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Bugs Bunny, 70 anos irrequietos

Há 70 anos, Bugs Bunny – ou Pernalonga como entre nós foi conhecido durante muitos anos – fazia a sua primeira aparição, garantindo desde logo boa disposição.

A sua estreia, com o nome que o celebraria como uma das maiores estrelas da animação – ou mesmo a maior de sempre, segundo a “TV Guide”, em 2002 – foi a 27 de Julho de 1940, em “A Wild Hare”, curta-metragem de 8 minutos, dirigida por Tex Avery, em que pela primeira vez faz a cabeça em água ao também estreante caçador Elmer J. Fudd (a quem dá também o primeiro e sonoro beijo). A imagem que hoje lhe reconhecemos, da responsabilidade de Robert McKimson, só chegaria mais tarde, mas a sua voz inimitável já se devia a Mel Blanc, que a definiu como “uma mistura do sotaque do Bronx e de Brooklyn”.
No entanto, o protótipo de Bugs Bunny, um certo Happy Rabbit (Coelho Feliz) aparecera pela primeira vez a 30 de Abril de 1938, em “Porky’s Hare Hunt”, com o pêlo completamente branco e uma personalidade quase paranóica, semelhante à de Daffy Duck, tendo sido figurante de mais quatro filmes, em que apresentou ainda uma gargalhada muito semelhante à que viria a ficar como imagem de marca de Woody Woodpecker (Picapau).
No entanto, segundo alguns historiadores, a sua linha genealógica deveria começar a ser traçada mais atrás, pois a personagem teria sido inspirada em Max Hare, um outro coelho animado, criado por Walt Disney em 1935. Outros, no morder da cenoura, apontam-lhe influências de Groucho Marx e do seu charuto, bem como na repetição de uma frase que aquele popularizou: “Of course you know, this means war!”.
Independentemente destas considerações, o seu “cartão de cidadão” aponta 27 de Julho de 1940 como data oficial de nascimento, embora não especifique se se trata de um coelho ou de uma lebre… Quem o conhece – e há quem não o conheça, afinal? -, tem dificuldade em limitar os adjectivos necessários para o caracterizar: inteligente, mordaz, sarcástico, rápido, decidido, irritante, provocador…
Da sua biografia constam participações na II Guerra Mundial, contra Mussolini, Hitler e os japoneses, e a presença nos aviões de diversas esquadrilhas, como mascote. A conquista de um Óscar – em 1958, por “Knighty Knight Bugs” – em três nomeações e uma estrela na calçada da fama de Hollywood, são alguns dos pontos altos da longa carreira de Bugs Bunny, a quem, após a morte de Blanc, em 1989, também emprestaram a voz Jeff Bergman, Greg Burson e Billy West. E Paulo Oom, na versão portuguesa.
Hoje, apesar das suas setenta primaveras, o “velho Pernalonga” continua ágil e imprevisível, a soltar com o seu jeito inimitável o característico e sonoro “What’s up, doc?”, garantia infalível de boas gargalhadas.

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Outras vidas

Para lá das dezenas de curtas-metragens que fizeram a sua merecida fama, Bugs Bunny foi também inspiração ou modelo de um infindável número de artigos de merchandising e de uma emissão filatélica nos EUA e estrela de outros suportes, como os videojogos.
Mas muito antes disso, logo em 1941, o sucesso da versão animada transportou-o para os quadradinhos, no número inaugural da “Looney Tunes and Merrie Melodies” (da Dell Publishing), desenhado por Win Smith. Um ano depois estreava título próprio, com o grafismo a cargo de Carl Buettner e, em 1943, passava a protagonizar também tiras diárias de imprensa, que duraram até 1993, menos um ano que a sua revista. Nos quadradinhos conta-se ainda um estranho encontro com Superman, Batman e os outros membros da Liga da Justiça, em 2000.
No cinema que o viu nascer, participou também em longas-metragens como “Who Framed Roger Rabbit” (1988), “Space Jam” (1996), em que dividia o protagonismo com a estrela do basquetebol Michael Jordan, ou “Looney Tunes: Back to Action” (2003)
Se a passagem do grande para o pequeno ecrã foi pacífica e natural, este estreou duas curiosas versões: os Baby Looney Tunes (em 2002), que reúnem Bugs Bunny, Tweety, Silvester, Daffy Duck, Lola e Tazz ainda bebés, e “Loonatics Unleashed” (2005), uma visão futurista dos mesmos protagonistas, “travestidos” de super-heróis.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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Tex Avery nasceu há 100 anos

Génio da animação realizou quase centena e meia de filmes; deu vida a Bugs Bunny, Daffy Duck, Droopy e muitas outras personagens

A 26 de Fevereiro de 1908, a pequena cidade de Taylor, no centro do Texas, nos Estados Unidos, assistia ao nascimento de Fredrick Bean “Tex” Avery, um dos maiores génios que o cinema de animação teve. Depois de uma infância e adolescência sem história, formou-se na North Dallas High School, que tinha como um dos lemas a frase “What’s up, doc”, que Bugs Bunny celebrizaria anos mais tarde. Goradas diversas tentativas de vender bandas desenhadas da sua autoria, decidiu virar-se para a animação, tendo passado um Verão a estudar essa arte no Chicago Art Institute, começando depois a sua carreira de animador, como pintor de cenários, no início da década de 1930, no estúdio de Walter Lantz, o criador de Woody Woodpecker.
A meio dessa década, mudou-se para a Warner Bros, onde trabalhou com Bob Clampett e Chuck Jones, e nesse mesmo ano dirigiu o seu primeiro desenho animado, “Gold Diggers of ’49”, segunda aventura do gago Porky Pig. Dois anos depois apresentava ao mundo o pato mais emotivo e exasperante do cinema, Daffy Duck. Quando deixou a Warner, em 1941, após uma discussão com Leon Schlesinger, levava também no seu currículo a realização de mais de seis dezenas de filmes e o desenvolvimento da personalidade do temperamental Bugs Bunny e de muitos outros Looney Tunes.
De imediato entrou para a MGM, de Fred Quimby, que então acolhia também William Hanna e Joseph Barbera, onde teve total liberdade criativa que utilizou para criar algumas das melhores animações de sempre, marcadas por uma violência (inócua) irresistivelmente divertida, pelo humor assente na combinação da loucura absoluta com uma certa dose de realidade, na repetição de gag e situações e pela subversão das regras do meio em que trabalhava, numa época em que cada filme era uma (pequena) obra(-prima) única. E em que as produções animadas, se bem que divertidas para os mais novos, só podiam ser fruídas plenamente por adultos. Foi nessa época que imaginou o pacato Droopy ou o histérico Screwy Squirrell e as suas (pre)versões dos contos clássicos infantis. Destas, a mais famosa é, possivelmente, “Red Hot Riding Hood” (1943), protagonizada por uma capuchinho vermelho adulta, ruiva e com todas as curvas no sítio, um lobo playboy e uma avozinha ninfomaníaca.
Quase 20 anos depois, em 1954, deixou a MGM, voltando a trabalhar com Walter Lantz o tempo de dirigir quatro filmes e tornar popular o simpático Chilly Willy.
Depois disso, apesar dos muitos convites, Avery, manteve-se afastado do mundo da animação, tendo trabalhado em publicidade, destacando-se a criação do insecto do Raid e de The Frito Bandito, desenvolvido para promover uma marca de milho frito. Em 1979, aceitou um convite para ser argumentista e escritor de gags da Hanna-Barbera, mas esta ligação foi de curta duração, pois viria a falecer a 26 de Agosto de 1980, vítima de cancro.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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