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BD portuguesa no feminino

Nas duas últimas décadas, a banda desenhada viu despontar muitos talentos femininos. O JN apresenta-lhe algumas das portuguesas que optaram pela BD como forma de expressão e que poderão marcar os próximos anos.

Na verdade, durante décadas a 9ª arte foi considerada tarefa de homens, possivelmente devido à prevalência dos géneros cómico e aventura, destinadas a um público – masculino – juvenil e à especificidade do labor quase eremítico.

Nos anos 60 do século passado, o movimento undeground nos Estados Unidos – e depois o Maio de 68 na Europa – modificaram um pouco esta situação, tendo o surgimento de temáticas mais intimistas e de romances desenhados provocado uma (quase) revolução a partir dos anos 1990, ao nível autoral e (da adesão) das leitoras. Isto no Ocidente, pois no Japão, a profusão de temáticas e públicos-alvo já tinha dado lugar relevante às mulheres na produção de manga.

Em Portugal, em que houve algumas percursoras (ver caixa), os anos 90 também fizeram despontar diversas autoras, muitas delas com ligações ao design ou à arquitectura, visível no tratamento gráfico dado a temáticas em voga como a autobiografia ou a crónica quotidiana, que publicavam em edições independentes ou, pontualmente, em álbuns a solo, que são a memória palpável do talento de Ana Cortesão, Vera Tavares, Ângela Gouveia, Maria João Worm ou Alice Geirinhas.

Em anos recentes, muitas daquelas que se expressam (também) em BD, têm como principal referência gráfica (e temática…) os manga japoneses, como Catarina Sarmento (com o webcomic “Children of the night”), Ana Freitas (que desenhou o “primeiro manga português”…) ou Catarina Guerreiro, Sara Martins, Telma e Tânia Guita (editoras do “Luminus Box”), elegem a Internet para divulgarem a sua arte, participam (e muitas vezes ganham) concursos de BD, nacionais e estrangeiros. A exemplo da geração que as precedeu, estão confinadas à auto-edição ou à publicação em fanzines ou (mini-)álbuns independentes, geralmente colectivos, nem sempre (só) em Portugal.

Outros nomes (recorrentes) são Andreia Rechena (que se auto-edita em “Reject”) e que com Sónia Oliveira, Inês Casais, Ana Biscaia, Selma Pimentel ou Joana Lafuente, tem marcado presença no “All-Girlz” (publicação só com autoras, cujo tomo Banzai, será lançada no próximo dia 9, na Central Comics, no Porto). As duas últimas estão já noutro patamar, pois Joana Lafuente aplica as cores na versão em BD dos mediáticos “Transformers” para a editora norte-americana IDW, e Selma Pimentel tem em curso diversos projectos para o estrangeiro.

No atelier Toupeira, origem do Festival de BD de Beja e do fanzine “Venham +5”, despontaram Maria João Careto e Susa Monteiro, autora do recente “A Carga” e um dos mais promissores talentos da 9ª arte nacional. Teresa Câmara Pestana, com mais anos de militância nos quadradinhos e influências underground, divulga a sua arte – e a daqueles que com ela comungam ideais e preferências estéticas – no “Gambuzine”, tendo também editado a solo, “Postais de Viagem”.

Quantas destas criadoras conseguirão afirmar-se, num mercado limitado como o nosso ou no (grande) mercado global que as novas tecnologias aproximam, só o tempo permitirá dizer. Para já, cabe-nos desfrutar o seu talento e criatividade.

[Caixa]

As percursoras

É ponto pacífico apontar Amélia Pae da Vida (1900-1997) como a primeira desenhadora portuguesa de BD, nos anos 20 do século passado. Depois dela, sucederam-se entre diversas outras, Raquel Roque Gameiro, Guida Ottolini, Bixa (Maria Antónia Cabral) ou Maria Alice Andrade Santos, em especial em títulos como “Lusitas”, “Menina e Moça” ou “Fagulha”, lançadas a partir de 1943 pela Mocidade Portuguesa Feminina.

A abertura proporcionada pelo 25 de Abril, possibilitou novas abordagens também nos quadradinhos, destacando-se então Isabel Lobinho, hoje pintora, adaptando Mário Henrique Leiria ou em produção própria de cariz erótico, e também Catherine Labey (de origem francesa mas há muito radicada em Portugal), que criou quadradinhos de ficção e adaptou temas infantis, populares ou históricos, ainda no activo nas áreas da tradução, legendagem ou aplicação da cor.

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