com saudade o seu amigo René Goscinny, bem como o passado e o futuro do herói que juntos criaram.

Jornal de Notícias – Como apresentaria Astérix a alguém que não o conheça?
Albert Uderzo – Quer dizer que ainda há leitores irredutíveis? (risos) Astérix é um valoroso guerreiro gaulês, não muito grande nem muito inteligente, mas astuto e desenrascado! Ele e os outros habitantes da sua aldeia só têm medo de uma coisa: que o céu lhes caia na cabeça! Sempre em companhia do seu fiel amigo Obélix e de Ideiafix, o seu cão, percorrem o mundo antigo para socorrerem as vítimas dos romanos. Para lhes darem uns ”tabefes” precisam de uma preciosa poção mágica preparada pelo druida Panoramix que lhes confere uma força sobre-humana e lhes permite alcançar todas as vitórias, que festejam sempre com um grande banquete!
JN – Como seria Astérix se fosse imaginado hoje?
AU – Como já é! Ele mudou muito desde a sua criação: cresceu, os seus traços afirmaram-se e a sua personalidade também! Obélix também mudou: a sua estrutura, algo quadrada nos ombros, atenuou-se em benefício da barriga, que cresceu! Todas as personagens evoluíram e estão muito bem neste tempo!
JN – Nos últimos 50 anos quem mudou mais? Astérix, o mundo ou Uderzo?
AU – Tenho que reconhecer que quem está mais marcado é este seu criado! Como diz a canção: Onde estão os meus 20 anos? Quanto ao mundo, não me parece que tenha mudado assim tanto e a prova é que os álbuns que escrevi com o meu amigo René Goscinny continuam a divertir muitos! Astérix não mudou! Não pode mudar, o seu mundo é imaginário! Não pode envelhecer: 50 anos depois, continua a viver em 50 a. C.!
JN – Que qualidades permitiram a Astérix resistir tanto tempo, com um sucesso sempre crescente?
AU – Talvez porque se manteve sempre num mundo de papel, aos quadradinhos! Um mundo que lhe permite defender e preservar sempre os mesmos valores, a sua aldeia, as amizades e os prazeres simples (a caça, os banquetes, etc…) E nós, autores, quisemos sempre preservar esses valores na série, com um ingrediente suplementar: o riso, que é o mais importante!
JN – Quais foram os momentos mais marcantes deste percurso de 50 anos?
AU – Houve tantos! O primeiro, foi sem dúvida o meu encontro com Goscinny, em 1951, porque sem ele, não teríamos criado a personagem! Depois, em 1959, quando imaginámos Astérix pela primeira vez, para a revista “Pilote”. E, evidentemente, quando tomámos consciência que se transformara num verdadeiro fenómeno, ao ouvir um homem na rua a chamar ao seu cão Astérix! O mais triste foi o desaparecimento prematuro do meu amigo René, que me deixou arrasado. E ainda, hoje, o cinquentenário desta personagem que, para meu grande prazer, continua a divertir pequenos e grandes. Sinto-me orgulhoso por poder celebrar este meio século de amizade com os leitores!
JN – Se pudesse voltar atrás, o que gostaria de mudar?
AU – A partida de René. Foi-se demasiado cedo e de uma forma demasiado violenta. Sinto muito a sua falta. De resto, não mudaria nada desta aventura gaulesa!
JN – Qual é o seu álbum de Astérix preferido?
AU – Tenho um carinho especial por “Astérix entre os Bretões”, porque adoro o trabalho que o René fez com a língua inglesa! Mas quando termino um álbum, raramente o releio; parto logo para o seguinte!
JN – Que história de Astérix ainda não contou?
AU – Todas as que ainda não foram escritas. E talvez aquela em que penso para a próxima vez! (risos) Já na época de René tínhamos a sensação de termos explorado todos os temas que podíamos desenvolver com Astérix. Hoje, o problema é o mesmo, Astérix já viajou por todo o mundo antigo conhecido e é muito difícil fazê-lo descobrir novas regiões!
JN – Porque é que Astérix nunca veio à Lusitânia?
AU – Eis uma bela ideia para uma viagem! Agora só tenho que encontrar a intriga (risos)!

[Caixa]

Enquanto puder segurar um lápis, não cederei o meu lugar a ninguém!

No passado dia 22, foi posto à venda em duas dezenas de países (Portugal incluído), o 35º álbum das aventuras de Astérix. Intitulado “O aniversário de Astérix e Obélix – O livro de Ouro”, teve uma tiragem global de 3,5 milhões de exemplares e funciona como um momento de celebração da série.
JN – O álbum dos 50 anos é diferente dos outros…
AU – Para este aniversário queria algo especial. Um álbum onde todos os amigos de Astérix e Obélix lhes testemunhassem a sua amizade e lhes oferecessem uma prenda! Ao mesmo tempo presto uma homenagem a todos os leitores que seguem Astérix há tanto tempo! Então, imaginei uma espécie de álbum de recordações! É um conjunto de histórias curtas, todas com a temática do aniversário, que contam a preparação de todas essas prendas.
JN – Foi o último desenhado por si?
AU – Meu Deus, espero que não! Enquanto puder segurar um lápis, pode acreditar que não cederei o meu lugar a ninguém! É verdade que Astérix continuará depois de mim, já o anunciei e já trabalho com aqueles que me devem suceder, mas isso tem tempo!
JN – Vai deixar argumentos escritos para os seus sucessores?
AU – Ainda não pensei nisso e não preparei nada nesse sentido.
JN – Como imagina Astérix depois de Uderzo?
AU – Já houve um Astérix depois de Goscinny e espero que haja um depois de mim. Como o imagino? Espero que continue a divertir milhões de leitores em todo o mundo.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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