BD nacional cresce à margem das grandes editoras

O lançamento de uma dezena de títulos durante o VI Festival de BD de Beja, em pequenas editoras ou edições de autor, veio reforçar uma evidência dos últimos anos: a vitalidade da 9ª arte nacional faz-se fora das grandes editoras.

Essa era já a tese defendida por Paulo Monteiro, director do festival que decorre até domingo, ao definir ao JN “a BD portuguesa como um fabuloso caldeirão de estilos e tendências em que os autores fervilham de criatividade e todos os anos surgem projectos assombrosos!”, embora lamentando que “muitos não consigam a visibilidade merecida”.
Exemplo paradigmático é “A Fórmula da felicidade” (Kingpin Books), aplaudido pela crítica, mas cuja tiragem do tomo 2 não chega a 500 exemplares. Nuno Duarte, das Produções Fictícias, o seu argumentista, afirma que “não havendo”grandes” editoras de BD em Portugal, as “pequenas” são uma alternativa interessante, pela liberdade temática, estilística e de formato que permitem”, corroborado por Miguel Rocha, que em Beja lançou “Hans, o cavalo cansado” (Polvo), ao dizer que assim tem “maior controle sobre o processo”.
Já João Tércio, autor de “Março Anormal” (El Pep), acredita que “as grandes editoras preferem editar clássicos e talentos já confirmados”, avançando David Soares, argumentista e romancista (“Mucha”, “O Evangelho do Enforcado”) que “tal não acontece apenas no mercado de BD”.
Herdeiros dos antigos fanzines policopiados (no espírito, não na forma, porque as novas tecnologias permitem qualidade profissional), “Zona Gráfica”, “Venham +5” (Bedeteca de Beja) ou “Seitan Seitan Scum” (El Pep+Chili Com Carne), face à inexistência de revistas especializadas, querem ser uma montra para os “mais novos ou inexperientes, mas com trabalhos de qualidade e boa margem de progressão” revela Fil, um dos responsáveis pela Zona, que nas suas páginas acolhe também Filipe Andrade, actualmente a trabalhar para a Marvel. Nestes casos, completa Monteiro, “a edição constitui um incentivo à produção”. Com as mesmas prerrogativas, “Há sempre um eléctrico que espera por mim” (Bedeteca de Beja), de André Oliveira e Maria João Careto, distingue-se por “ousar” explorar de forma ficcionada o período anterior ao 25 de Abril.
E se Tércio vê o futuro ”dos autores de BD, negro, como é habitual”, apontando “o Brasil como um mercado a explorar”, Miguel Rocha considera “interessantes os novos formatos de distribuição electrónicos”, que Nuno Duarte aponta como “possibilidade para as pequenas editoras se implementarem mais”, pensando David Soares que vai aumentar o número dos “que publicam directamente lá fora”.
Em jeito de conclusão, Paulo Monteiro defende que só “uma visão estratégica global, que congregue mais gente em torno da BD” e “estabeleça um plano de divulgação e leitura” lhe permitirá crescer para além do seu nicho habitual.

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Revistas

Limitado pelas mesmas condicionantes, o BDJornal (pedranocharco), (a)periódico dedicado ao estudo e análise da BD, no seu nº 25, destaca Hermann, Civitelli e Hugo Teixeira. Quanto à nova revista semestral, “The Lisbon Studio Mag”, tem por objectivo servir de montra e portfolio para os 19 autores que formam aquele estúdio, entre os quais Jorge Coelho, Ricardo Tércio ou Rui Lacas, já publicados nos EUA e em França.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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