O autor Paulo J. Mendes estará presente e falou com o JN sobre o livro
A cafetaria com livros Dona Mira acolhe este sábado, dia 11, às 17 horas, o autor Paulo J. Mendes e o editor da Escorpião Azul, Jorge Deodato, para a apresentação do romance gráfico “Elviro”.
Lançado em Outubro último no Amadora BD, “Elviro” fala-nos da extinção de uma linha de eléctricos na pequena localidade balnear de Nalgas de Mar, dos problemas conjugais entre o protagonista e a esposa, de um encontro de amigos dos transportes ferroviários e um congresso de mirones.
Aproveitando este ‘regresso’ a casa do autor, o Jornal de Notícias conversou com ele, para tentar perceber quem é afinal o protagonista. Segundo Paulo J. Mendes, “Elviro é uma pessoa simples, um normal cidadão de meia-idade a quem aconteceu ter uma paixão por velhos veículos de transporte público, sobretudo eléctricos, provavelmente resultante de viagens e experiências na infância, e que é o seu hobby e o tempero dos seus dias”.
Dias que passa dividido entre os eléctricos e a mulher, pois “gosta de ambos, mas de maneira diferente” diz o autor. E esclarece: “enquanto a paixão pela mulher se dilui na rotina dos dias, a dos eléctricos é constantemente avivada pela novidade, sobretudo na época de grandes mudanças em que a história se situa. Claro que uma ‘balança comercial’ tão desequilibrada não poderia senão originar uma postura reclamante e impaciente do lado matrimonial e a conflitualidade daí resultante”.
A banda desenhada, bem disposta e recheada de surpresas, começa quando ambos chegam a Nalgas de Mar, a tempo de Elviro participar na última viagem do último eléctrico. O detalhe e rigor expressos na narrativa, não surpreendem, sabendo-se que a história se baseia num “episódio que ocorreu em Espanha no início dos anos sessenta, quando aquele país importou troleicarros que Londres estava a descartar, para distribuir por várias cidades, nalguns casos substituindo pitorescas linhas de eléctricos”. E prossegue, confessando que “o facto de partilhar com o Elviro muito do interesse por este tema acaba por funcionar como elo de ligação entre Nalgas e o Porto”, pois “na época em questão e nas décadas que se seguiram ocorreram extinções de linhas de eléctricos um pouco por todo o mundo, sendo que podemos estabelecer algum paralelismo com o caso do Porto, que ainda vivenciei, e o de outras cidades portuguesas”.
Para além da afluência dos apreciadores de eléctricos e comboios, Paulo J. Mendes agenda para a mesma altura, com resultados muito divertidos, um Congresso de Mirones, “ideia inspirada numa cena de “Nem Guerra nem Paz”, um filme de Woody Allen, em que numa malaposta viaja o tolo da aldeia que vai participar num congresso de tolos…”
Depois de em “O Penteador”, livro de estreia de Paulo J. Mendes, os protagonistas passarem o tempo entre jantaradas e corridas nus pela pacífica localidade de Poço Redondo, em “Elviro” voltamos a encontrar muitas refeições em grupo e convívios entre amigos. O desenhador nega que isso “seja um reflexo, pelo menos consciente, do tempo de pandemia”, até porque “o primeiro livro foi dado à estampa uma semana antes de nos mandarem para casa”, mas reconhece que criar “Elviro” ocupou “boa parte do tempo de clausura”, o que se reflecte “no ambiente de sol e praia, algo que ansiava fervorosamente nesses dias cinzentos”.
E depois de Poço Redondo e de Nalgas de Mar, onde nos vais levar o autor? Sem levantar muito o véu, adianta estar “com dois projectos de registos diferentes, um deles com argumento de um amigo” e que ambos estão já “na fase de storyboard”. O primeiro “por se situar em cenários reais, obriga a um planeamento e pesquisa mais cuidados e demorados, pelo que avança mais devagar do que o segundo”. Este último “tem um pouco dos ingredientes e humor dos trabalhos anteriores, quiçá um pouco mais negro e cruel aqui e ali. Vai-nos levar a uma vila do interior e haverá incursões ao passado, velhas casas cheias de memórias, centros comerciais decrépitos, empreiteiros gananciosos e homofóbicos, uma arte marcial absolutamente inovadora e…”
E o resto fica para outra vez, pois Paulo J., Mendes confessa ainda não saber “como vai acabar esta autêntica bandonovela” nem quando estará pronta, embora tema “que decorrerá muito tempo até podermos ler as duas histórias”.
Este sábado, a partir das 17 horas, estará no Dona Mira, na Rua Duque de Saldanha, 431, para mostrar os originais de “Elviro”, conversar com os seus leitores e para uma sessão de autógrafos.
Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias