A nova BD infantil

Obras para os mais novos despertam interesse crescente

Adéle, Ariol, Olívia, Bia… são alguns dos heróis e heroínas da nova BD infantil.
Longe vai o tempo em que os mais pequenos começavam pelas revistas Disney ou da Turma da Mônica, que pululavam nos quiosques portugueses. A última experiência com a BD Disney em português terminou em 2018, com a insolvência da editora Goody e, se as revistas de Maurício de Sousa continuam a chegar a Portugal, têm distribuição limitada e os mais novos não se sentem à vontade com a língua brasileira. Por isso, tal como os adultos, os pequenos leitores de BD – ou os pais por eles – têm que recorrer aos álbuns.
Filipa Casqueiro, responsável pela área infanto-juvenil da Penguin Ramdom House portuguesa, lembra que “a banda desenhada sofreu durante muito tempo com o preconceito de ser leitura menor”; com as actuais apostas, a editora pretende “mostrar precisamente o contrário; são leituras divertidas e de qualidade, que podem atrair crianças menos motivadas para a leitura e desenvolver novos leitores”. Rita Moura, da Jacarandá, acrescenta que “as bandas desenhadas para os mais novos têm tido um interesse crescente”, o que é complementado por Ana Pais, da Bertrand, ao afirmar que a editora “tenta acompanhar os sucessos e tendências internacionais nas áreas do livro infanto-juvenil”.
Isso explica a escolha de “A Incrível Adéle”, sucesso de vendas e de público infantil em França, devido ao “perfil irreverente e inovador da sua protagonista”, retrato perfeito da criança terrível e provocadora, sempre à procura do próximo disparate ou da resposta desafiadora seguinte. Noutro registo, ancorado no quotidiano infantil real, com a escola, as amizades, as paixões infantis, os pais divorciados ou as férias, surge “Ariol”, aposta recente da Jacarandá, “uma personagem muito simpática e universal” que, como reflexo da atenção que os mais novos têm no mercado francófono, tem argumento de Emmanuel Guibert, distinguido com o Grande Prémio de Angoulême, em 2020.
Quanto a Olívia, colecção completa em quatro volumes com a chancela da Booksmile, combina o imaginário infantil, animais falantes e magia, com questões mais candentes, como a defesa do planeta ou a união familiar.
Se todas estas propostas são mais vocacionadas para crianças a partir dos 7 anos, tal como “Bia e o Unicórnio”, para referir uma das paixões mais fortes das meninas, ou “Big Nate” e “Loud em Casa”, vocacionadas para rapazes, o catálogo da Penguin Random House também contempla “as primeiras leituras”, lembra Filipa Casqueiro. É o caso de “Narval e Alforreca”, “Flora e Bambu” ou “Raposa e Coelho” que, a par de um grafismo atractivo e uma planificação menos sobrecarregada, propõem histórias com algum humor e argumentos simples e facilmente compreensíveis, revelando-se “ferramentas úteis e valiosas para os primeiros leitores, já que este género pode contar histórias e transmitir valores importantes”.
Na oferta para os mais novos, destacam-se outros títulos, com características diferentes. “Homem-cão”, protagonizado por um ser metade homem, metade cão, que combate o crime, surgido na senda do sucesso do “Capitão Cuecas”, do mesmo autor, Dav Pilkey. Já as aventuras de “Ideiafix e os Irredutíveis”, que colocam o cão gaulês e outros animais, em Lutécia, tentam replicar o sucesso de Astérix e Obélix, piscando assim o olho também aos pais e fazendo a ponte com a versão animada, como tantas vezes acontece com as propostas para estas idades.
Com a certeza de novos volumes de algumas destas séries e de outras novas, nos próximos meses, o importante é manter os mais novos entretidos, com um livro nas mãos.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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