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Civitelli: “Para Tex a vida começa aos sessenta anos”

Chamam-se Fabio Civitelli e Marco Bianchini, têm em comum serem italianos e desenhadores de Tex. Antes de virem comemorar os 60 anos do ranger este fim-de-semana no Festival de BD da Amadora, o Jornal de Notícias disparou-lhes algumas perguntas.
A exposição de Tex, a primeira fora de Itália com pranchas originais, promete ser um dos pólos de atracção do último fim-de-semana do 19º FIBDA, que está a decorrer no Fórum Luís de Camões, subordinado ao tema “Tecnologia e Ficção-cientifica”, o que origina a primeira questão: “Tex ainda faz sentido no mundo actual?” Civitelli, 53 anos, há 24 a desenhar o ranger, acha que sim porque “encarna valores que não têm época: o desejo de justiça, a consciência da igualdade entre os homens e a capacidade de os julgar apenas pelo seu comportamento”. A isto, Bianchini, 3 anos mais novo, recém-estreado como desenhador de Tex, acrescenta o “facto de o Oeste ainda hoje representar a aventura e uma fuga da rotina quotidiana”, afirmando que “a firmeza de Tex nos transmite sensações positivas”.
Civitelli considera que Tex, 60 anos depois da sua estreia, perdeu “a musicalidade da linguagem bonelliana”, defendendo o regresso “ao Tex duro e puro de G. L. Bonelli”, pois “hoje ele é menos impetuoso, mais reflectido, às vezes até menos protagonista; ”. Bianchini, por seu lado, contrapõe que “gostaria muito de encontrar personagens femininas nas suas aventuras, porque isso traria novos cenários e adversários difíceis de prever; seria interessante ver como Tex enfrentaria uma mulher, ele que está acostumado a resolver tudo com os punhos!”. Civitelli discorda pois “os nossos leitores dificilmente aceitariam modificações radicais. Na edição dos 60 anos, a cena do beijo entre Tex e Lilyth, por alguns foi vista como uma heresia, uma traição ao Tex dos velhos tempos!”
Considerando “um sonho” desenhar Tex após 20 anos na casa Bonelli, Bianchini, também professor na Escola Internacional de Comics de Florença, revela que o seu Tex se inspirou em desenhadores como “Ticci, Villa, Venturi ou Civitelli”, classificando-o como “tradicional, na melhor tradição da BD realista mundial que se formou entre os anos 70 e 90.”, contrapondo-o ao Tex “moderno, de leitura agradável e feito com extremo apuro” de Fábio Civitelli.
Este último, que já propôs “alguns argumentos, que Claudio Nizzi transformou em guiões”, admite que gostaria de desenhar uma história totalmente escrita por si. O seu traço foi “fortemente inspirado no Tex inovador de Ticci, por sermos ambos admiradores de desenhadores clássicos americanos como Alex Raymond e Milton Caniff. Mas depois de tantos anos o meu estilo suavizou-se; tento desenhar Tex da forma que o vejo: bem constituído mas não gigante, ágil mas forte, com uma expressão dura mas com um lampejo de ironia nos olhos e um meio sorriso de quem está seguro de si e das suas razões”. Do Tex desenhado por Bianchini, realça a renovação de “certas temáticas mágicas e misteriosas, com belas cenas de acção, mas sobretudo sugestivas atmosferas misteriosas e inquietantes”.
Autor escolhido para desenhar “Sul sentiero dei ricordi”, a BD a cores que assinalou os 60 anos do herói, considera-a “um momento muito marcante na minha carreira e uma etapa importante para Tex. Podemos dizer que para Tex a vida começa aos sessenta anos!”


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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