50 anos de confusões

Gaston Lagaffe, o herói mais trapalhão da BD, nasceu há meio século; Parcómetros de Bruxelas desactivados hoje em sua honra: Álbum com inéditos de Franquin assinala data

Há 50 anos, nas páginas da revista “Spirou” belga, aparecia pela primeira vez uma estranha personagem, então de casaco e lacinho, sem que ninguém – nem ele próprio – soubesse muito bem porquê. Poucas semanas depois, a sua indumentária mudava para uns jeans uma camisola de gola alta e umas alpercatas, que o acompanhariam toda a vida. Após algum tempo a vaguear (literalmente) pelas páginas da publicação, Gaston Lagaffe protagonizava os seus primeiros disparates, iniciando uma longa e (justamente) celebrada carreira assente numa preguiça sem igual, numa postura física reveladora da mais entranhada moleza e numa invulgar capacidade de se ocupar com tudo e nada para deixar de lado o realmente urgente. Assim, originou um sem número de inenarráveis acidentes, invenções estrambólicas e ideias disparatadas, que fizeram a vida negra aos seus colegas da redacção da revista – com Fantásio em particular destaque – cujo edifício destruiu várias vezes e tornando-o na personagem mais calamitosa e desajeitada da histórias da banda desenhada, que fez da vida monótona num escritório uma surpresa constante. E, claro, num dos (anti)-heróis mais amados da 9ª arte, a pé ou tripulando o seu Fiat 509, inventando o ininventável ou tocando o ensurdecedor broncofone. Através dele, Franquin, por natureza introvertido e depressivo, deu largas ao seu génio, através de um humor transbordante e contagiante e de um traço personalizado, vivo, dinâmico e extremamente expressivo, muitas vezes copiado mas nunca igualado.

Várias vezes reeditado (inclusivamente em Portugal, onde começou por se chamar Jeremias…!), imortalizado numa estátua em tamanho natural no centro da Bruxelas que ele atormentou, Gaston Lagaffe vê a sua cidade natal assinalar os seus 50 anos com um mural com mais de 3 metros de altura (inaugurado ontem) e um dia sem parcómetros (hoje), em homenagem à guerra que ele sempre lhes moveu nas suas aventuras, para desespero do abnegado (e infeliz) agente da lei Longtarin.

[Caixa]

50 anos de Festa

“Festa” é uma das palavras mais adequadas para classificar o espírito de Gaston e é, por isso, o tema do álbum “Gaston 50” (Marsu Productions), coordenado por Yvan Delporte e Frédéric Jannin, que recupera histórias antigas para enumerar os diversos aspectos de uma celebração (convites, presentes, balões, flores, comida, velas, música, etc.) não sendo difícil imaginar como cada um deles se pode revelar caótico, catastrófico, inesperado ou apenas irresistivelmente divertido quando considerado sob o signo de Gaston Lagaffe.

E como cereja no topo do bolo (da festa!) o álbum inclui cerca de meia centena de tiras e ilustrações inéditas de Franquin.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Gaston Lagaffe