Lupin the IIIrd (1 e 2 de 5)
Monkey Punch
Mangaline Edições
600 pp., pb, 12,50 €
Avril Lavigne – Pede 5 desejos (1 de 2 )
Joshua Dysart (argumento) e Camilla d’Errico (desenhos)
Gradiva
154 pp, cor, 12,50 €
Estamos no século XXI. Toda a Europa foi invadida pelos manga (banda desenhada japonesa)… Toda? Não! Um pequeno rectângulo à beira-mar plantado, resiste ainda e sempre, orgulhosamente, ao invasor. Mas, ao contrário de Astérix e demais gauleses, a resistência portuguesa de vez em quando abre brechas e o invasor consegue penetrar neste mercado pequeno e inconstante, pouco apetecível para os editores nipónicos habituados a números com muitos zeros.
Caracterizados por terem centenas ou milhares de páginas, personagens de olhos grandes, muitas linhas indicadoras de movimento e privilegiarem a acção ao diálogo, os manga têm neste momento dois títulos em curso de edição entre nós. A Mangaline – formada exclusivamente para a edição de manga – recentemente voltou com um clássico com 40 anos, “Lupin the IIIrd”, um manga de acção e humor, inspirado no célebre ladrão de casaca francês, Arséne Lupin, quanto aos roubos espectaculares e impossíveis, e em James Bond, para a tecnologia avançada, as perseguições frenéticas e a presença recorrente de belas mulheres. Protagonizado por Lupin, um gangster cáustico e impiedoso e um sedutor irresistível, sempre um (ou mais) passos à frente da polícia ou dos seus inimigos, tem a coadjuvá-lo uma galeria, curta mas rica, de personagens secundárias, que tem à cabeça o incompetente inspector Zenigata, que alguém equiparou ao desajeitado Clouseau. Numa edição que merecia ter sido mais cuidada, no que à impressão e tradução diz respeito, e que mantém o sentido original de leitura, da direita para a esquerda e do “fim” do livro para o “princípio” – por isso tantos exemplares são expostos com a anónima contracapa para cima! – “Lupin the IIIrd” apesar de datado nalguns aspectos (desde logo no contido erotismo – sempre são 40 anos…), conta com argumentos leves e divertidos e decorre em bom ritmo graças ao desenho ágil e vivo e à planificação dinâmica.
Quanto a “Pede 5 desejos” é quase um paradoxo: se por um lado exemplifica algo cada vez mais vulgar nos EUA e França, devido à popularidade dos manga junto do público feminino (algo que os comics de super-heróis e a BD franco-belga nunca conseguiram) e dos adolescentes, a criação de manga – enquanto um género com características próprias – por autores ocidentais, por outro lado acaba por só se aproximar dos quadradinhos japoneses pelo desenho, simpático e expressivo, já que, narrativamente, segue modelos ocidentais, devido ao ritmo apropriadamente lento que lhe permite desenvolver e aprofundar o carácter de cada interveniente.
Equiparável ao shojo (manga destinado ao público juvenil feminino), cola-se à popularidade de Avril Lavigne, inspiradora do projecto e personagem enquanto amiga imaginária da protagonista, Hanna, e à temática das suas canções – as dificuldades de vida dos adolescentes – para traçar um retrato realista da enorme solidão que boa parte dos jovens vivem nos nossos dias, perdidos em frente a ecrãs (de TV, computador, telemóvel…), onde assumem identidades e vidas que não passam de sonhos ou ilusões, mas incapazes de um relacionamento normal com seres humanos de carne e osso. Hanna vive assim, solitária, fechada sobre si própria, até que a encomenda num site de um pequeno demónio que, qual lâmpada de Aladino, lhe pode conceder 5 desejos, muda a sua vida. Mas é este toque de fantástico que a torna mais real, levando-a a falhar quando se esforça por acertar, descobrindo-se quando se aproxima dos outros, procurando oferecer aos que a rodeiam a felicidade que deseja para si, hesitando entre o altruísmo e o egoísmo na concretização dos tais cinco desejos.
Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias