Quadradinhos valem milhares

Revistas de banda desenhada que fizeram as delícias de gerações são procuradas pelos coleccionadores

Se em Portugal não há edições que atinjam o milhão e meio de dólares pagos há dias pela Action Comics #1 onde nasceu o Super-Homem, colecções de títulos marcantes como o Papagaio, o Mosquito, ou o Cavaleiro Andante podem render alguns milhares de euros.




Para fazer uma estimativa desses valores, o JN contactou alguns dos principais livreiros do sector, que desde logo salvaguardam as devidas (e enormes) distâncias existentes entre o meio nacional e o norte-americano, a todos os níveis. O que não quer dizer que alguns títulos não façam alguns perder a cabeça em negócios que podem chegar às dezenas de milhares de euros. Por isso um coleccionador, para além de ter sempre disponíveis “uns trocos no bolso”, o que é complicado em tempos de crise, tem de ser dotado de grande paciência num negócio em que não há cotações fixas, pois estão dependentes do estado de conservação das peças, da oferta e da procura.



Assim, por exemplo, uma colecção completa do Papagaio (722 números), bastante difícil de se encontrar, pode valer uns 5 mil euros, revelou José Manuel Vilela, da Livraria do Duque, em Lisboa. No entanto, como esta revista, dirigida por Adolfo Simões Müller, foi a primeira a publicar em todo o mundo as aventuras de Tintin a cores, os números em que o repórter aparece na capa, muitas vezes desenhado por autores nacionais, ou com o colorido criado em Portugal e nunca mais utilizado, têm grande procura por parte de belgas e franceses, podendo ser transaccionados por 20 ou 30 euros cada um, acrescenta Alberto Gonçalves da Timtimportimtim, no Porto. Nos últimos anos, são também bastante valorizados, por pessoas que vêm de fora da BD, de áreas como o design ou a pintura, as revistas que incluem histórias aos quadradinhos criadas por artistas agora conceituados como Júlio Resende, Stuart Carvalhais ou Júlio Gil. Aliás, vendem-se mais números soltos para completar colecções ou substituir edições em pior estado, do que colecções completas, cada vez mais difíceis de aparecer, refere a livraria Chaminé da Mota, no Porto, onde há muitas listas de espera.



Outras revistas das décadas de 30, 40 e 50 do século passado, a Época de Ouro das publicações infanto-juvenis em Portugal, atingem também valores considerados interessantes: é o caso do Diabrete (887 números) e do Cavaleiro Andante (556), transaccionados por cerca de 3000 euros, ou do Camarada (194) por metade daquele valor. O Mundo de Aventuras, espalhado por quase quatro décadas, cinco séries e mais de 2 mil números é, por isso, difícil de cotar. Mais valorizada, é a mítica revista Mosquito (1412 edições), que fez as delícias dos miúdos nas décadas de 30 e 40, cujas cerca de 50 colecções existentes no país, na estimativa de José Vilela, podem valer até 7500 euros. Mas, segundo José Oliveira, do site BDPortugal, que lista metade dos 60 mil títulos de BD editados desde sempre no nosso país, estas colecções têm vindo a perder valor, porque muitos coleccionadores procuram os títulos que leram na infância e juventude e a geração do Mosquito, por exemplo, tem hoje para cima de 70 anos.



Por isso, compreende-se que na livraria portuense Paraíso dos Livros as colecções mais procuradas actualmente sejam as do Tintin (728 números, cujo valor pode chegar aos 1500 euros) e do Jornal do Cuto (174 números, 500 euros), pois são datadas dos anos 70, tendo sido lidas pela geração que conta hoje 40 anos.



Valores semelhantes aos citados encontram-se com alguma facilidade na Internet, em sites especializados, ou então algo inflacionados em sites de leilões, onde com regularidade surgem números soltos destas e de outras publicações.

E numa época em que as revistas praticamente desapareceram, substituídas pelos álbuns, os valores atingidos por estes estão longe de ser tão atractivos. Mesmo assim, há títulos da Meribérica/Líber (das séries Blueberry ou Valérian), dos anos 80, que já ultrapassam os 100 euros, e as poucas edições dos Álbuns do Camarada, dos anos 60, estão cotadas próximas dos 300 euros, pertencendo a uma delas – Clorofila e os Quebra Ossos – o recorde de venda: 575 euros.

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Raridades fazem disparar preços

Tratando-se de colecções que duraram por vezes mais de uma década e atingiram centenas de números, há alguns mais raros, normalmente os primeiros, mais antigos, e os últimos, correspondentes à fase de declínio, de tiragem menor.



Mas há excepções como o número de Natal de 1938 do Papagaio, devido à separata com uma BD completa de Júlio Resende, o Mundo de Aventuras (1º série) #1 a #44, devido ao seu formato tablóide em papel de jornal, de difícil conservação, ou o quinto volume da Colecção Audácia (apenas 32 números) que triplica os 500 euros dos quatro tomos iniciais.



E há também dois casos paradigmáticos citados por todos os livreiros contactados. As edições #73 e #74 do Gafanhoto, dos anos 1940, foram impressas mas não distribuídas, por terem sido alvo de um auto de apreensão (cuja razão é desconhecida) executado pela Polícia Judiciária, e de que se conhecem pouquíssimos exemplares que, por esse motivo, não têm cotação. O outro é a Fagulha #391, que deveria ter chegado aos quiosques logo após o dia 25 de Abril de 1974; como era uma publicação da Mocidade Portuguesa foi destruída, juntamente com muitas outras edições, existindo apenas os exemplares que já tinham seguido por correio para os assinantes. Desta forma, se os números #1 a 390# são cotados em cerca de 1000 euros, é conhecido o caso de uma colecção com o #391 que foi vendida por 1500 euros.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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