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Tex tem 60 anos

É o mais duradouro western dos quadradinhos; Edição a cores e reedição do único romance que protagonizou assinalam data; Jornal do Vaticano dedicou amplo espaço à criação de Bonelli e Galep; Blog português homenageia herói com conto literário de Jorge Magalhães e Augusto Trigo

1948, 30 de Setembro, um homem espreita por detrás de umas rochas. A roupa identifica-o como cowboy, nas mãos tem duas pistolas prontas a utilizar e, mais tarde, saber-se-á que se chama Tex Willer. Assim se iniciava o mais duradouro western da história da banda desenhada, então protagonizado por um fugitivo da justiça que viria a tornar-se um ranger do Texas e também chefe dos navajos, como “Águia da Noite”. A história, intitulada “Il Totem Misterioso”, da autoria de Gianluigi Bonelli (texto) e Aurelio Galleppini (desenhos), aparecia na “Collana del Tex”, uma publicação com um estranho formato alongado, com apenas uma tira por página.
Era o princípio de uma lenda, que marcaria gerações e definiria um género, os “fumetti”, a banda desenhada italiana, de características populares (preço baixo, papel de qualidade inferior, formato médio, impressão e preto e branco, histórias com duas ou três centenas de páginas), combinando relatos ficcionais com muita acção e uma sólida base histórica. E dava origem a um verdadeiro império dos quadradinhos em Itália, mais tarde alargado a criações como “Dylan Dog”, “Martin Mystère”, “Mágico Vento” ou “Júlia”, mas sempre alicerçado na imensa popularidade de Tex que, nalguns períodos chegou a vender mais de um milhão de exemplares mensais, chegando depois aos quatro cantos do mundo. A Portugal, as suas aventuras cujo protagonismo compartilha quase sempre com Kit Carson e, por vezes, com Jack Tigre e o filho Kit, chegam desde os anos 70 via Brasil, agora em edições da Mythos Editora que cativam três a quatro milhares de leitores por mês.
Agora, 60 anos depois, a revista “Tex #575” assinala a data com a história a cores “Sul sentiero dei ricordi”, escrita por Cláudio Nizzi e desenhada por Fabio Civitelli, que evoca o seu breve casamento com a índia Lylith, e oferecendo a reedição de “Il massacro di Goldena”, o único romance protagonizado pelo ranger, escrito por G. Bonelli em 1951.
Inspirado em Gary Cooper e nos míticos westerns cinematográficos, Tex é um homem duro e obstinado, típico de um Oeste duro e agreste, onde a força das armas impunha a lei, sempre ao lado dos desfavorecidos, independentemente da sua raça ou cor. Também por isso, até o “L’Observatore Romano”, o jornal oficial do Vaticano, lhe dedicou algumas páginas na sua edição de 14 de Agosto, descrevendo-o como “um justiceiro americano, capaz de distinguir ‘sem ses e sem mas’, o bem do mal”, que “agrada aos operários, aos estudantes, aos intelectuais e aos políticos”, e tem “comportamentos  irrepreensíveis  ditados  por valores não negociáveis”, embora “ao mesmo tempo  se torne protagonista de acções que por vezes desembocam na justiça sumária”, tendo matado ao longo de 60 anos “quase três mil pessoas, uma média de sete cadáveres por edição”.

Os 60 anos em Portugal
O 19º Festival de BD da Amadora, de 24 de Outubro a 9 de Novembro, tem prevista uma exposição, o BDJornal #24 vai publicar um dossier sobre o ranger, que inclui uma BD curta, e o “Blog do Tex” (www.texwiller.blog.com), tem on-line “Tex e os Coyoteros”, uma homenagem “não oficial” de Jorge Magalhães e Augusto Trigo, que mostra um Tex diferente, na sua estreia em conto literário, introspectivo e a questionar acções do seu passado, e a ter até um relacionamento romântico, tema tabu nos quadradinhos.


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F. Cleto e Pina

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Tudo o que sempre quiseram saber sobre Tex

Autor português analisa 70 anos do western há mais tempo em publicação
Obra com quase 500 página é um autêntico compêndio sobre o herói

Se em mercados em que a banda desenhada tem maior expressão e indústria são vulgares obras que reflectem sobre ela própria, os autores ou os heróis, devido à pequena dimensão do mercado português são poucas as edições que abordam esta temática.
Uma das excepções – e também uma das mais significativas – é “Tex – Mais que um herói”. uma edição da cooperativa A Seita, com assinatura de Mário João Marques.
Obra monumental, com quase meio milhar de páginas, à dimensão dos mais de 70 anos que o western mais antigo da banda desenhada em publicação ininterrupta justifica, consegue apresentar na sua concepção três facetas que nem sempre andam reunidas, mas que se revelam muito importantes numa obra que se pretende de referência.
Refiro-me a uma aturada pesquisa histórica para garantir a credibilidade do que fica escrito; ao conhecimento profundo – e, com certeza, aprofundado durante a sua escrita – que o autor revela das centenas de histórias protagonizadas por Tex, pela forma como evoca cenas, momentos ou pormenores de várias delas; finalmente e em linha com esta última, é evidente a paixão de quem escreve pela trajetória do ranger, transmitindo ao longo das páginas essa emoção.
Desta forma, Mário João Marques proporciona aos apreciadores de Tex, em particular, e aos interessados pelo western e pela banda desenhada, em geral, um mergulho completo e apaixonado por Tex, em capítulos profusamente ilustrados que abordam o mito, o herói, os companheiros e adversários, a evolução da série ao longo do tempo, as diferentes colecções e edições, as capas – as originais, as brasileiras (das edições em que muitos leitores portugueses descobriram Tex) e as portuguesas… – os ambientes, as histórias mais marcantes e os autores, argumentistas e desenhadores, que fizeram de Tex o que ele ainda é hoje.
Como é evidente, uma obra desta dimensão, que esmiúça e aprofunda até ao seu âmago a série, tem de ser degustado ao ritmo pausado das cavalgadas de Tex e Kit Carson nas primeiras páginas das histórias em que é a aventura que vai ao encontro dos heróis.
E, num mundo ideal, em que o tempo parasse sempre que lêssemos um livro, seriam muitas as aventuras a (re)descobrir estimulados pelo que sobre elas escreve Mário João Marques.

Tex – Mais que um herói
Mário João Marques
A Seita
488 p., 40,00 €


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F. Cleto e Pina

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Rossano Rossi: “Tex é acima de tudo uma paixão e uma escola de vida”

Autor italiano que esteve na 8.ª Mostra do Clube Tex Portugal, em Anadia, desenha Tex há 20 anos

Chama-se Rossano Rossi, é desenhador e foi uma das estrelas da 8.ª Mostra do Clube Tex Portugal que decorreu no passado fim-de-semana na Anadia.
Natural de Arezzo, em Itália, onde nasceu em 1964, apesar de muito solicitado pelos fãs e admiradores, arranjou tempo para uma conversa exclusiva com o Jornal de Notícias, em que confessou que “Tex foi sempre importante” na sua vida”. Lê-o “desde criança” e sempre foi um dos seus “fumetti [designação italiana para a BD] favoritos”. Por isso, naturalmente, quando começou a desenhar “ainda miúdo, os temas preferidos eram os cowboys e os índios”. E nunca imaginou que “tantos anos depois, seria um dos desenhadores da personagem que admirava desde a infância”. Se esse facto representa “uma grande satisfação profissional, é também uma grande responsabilidade e uma honra poder representar graficamente Tex e o seu universo”.
E prossegue: “Há quase 20 anos que desenho histórias do Tex, mas isso nunca cansa: há sempre algo novo para representar, há sempre algo para aprender. Tex não é apenas um trabalho, mas acima de tudo uma paixão e uma escola de vida”.
Mas afinal, o que torna Tex diferente dos outros western e de outros heróis dos quadradinhos? Rossano Rossi não hesita: “Publicado continuamente desde há 75 anos e o fumetti mais vendido em Itália, Tex ainda goza de muita consideração. Já não é simplesmente uma banda desenhada, mas sim um ícone que entrou na memória colectiva dos italianos e não só, já que em Portugal também é muito apreciado”. E continua com entusiasmo: “Tex é aquele que cada um de nós gostaria de ser, um campeão da justiça, um defensor dos fracos, dos oprimidos, um herói que também está disposto a ir além das regras quando é necessário. Tex é diferente de outros quadradinhos, simplesmente porque ele é muito mais que isso”.
Quanto à Mostra do Clube Tex Portugal, que decorreu no passado fim-de-semana no Museu Vinho Bairrada, na Anadia, confirmou ser “um evento muito interessante e de sucesso, como tinham dito os autores que nela participaram nos anos anteriores”. E conclui, salientando um dos pontos fortes do evento, o convívio entre apaixonados pelo mesmo tema, referindo “o prazer de rever velhos amigos do Clube Tex Portugal e conhecer muitos novos!!”.


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F. Cleto e Pina

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Tex de regresso a Anadia

Autores italianos Rossano Rossi e Dante Spada e o português João Amaral, são os destaques

O Museu Vinho Bairrada, em Anadia, acolhe este fim-de-semana a 8.ª Mostra do Clube Tex Portugal, dedicada ao western aos quadradinhos há mais tempo em publicação ininterrupta.
Durante dois dias, os fãs da personagem em particular e os apreciadores do género em geral, convergem para aquela cidade, vindos de todo o país e também do estrangeiro, uma vez que o Clube, único no seu género, “tem sócios em países como o Brasil, Itália, Espanha e França”, revelou ao JN Mário João Marques, um dos seus responsáveis.
Este ano, o principal destaque “é a presença de dois autores italianos Dante Spada e Rossano Rossi, com exposições, conferências e desenho ao vivo”. Mas a Mostra também fala português, com o lançamento pela Escorpião Azul de “A Oeste”, a mais recente obra de João Amaral, “que também terá exposição e encontro com os leitores”.
A ideia de criar no nosso país um evento dedicado a uma personagem italiana “surgiu no seguimento da criação do Clube Tex Portugal” com o intuito de “reunir apaixonados da personagem”. Já existindo “noutros países, nomeadamente em Itália, tentou-se o mesmo modelo em Portugal, onde não existia nada semelhante”. Com “o apoio da Câmara Municipal de Anadia, do Museu do Vinho Bairrada e da Sergio Bonelli Editore, foi criado este projecto, que hoje é único e uma referência no nosso país” e transformou “Anadia na capital portuguesa do Tex”.
O ranger “é uma personagem carismática e única, que representa a eterna luta entre o bem e o mal, entre o justo e o injusto, através de um conjunto de valores que todos devíamos abraçar: ética, moral, honestidade, levando-o a enfrentar poderes instituídos e gente corrupta”.
Este ano, pela primeira vez, a Mostra do Clube Tex promove, no domingo de manhã, “uma Oficina de Artes, com o apoio da Associação dos Artistas Plásticos da Bairrada, para crianças e jovens dos 6 aos 15 anos, uma oportunidade para os mais novos se iniciarem no mundo da BD e das personagens associadas a Tex”.
A entrada no Museu Vinho Bairrada, que tem em permanência uma galeria dedicada a Tex, é gratuita.


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F. Cleto e Pina

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Tex despede-se de García Seijas

Desenhador argentino faleceu aos 81 anos

Ernesto Rudesindo García Seijas, desenhador argentino, faleceu ontem, contava 81 anos.
O mundo da BD, bastante fustigado pela partida de alguns dos seus expoentes em tempos recentes, fica mais pobre.
Se para muitos García Seijas era sinónimo de desenhador de Tex, o western há mais tempo em publicação ininterrupta, a verdade é que teve de trilhar um longo caminho antes de se consagrar como um dos elementos do staff do ranger.
Natural da cidade de Ramos Mejía, na província de Buenos Aires, onde nasceu a 1 de Junho de 1941, desde cedo começou a desenhar com tudo o que lhe aparecia à mão, tendo ganho a alcunha de “pincellito”.
Depois de passagens mais ou menos curtas pela escola secundária de belas artes local e pela academia Pitman, pois apenas se interessava pelas disciplinas de desenho, García Seijas começou a trabalhar para a Editorial Fascinación, onde completava vinhetas de narrativas ilustradas provenientes de Itália, devido a alterações de planificação.
Depois de uma passagem pela “Totem”, com “Bill y Boss”, onde passou a assinar com o nome que o tornou conhecido, em 1958, com apenas 17 anos, juntou-se à equipa da revista “Bucaneros, el gigante de la historieta”, onde desenhava a narrativa de piratas que davam nome à publicação.
A década de 1960 vai ser fundamental para o seu crescimento gráfico, com o seu traço a tornar-se cada vez mais preciso, personalizado e plasticamente agradável, na linha do mestre norte-ameriucano Alex Raymond. Nessa época trabalhou em quase todas as revistas argentinas, entre as quais “Frontera”, “Hora Cero”, “Misterix” (onde fez parceria com Héctor Gérman Oesterheld em “Léon Loco”) ou “Rayo Rojo”. Ao mesmo multiplicou a sua actividade, em capas para a colecção “Robin Hood” e na adaptação de clássicos do cinema e de narrativas românticas, para a revista feminina “Intervalo”.
A década seguinte vai encontrá-lo a trabalhar para as Ediciones Record, onde assina trabalhos como “Skorpio”, “Many Riley”, “El Hombre de Richmond”, “El estirpe de Josh” ou “Los Aventureros”, revelando igual à-vontade no western, no terror ou na aventura.
“El Negro Blanco” (1987), uma BD erótica com argumento de Carlos Trillo, e “Espécies em Peligro” (2000) são exemplos da sua passagem pelas tiras de imprensa do seu país natal, antes de começar a sua grande aventura italiana, na Eura Editoriale, primeiro, e depois na Sergio Bonelli Editore. Nesta última, a sua estreia aconteceu em “Julia 80”, antes de se tornar um desenhador regular de Tex, a série charneira da editora, cujo primeiro título ilustrado por si a chegar às bancas foi “Polícia Apache” (2007).
A sua consagração chegaria com a publicação de um “Tex Gigante”, “As Hienas de Lamont” (com argumento de Claudio Nizzi), que veria a luz em 2011. Curiosamente, este foi o primeiro trabalho do desenhador com o ranger; com publicação originalmente agendada para 2003, seria adiado devido à lentidão do desenhador e à necessidade de introduzir correcções, pois o editor Sergio Bonelli tinha reservas quanto à presença de diversas personagens femininas, o que obrigou Seijas a redesenhar onze pranchas.
Na volumosa obra “Tex, mais que um herói” (A Seita, 2022), Mário João Marques, especialista nas aventuras do cowboy, afirma que o desenhador argentino “domina todas as técnicas de uma boa narração visual (…) O seu traço é claro e muito expressivo, oferecendo força e consistência às suas personagens e ambientes, assim como um contínuo movimento em todas as cenas”.
Apesar de não ter obra publicada em Portugal, García Seijas chegou até aos fãs portugueses de Tex através das edições brasileiras da Mythos Editora, tendo conquistado um bom número de apreciadores no nosso país.


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F. Cleto e Pina

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A internacionalização do Coimbra BD

Decorre de hoje e até domingo, na Casa da Cultura, a terceira edição do Coimbra BD, pela primeira vez com convidados estrangeiros, o italiano Walter Venturi, desenhador de Tex e Zagor, e o sérvio R. M. Guéra, de “Os Malditos”, a lançar durante o evento, tal como “Dragomante”, de Filipe Faria e Manuel Morgado, e “Man Plus”, de André Araújo.

Todos eles contam com exposições individuais, a que se juntam a “Homenagem a Fernando Relvas”, recentemente falecido, e “70 Anos de Tex: A colecção de José Carlos Francisco”, e ainda a projecção de diversas curtas-metragens da selecção oficial do MOTELX.


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F. Cleto e Pina

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Tex Troca o Cavalo Pelo Automóvel?

Aberto ao público até ao próximo dia 13, o Salão Automóvel de Genebra 2011, um dos mais importantes do género, tem como principais novidades diversos modelos eléctricos e com motorizações ecológicas, entre os quais está o Volkswagen Tex, um protótipo da marca alemã dedicado a Tex Willer, o mais antigo western da BD em publicação.
A viatura em questão, uma criação da Italdesign para o maior fabricante europeu de carros, é um coupé que utiliza a tecnologia Blue e-motion e o sistema de direcção Twin Drive, pois é um modelo híbrido que tanto pode funcionar a gasolina (com o seu motor de 1.4 turbo) como a electricidade (com a bateria de 85Kw). Com uma transmissão de sete velocidades sequenciais, atinge a velocidade máxima de 220 km/h, tendo uma autonomia de 35 km quando utiliza apenas o motor eléctrico.
Giorgetto Giugiaro, o estilista que apostou na combinação entre ecologia e desportivismo, afirmou que o Volkswagen Tex “é a nossa interpretação dos carros do futuro, pensados especialmente para a cidade”. E acrescentou: “além dos automóveis, eu e Fabrizio (o patrão da Italdesign), partilhamos outra paixão: o ranger Tex Willer, herói dos quadradinhos italianos. O Volkswagen Tex é uma homenagem aos homens que escreveram e desenharam uma página importante da nossa cultura popular”.
No caso Giovanni Luigi Bonelli (argumento) e Aurelio Gallepini (desenho), que em 1948 imaginaram o ranger, duro e com um sentido de justiça muito próprio, que frequentemente o transforma em juiz e carrasco dos malfeitores que persegue. E que é um caso ímpar de popularidade em Itália, onde chegou a vender mais de um milhão de exemplares mensalmente, estando na base do sucesso da editora Bonelli, que em 2007 encetou a reedição a cores das suas aventuras, com o jornal “La Reppublica” e a revista “L’Espresso”, numa colecção que, prevista para 50 números, já ultrapassou os 200 volumes.
Em Portugal, onde dispõe de muitos fãs, Tex está presente nos quiosques quase ininterruptamente desde a década de 1970, através de edições brasileiras de pequeno formato, que actualmente têm a chancela da Mythos Editora que, mensalmente, disponibiliza diversos títulos de Tex, entre novas histórias e reedições.
Resta saber se, em aventuras futuras, Tex Willer e o seu parceiro Kit Carson vão trocar os fogosos cavalos de sempre pelo novo Volkswagen Tex! Com a certeza de que tanto eles como os seus fãs, terão que esperar até 2018, para verem o carro ser produzido em série, se tal vier a suceder.

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Civitelli: “Para Tex a vida começa aos sessenta anos”

Chamam-se Fabio Civitelli e Marco Bianchini, têm em comum serem italianos e desenhadores de Tex. Antes de virem comemorar os 60 anos do ranger este fim-de-semana no Festival de BD da Amadora, o Jornal de Notícias disparou-lhes algumas perguntas.
A exposição de Tex, a primeira fora de Itália com pranchas originais, promete ser um dos pólos de atracção do último fim-de-semana do 19º FIBDA, que está a decorrer no Fórum Luís de Camões, subordinado ao tema “Tecnologia e Ficção-cientifica”, o que origina a primeira questão: “Tex ainda faz sentido no mundo actual?” Civitelli, 53 anos, há 24 a desenhar o ranger, acha que sim porque “encarna valores que não têm época: o desejo de justiça, a consciência da igualdade entre os homens e a capacidade de os julgar apenas pelo seu comportamento”. A isto, Bianchini, 3 anos mais novo, recém-estreado como desenhador de Tex, acrescenta o “facto de o Oeste ainda hoje representar a aventura e uma fuga da rotina quotidiana”, afirmando que “a firmeza de Tex nos transmite sensações positivas”.
Civitelli considera que Tex, 60 anos depois da sua estreia, perdeu “a musicalidade da linguagem bonelliana”, defendendo o regresso “ao Tex duro e puro de G. L. Bonelli”, pois “hoje ele é menos impetuoso, mais reflectido, às vezes até menos protagonista; ”. Bianchini, por seu lado, contrapõe que “gostaria muito de encontrar personagens femininas nas suas aventuras, porque isso traria novos cenários e adversários difíceis de prever; seria interessante ver como Tex enfrentaria uma mulher, ele que está acostumado a resolver tudo com os punhos!”. Civitelli discorda pois “os nossos leitores dificilmente aceitariam modificações radicais. Na edição dos 60 anos, a cena do beijo entre Tex e Lilyth, por alguns foi vista como uma heresia, uma traição ao Tex dos velhos tempos!”
Considerando “um sonho” desenhar Tex após 20 anos na casa Bonelli, Bianchini, também professor na Escola Internacional de Comics de Florença, revela que o seu Tex se inspirou em desenhadores como “Ticci, Villa, Venturi ou Civitelli”, classificando-o como “tradicional, na melhor tradição da BD realista mundial que se formou entre os anos 70 e 90.”, contrapondo-o ao Tex “moderno, de leitura agradável e feito com extremo apuro” de Fábio Civitelli.
Este último, que já propôs “alguns argumentos, que Claudio Nizzi transformou em guiões”, admite que gostaria de desenhar uma história totalmente escrita por si. O seu traço foi “fortemente inspirado no Tex inovador de Ticci, por sermos ambos admiradores de desenhadores clássicos americanos como Alex Raymond e Milton Caniff. Mas depois de tantos anos o meu estilo suavizou-se; tento desenhar Tex da forma que o vejo: bem constituído mas não gigante, ágil mas forte, com uma expressão dura mas com um lampejo de ironia nos olhos e um meio sorriso de quem está seguro de si e das suas razões”. Do Tex desenhado por Bianchini, realça a renovação de “certas temáticas mágicas e misteriosas, com belas cenas de acção, mas sobretudo sugestivas atmosferas misteriosas e inquietantes”.
Autor escolhido para desenhar “Sul sentiero dei ricordi”, a BD a cores que assinalou os 60 anos do herói, considera-a “um momento muito marcante na minha carreira e uma etapa importante para Tex. Podemos dizer que para Tex a vida começa aos sessenta anos!”


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F. Cleto e Pina

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19º Festival de BD da Amadora sob o signo da Ficção-científica e Tecnologia

Fórum Luís de Camões acolhe evento a partir de 24 de Outubro; Flash Gordon, Valérian, Blake e Mortimer, Tex e Star Wars no programa

O Fórum Luís de Camões, na Brandoa, vai receber pelo terceiro ano consecutivo o Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA), cuja 19ª edição terá lugar de 24 de Outubro a 9 de Novembro. É a continuidade num espaço amplo e dotado das infra-estruturas necessárias ao festival, aprovado por todos e que fez esquecer a Fábrica da Cultura onde o FIBDA conheceu os seus melhores momentos e se afirmou como um evento de referência.
Do programa, que será divulgado oficialmente hoje à tarde, o principal destaque vai para a exposição central subordinada ao tema “Ficção-científica e Tecnologia”, montada na óptica de mostrar a evolução gráfica e narrativa da própria BD através da forma como ela o tem abordado. Para isso, serão apresentados, de forma contrastante, exemplos clássicos e modernos do género. Em termos de personagens, este “confronto” far-se-á entre o tom aventuroso do Flash Gordon, de Alex Raymond, e os relatos iniciáticos de Valérian, de Christin e Mezières. No que respeita aos autores, a abordagem clássica está representada por Esteban Maroto e Hector Oesterheld (através das pranchas de Alberto Breccia, Oswal e Solano Lopez), cabendo a Leo e Alejandro Jodorowsky (argumentista de Juan Gimenez, Das Pastoras ou Janjetov) o olhar mais recente. Duas publicações de referência, a francesa “Metal Hurlant” e a britânica “2000 AD”, integrarão outro núcleo desta mostra, sendo o último dedicado à ficção-científica na BD portuguesa, em obras de Jayme Cortez, Vitor Péon, Fernando Relvas, Vítor Mesquita, Augusto Mota e Nelson Dias ou Luís Louro.
Após visitar a mostra sobre os Prémios Nacionais de BD 2007 (Luís Henriques e José Carlos Fernandes, Jean-Claude Denis, Nuno Markl, Rui Lacas, Neil Gaiman e Dave McKean) e os trabalhos concorrentes ao 19º Concurso de BD, igualmente no Piso 0 do Fórum Luís de Camões, adequadamente rebaptizado de Astroporto, os visitantes poderão descer até à Nave Cósmica (piso -1) para uma viagem por universos fantásticos – e em alguns casos menos conhecidos – da 9ª arte. Viagem que passa, entre outras propostas, pelas obras de Liberatore (de “Ranxerox” a “Lucy”), Cyril Pedrosa (“Três sombras”), Tara McPherson (ilustradora e designer da nova vaga nova-iorquina), pela BD que vem da China ou por mundos populares como o Oeste selvagem de Tex Willer, a distante galáxia de Star Wars ou a selecta sociedade britânica dos anos 50 onde evoluem Blake e Mortimer, revistos por Yves Sente e André Juillard.

[Caixas]

BD Chinesa

Parceria com o National Center for Developing Animation Cartoon and Game Industry, que levou obras nacionais a Xangai, em Junho, traz ao FIBDA a BD de ficção-científica de Yu Lu e Hong Lee.

60 anos de Tex

Originais do álbum comemorativo do aniversário, de Cláudio Nizzi e Fábio Civitelli, assinalam esta efeméride do mais duradouro western da BD.

Homenagens

A José Ruy (no CNBDI), José Garcês (Galeria Municipal Artur Bial) e de artistas gráficos portugueses a João Abel Manta (Fórum Luís de Camões).

Autores convidados

Yu Lu, Liberatore, Dave McKean, Pat Mills, Tara McPherson, Esteban Maroto (25 e 26/10), Maurício de Sousa, Janjetov, Ian Gibson, Carlos Portela (1 e 2/11), Cyril Pedrosa, Mathieu Sapin, J.-C. Denis

Lançamentos

Kingpin Comics: “A Fórmula da Felicidade #1 (de 2)”, de Nuno Duarte, Osvaldo Medina e Ana Freitas
Pedranocharco: “Bang Bang #2”, de Hugo Teixeira, “BDJornal” #23 e #24, “Moda Foca #1”
Polvo: “Três Sombras”, de Cyril Pedrosa
Tinta da China: “Terra Incógnita – A Metrópole Feérica”, de José Carlos Fernandes e Luís Henriques
Tugaland: “BD Fado”, por Nuno Saraiva, BD Rock-Pop Português, por Alex Gozblau, e BD Música Clássica, por Jorge Mateus


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Fartura

“Não há fome que não dê fartura”, diz a sabedoria popular – tão sábia que muitas vezes tem um dito oposto, para ter sempre razão. No caso, aquele aplica-se às revistas Bonelli, que chegam a Portugal, via Brasil, nas edições da Mythos que, depois de alguns meses limitadas aos títulos de Tex, vêem este mês a oferta aumentada com o regresso de “Mágico Vento” e “J. Kendall, aventuras de uma criminóloga” (e em breve “Zagor”), graças à mudança de distribuidora. Neste último, Júlia, a criminóloga de Garden City, criada por Berardi à imagem de Audrey Hepburn, a braços com um potencial assassino que procura a sua atenção, continua incapaz de estabelecer relações a nível pessoal, numa história rica e bem estruturada, de ritmo propositadamente lento, que cruza o mistério da situação policial com as questões quotidianas dos protagonistas. Já Mágico Vento, o feiticeiro branco dos Sioux, desenvolvido por Manfredi, atravessa uma das suas fases mais interessantes, combinando o ritmo arrebatador do western com o misticismo das crenças indígenas e o realismo histórico com um toque de fantástico.
E como a anterior distribuidora se atrasou – ainda vai fazer mais um lançamento, para não haver falhas na continuidade – e a nova se adiantou, há neste momento oito títulos Bonelli nas bancas, entre os quais os “Tex” #422 e #424 e o “Tex Gigante” #17, em que se destaca o soberbo preto e branco de José Ortiz.


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