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José Luís Salinas nasceu há 100 anos

Autor argentino foi o desenhador de “Cisco Kid”, o cowboy romântico; “Dick o Goleador”, outra das suas criações, foi publicado nas páginas do JN

José Luís Salinas nasceu há 100 anos, em Buenos Aires, no bairro Flores. Se o seu nome pouco dirá à maioria das pessoas, com certeza despertará outras recordações se for associado a duas das suas mais famosas criações. Aos leitores do JN, serve a informação de que o criador gráfico de “Dick, o goleador” (ver caixa). E, nas páginas da revista “Mundo de Aventuras”, cavalgou durante muitos anos a maior criação de Salinas, “Cisco Kid”, o cowboy que se distinguia por ser mexicano, um galã e por primar no bem vestir, sempre acompanhado pelo também mexicano Pancho, cujo aspecto rechonchudo e carácter implicativo constrastam com o porte atlético e os modos gentis de Cisco.
Esta obra, nascida em 1951, marcou também uma mudança profunda na carreira do desenhador, que deixara o seu país natal dois anos antes para ir para os Estados Unidos, onde se tornou o primeiro argentino a trabalhar para o poderoso Kyng Features Syndicate. Os argumentos de “Cisco Kid” eram de Rod Reed e tinham como ponto de partida um conto de O. Henry intitulado “The Caballero’s Way”, levado ao cinema, em 1929, com tal sucesso, que deu origem a um sem número de aventuras. Sucesso que se estendeu à BD, tendo a série sido publicada simultaneamente em cerca de 400 jornais de todo o mundo. Salinas, que entretanto regressara à Argentina, assinou este western até 1968, na fase final com o auxílio do seu filho Alberto Salinas, também autor de BD.
Da sua bibliografia merecem também destaque “Hernán, el corsário” (1936), a sua primeira história aos quadradinhos, ou as adaptações que fez nas décadas de 30 e 40 de clássicos de Alexandre Dumas, Ridder Hagard ou Emilio Salgari.
José Luís Salinas, distinguido em 1976 com o Yellow Kid do Festival de Lucca, Itália, pelo conjunto da sua obra, viria a falecer a 10 de Janeiro de 1985, um ano depois de ter sido declarado “Cidadão Ilustre” pela cidade de Buenos Aires.

[Caixa]

Dick, o goleador

“Dick, o goleador” (“Gunner”, no original), desenhado por José Luís Salinas em 1971, a partir de guiões do também argentino Alfredo Grassi, foi presença diária nas páginas do JN, durante alguns anos, no final da década de 70. Apesar de só o ter assinado durante pouco mais de um ano – Dick foi depois entregue a Lucho Oliveira, Tobias e Andrew Klacik – Salinas deixou como marcas o seu traço auto-didacta, pormenorizado, expressivo e dinâmico, que serviu às mil maravilhas esta tira diária sobre um craque de futebol sul-americano que, com os seus dois amigos Jeff e Poli, também jogadores, experimentou grandes sucessos dentro das quatro linhas e viveu movimentadas aventuras de cariz policial fora delas.
Em Portugal, ainda, a revista “Mundo de Aventuras”, rebaptizou-o “Dick, o avançado-centro” e publicou várias das suas histórias na sua 5ª série, na mesma altura em mais tarde, em 1986, a Editorial Futura lançaria, uma recolha, desta vez intitulando-o “Dick, o campeão”, na sua colecção “Aventuras”.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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BD argentina e asiática em destaque em Angoulême

Principal festival europeu de banda desenhada começa amanhã em França

Começa amanhã, quinta-feira, o 35º Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, França, o mais importante certame europeu do género.
Do ponto de vista formal, há dois aspectos a realçar: por um lado, o regresso das enormes feiras de BD ao centro da cidade, após a infeliz experiência do ano transacto que nos arredores; depois, a substituição do anterior patrocinador, os hipermercados Leclerc, por uma parceria entre a FNAC e a SNCF (caminhos de ferro franceses) que triplicarem o investimento (500 mil euros) e instituíram um prémio.
Quanto à programação, o principal destaque vai para a retrospectiva da banda desenhada argentina, na perspectiva do virtuoso do preto e branco José Muñoz, presidente do festival este ano por ter sido distinguido com o Grande Prémio da Cidade em 2007, que é uma homenagem sentida à 9ª arte do seu país natal. Também apetecíveis são “Cidades do futuro”, que ilustra como têm sido (ante)vistas nos quadradinhos as metróploles do futuro, a exposição consagrada ao filme de animação Persépolis, de Marjane Satrapi, e a retrospectiva dos 35 autores já contemplados com o Grande Prémio do festival.
Os manga, (bd japonesa), com importância crescente no mercado francófono, estão representados numa grande exposição do colectivo Clamp. No que respeita à BD asiática, haverá igualmente uma forte presença chinesa, no seguimento do protocolo estabelecido há dois anos com o Festival de BD de Xangai, concentrada num enorme pavilhão e numa delegação de mais de 50 pessoas, encabeçada pela vice-primeira ministra chinesa da Cultura, e com autores como Jidi e Yao Feila.
A reter ainda, entre muitas outras mostras, como habitualmente com as mais diversas temáticas e espalhadas por toda a cidade, as monográficas de Sérgio Toppi, Luciano Bottaro, Ben Katchor, Moebius e Hermann, bem como a realização das 24 horas de BD, que reunirá 24 autores durante um dia completo frente ao desafio de criarem uma BD de 24 páginas, e os encontros internacionais, nos quais o público tem oportunidade de dialogar com grandes nomes da 9ª arte.
No que respeita ao palmarés de festival, se a crítica especializada aponta na lista dos títulos pré-seleccionados a ausência das obras mais populares de qualidade, como “XIII”, nas quais assenta muito do mediatismo e do sucesso financeiro do género no mercado franco-belga, destaque para o novo prémio que contemplará uma BD criada em blog.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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