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Asa e Público Lançam os Incontornáveis da BD

As edições Asa prosseguem a sua colaboração com o jornal Público, lançando uma nova colecção de Banda Desenhada, “Os Incontornáveis da BD”, cujo primeiro volume chegou às bancas, esta quarta-feira, dia 2 de Maio. Depois de uma última colecção centrada numa única série, de um só autor – o genial “Gaston Lagaffe”, de Franquin – voltamos às antologias colectivas, na linha de edições como “Grandes Autores de BD”, ou Clássicos da revista Tintin”.
No caso desta nova colecção, composta por 12 álbuns duplos, nem todos os títulos escolhidos merecerão o epíteto de “incontornáveis”, mas há vários volumes a não perder, começando já na próxima semana, com “O Gato do Rabino”, de Sfar.

“Gato do Rabino” que, com “IRS”, de Desberg e Vrancken, “O Buda Azul”, de Cosey e, parcialmente, “Max Fridman” (o episódio publicado nesta colecção, embora inédito em álbum, já tinha saído no “Jornal da BD”), de Giardino e “XIII Mystery”, representam séries que se estreiam em Portugal nesta colecção, sendo a maioria dos títulos constituídos por episódios inéditos de séries de que já foram publicados em Portugal alguns volumes, seja pela Asa, seja pelas extintas Meribérica e Booktree.
Ou seja, sendo uma grande misturada – de géneros, de autores, de estilos – esta colecção tem ainda assim, o grande mérito de permitir aos leitores portugueses continuar algumas colecções de séries de interesse, que tinham ficado paradas, algumas há mais de 2 décadas, como é o caso de “O Vagabundo dos Limbos”, de Godard e Ribera. E aí, há coisas bastante recomendáveis, como “Murena”, de Dufaux e Delaby, “Em Busca do Pássaro do Tempo”, “O Assassino”, de Jacamon e Matz, “Largo Winch”, de Francq e Van Hamme (que já tinha sido publicada pela Bertrand e Gradiva, sem grande continuidade) e “Adèle Blanc-Sec”, de Tardi, cujo 3º álbum surge nesta colecção acompanhado por “O Demónio dos Gelos”, uma história solta de Tardi, com uma ligação bastante mais ténue com a série “Adéle Blanc-Sec” do que, por exemplo, “Adieu Brindavione”, esse sim, uma escolha bastante mais lógica, tanto mais que Brindavoine é personagem recorrente das aventuras de Adèle, a partir do 5º álbum da série.
O 1º álbum da colecção, dedicado à série “Valerian e Laureline”, também é paradigmático das peculiaridades da edição em Portugal, pois recolhe os volumes 19 e 21 da série, que assim fica completa em Portugal. Se há que louvar a Asa por corrigir um erro antigo, quando lançou o 20º volume, “A Ordem das Pedras”, sem que o volume anterior tivesse sido alguma vez publicado em Portugal, a verdade é que, quem comprar este 1º álbum, terá que forçosamente comprar a “Ordem das Pedras”, de modo a perceber os capítulos finais da saga cósmica de Christin e Mèzieres…

Um pouco o que acontece com o volume dedicado á série “XIII Mystery”, que dá destaque a personagens secundários da série “XIII”, remetendo para álbuns da série principal, que nunca saíram em Portugal. Ou seja, apesar de uma selecção discutível (no geral como no particular), há que estar atento a esta nova colecção de Banda Desenhada que durante 12 semanas vai invadir as tabacarias e quiosques.

(“Os Incontornáveis de Banda Desenhada 1: Valerian e Laureline”, de Christin e Mézières Edições Asa/Público, 72 pags, 7,40 €. Todas as semanas em distribuição conjunta com o jornal “Público”, entre 2 de Março e 18 de Maio de 2011)

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Jornalistas nos Quadradinhos

Profissão de repórter vale aos heróis de papel acesso a informação e liberdade de movimento.

No passado dia 2, foi publicada a derradeira tira diária de Brenda Starr. Estreada nos jornais norte-americanos a 30 de Junho de 1940, a heroína criada por Dale Messick foi uma das primeiras da extensa linhagem de jornalistas dos quadradinhos.

Curiosamente – ou talvez não – os heróis de papel raramente são reconhecidos pelo que fazem na sua profissão. Tintin, o mais antigo (?) e o mais famoso jornalista europeu da BD, é conhecido como “o repórter que nunca escreveu uma linha”, o que não deixa de ser falso, pois o herói criado por Hergé em 1929, produziu uma única mas volumosa reportagem na sua primeira aventura “No país dos Sovietes”. Do outro lado do oceano, o repórter Clark Kent e o fotógrafo Peter Parker, usam-na apenas como fachada para esconderem a sua identidade de super-herói, respectivamente, Super-Homem e Homem-Aranha.
A constatação atrás expressa só vem reforçar que a escolha da profissão de jornalista pelos autores serve, antes de tudo, como fácil mas credível justificação às constantes deslocações dos protagonistas para os locais onde tudo acontece e também para acederem à informação com maior facilidade. É o que se passa com outra personagem de topo da escola franco-belga, o jornalista-detective Ric Hochet, criado em 1955 por Duchateu e Tibet, que entre perseguições emotivas, a descoberta de intrincados mistérios e o espatifar do seu Porsche amarelo tem ainda tempo para escrever no jornal La Rafale. Igualmente membro de uma redacção, Fantásio, alterna o seu quotidiano entre as grandes reportagens e a vida na redacção da revista Spirou, onde sofre e se exaspera com as partidas e disparates de Gaston Lagaffe, a incontornável criação de Franquin.
Entre aqueles cuja relação com a profissão é mais forte, conta-se Ernie Pike, correspondente de guerra da autoria de Oesterheld e Hugo Pratt, em 1957, que percorreu as principais frentes da II Guerra Mundial, testemunhando de forma crua e realista os seus dramas, horrores e feitos heróicos. Muito importante, embora não seja o protagonista, é o papel do jornalista Willy Richards (vulgo Poe dada à sua semelhança física com o célebre escritor), no western Bonelli “Mágico Vento” (presente nos quiosques nacionais), pela forma como se move nos meios oficiais onde obtém informações cruciais para as narrativas e para a contextualização histórica que o seu criador, Manfredi, lhes imprime.
Steve Roper, Jeff Cobb, Frank Cappa, Guy Lefranc ou Jill Bioskop são outros heróis jornalistas, capazes de evocar recordações nos que estão mais familiarizados com os quadradinhos, mas a geração que leu a BD Disney nos anos 70 e 80, com certeza recorda, divertida, as grandes confusões geradas pelos repórteres Donald e Peninha do jornal A Patada. Quanto à geração jovem actual, vibra com as reportagens e peripécias de Geronimo Stilton, director do Diário dos Roedores, principal quotidiano da Ilha dos Ratos, que embora nascido em romances juvenis, também já protagoniza aventuras aos quadradinhos.
E se muitos deles têm evoluído da imprensa escrita para a web – como é o caso de Peter Parker ou Ric Hochet, em histórias mais recentes – a perda de audiência dos jornais impressos poderá ser uma das explicações para o fim da carreira de Brenda Starr, quase 70 anos após o seu primeiro quadradinho, numa altura em que se destacava por ser mulher, tal como a sua criadora, num mundo em que imperavam os homens. Aliás, foram sempre mulheres que estiveram aos comandos do destino desta jornalista de investigação, elegante, inteligente e sensual, como o seu modelo, a actriz Rita Hayworth, em casos policiais com muita acção e romance.

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Maria Jornalista
Se a banda desenhada portuguesa nunca foi pródiga em personagens recorrentes, não surpreende que seja difícil encontrar nela protagonistas ligados à imprensa.
Um dos casos mais curiosos é o de Maria Jornalista, heroína de uma dezena de histórias de duas pranchas que os leitores da Notícias Magazine descobriram em 1994, mas que nunca foram compiladas em livro.
Passadas em diversos locais de Portugal (Viana, Porto, Aveiro, Sintra, Lisboa, …), nalguns casos com referência a personagens reais (Rosa Mota, Jorge Sampaio, Manuela Moura Guedes), cada narrativa teve um autor diferente (José Abrantes, Crisóstomo Alberto, Fernando Bento, Luís Diferr, José Garcês, Catherine Labey/Jorge Magalhães, Luís Louro, Baptista Mendes, José Ruy e Ana Costa/Augusto Trigo), que lhe imprimiu o seu próprio estilo gráfico e temático, do humor ao policial, do turístico ao onírico, da denúncia social ao fantástico.

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Gaston Lagaffe em desenho animado

Técnica inovadora vai dar vida ao herói criado por Franquin

Gaston Lagaffe, uma das mais marcantes criações da banda desenhada franco-belga, imaginada por Franquin, vai ganhar nova vida numa série de desenhos animados. O anúncio, feito pelo Syndicat des Producteurs de Films d’Animation (SPFA), dá conta do envolvimento na sua produção da Normaal Animation, da Marsu Productions e da cadeia televisiva France 3, as duas últimas já responsáveis pela passagem ao pequeno ecrã de outro herói de Franquin, o exótico Marsupilami.
Segundo o comunicado, nesta série de animação Gaston “aparecerá pela primeira vez nos ecrãs de televisão graças a uma nova técnica que permitirá animar directamente os desenhos originais do autor”, estando prevista a produção de 78 episódios de 7 minutos cada um. Este aspecto é dos que mais dúvidas tem levantado sobre a transposição de Lagaffe da 9ª arte para a TV, dado que as histórias originais, providas de um ritmo intenso e de um acentuado sentido de humor, decorriam em apenas uma ou duas pranchas. Outra das questões levantadas pelos muitos fãs de Franquin, é a questão da voz da personagem que cada leitor sempre “ouviu” de forma diferente na BD…
Integralmente editado em Portugal, Gaston Lagaffe, nasceu em 1957, no número 985 da revista “Spirou”, com aspecto ajuizado devido ao cabelo cortado curto e ao casaco e lacinho que vestia. Semanas depois, o cabelo tornou-se mais revolto e passou a vestir uns jeans, uma camisola verde de gola alta e umas alpercatas, que o acompanhariam toda a vida. Após algum tempo a vaguear (literalmente) pelas páginas da publicação, Lagaffe revelou os seus dotes de preguiçoso inveterado, uma invulgar aptidão para originar confusões e criar as mais mirabolantes (mas inúteis) invenções, desesperando os seus colegas da redacção da revista “Spirou”, cujo prédio destruiu por várias vezes. Dessa forma, André Franquin (1924-1997) fez dele um dos mais divertidos anti-heróis da BD, afirmando o seu sentido de humor transbordante e contagiante, e o seu traço pessoal, dinâmico, vivo e extremamente expressivo.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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Spirou nasceu há 70 anos

Efeméride comemorada com novo álbum, renovação da revista, exposição antológica e emissão filatélica

Foi a 21 de Abril de 1938 que o mundo conheceu um simpático groom de hotel, com o seu típico uniforme e barrete vermelhos, destinado a viver dezenas de espantosas aventuras, deliciando gerações ao longo dos anos.
O seu criador foi um obscuro Rob-Vel, de quem a BD não guarda mais recordações, mas, depois de uma passagem pelas competentes mãos de Jijé, que lhe juntou Fantásio, foi com o genial Franquin (de 1946 a 1968) que Spirou se assumiu como um dos grandes heróis de BD. Com ele, o conde de Champignac, Zorglub e o incrível Marsupilami ganharam vida e o humor irreverente andou a par da acção, numa série de histórias inesquecíveis.
Depois, com maior ou menor inspiração, Fournier, Nic e Cauvin, Tome e Janry ou Morvan e Munuera, foram-no adaptando aos tempos que viviam – gráfica e tematicamente – mantendo-se sempre uma referência. Em tempos mais recentes, tem vivido aventuras atípicas, no espaço de um só álbum. Na mais recente, “Jounal d’un ingénu”, Bravo fá-lo regressar às origens de paquete de hotel, como que fechando um ciclo, antes de mais algumas décadas de vida.
Com ele, em 1938, nascia também a sua revista, “Le Journal de Spirou”, que 70 anos depois, orgulhosa do título de mais antiga da Europa, continua fiel à linha traçada, com predominância do humor e direccionada para o público juvenil. A efeméride justificou remodelação, com mais séries e autores, retomando a tradição dos suplementos especiais e apresentando o número (#3653!) evocativo da data, envolto num “papel de embrulho” que esconde uma das suas quatro capas alternativas.
Na Bélgica foi lançado um bloco filatélico, baseado em desenhos de Franquin, e uma grande exposição retrospectiva da revista está patente até 8 de Junho no Centro Belga de BD, em Bruxelas, e, em França, a Casa da Moeda emitiu uma medalha especial alusiva.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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Yvan Delporte, a morte do argumentista modesto

Foi chefe de redacção da revista Spirou e escreveu argumentos de BD para Franquin e Peyo, entre muitos outros; Foi o inventor do nome de Gaston Lagaffe

Os leitores regulares de banda desenhada franco-belga, nos anos 60, 70 e 80, encontraram muitas vezes, em notas de rodapé ou nas páginas interiores dos álbuns, a referência: “segundo uma ideia de Delporte”. Esse Delporte, cujo nome poucas vezes apareceu na capa das muitas de dezenas de álbuns que escreveu ou cujas ideias base forneceu, faleceu ontem, dia 5, devido a doença, contava 79 anos.

Nascido em Bruxelas, a 24 de Junho de 1928, Yvan Delporte deu os primeiros passos no mundo da 9ª arte em 1945, nas edições Dupuis, como “retocador” das séries norte-americanas, julgadas “muito ousadas” para a época. Quatro anos mais tarde, assinava o seu primeiro argumento, uma história de “Jean Valhardi”, para Eddy Paape, a que se seguiriam muitos mais, para Hausman, Forton, Peyo (com quem desenvolveu muitas das aventuras dos “Schtroumpfs”), Jidéhem, Roba (“Boule et Bill)”, Will (“Isabelle”), Follet, 

Bretécher e, em especial, Franquin (sendo dele muitas das ideias dos gags de Gaston Lagaffe, que comemorou 50 anos a semana passada e cujo nome se deve a Delporte que coordenou o respectivo álbum comemorativo).

Mas apesar de ter colaborado com muitos dos grandes nomes do seu tempo, Delporte ficará na história da BD principalmente como chefe de redacção da revista Spirou, entre 1955 e 1968, onde “inventou” as histórias curtas, que serviram de porta de entrada a muitos autores. Em 1977, voltaria a inovar com o irreverente suplemento “Le Trombonne Illustré”, onde deu largas ao seu humor pouco convencional, negro e cáustico, que foi uma lufada de ar fresco para a BD humorista, encaminhando-a para temas mais adultos.

Uma monografia dedicada a Delporte estava em preparação. “Agora vai ser preciso terminar o livro com a ideia que ele não o vai ler”, foi a reacção dos seus autores, Christelle e Bertrand Pissavy-Yvernault.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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50 anos de confusões

Gaston Lagaffe, o herói mais trapalhão da BD, nasceu há meio século; Parcómetros de Bruxelas desactivados hoje em sua honra: Álbum com inéditos de Franquin assinala data

Há 50 anos, nas páginas da revista “Spirou” belga, aparecia pela primeira vez uma estranha personagem, então de casaco e lacinho, sem que ninguém – nem ele próprio – soubesse muito bem porquê. Poucas semanas depois, a sua indumentária mudava para uns jeans uma camisola de gola alta e umas alpercatas, que o acompanhariam toda a vida. Após algum tempo a vaguear (literalmente) pelas páginas da publicação, Gaston Lagaffe protagonizava os seus primeiros disparates, iniciando uma longa e (justamente) celebrada carreira assente numa preguiça sem igual, numa postura física reveladora da mais entranhada moleza e numa invulgar capacidade de se ocupar com tudo e nada para deixar de lado o realmente urgente. Assim, originou um sem número de inenarráveis acidentes, invenções estrambólicas e ideias disparatadas, que fizeram a vida negra aos seus colegas da redacção da revista – com Fantásio em particular destaque – cujo edifício destruiu várias vezes e tornando-o na personagem mais calamitosa e desajeitada da histórias da banda desenhada, que fez da vida monótona num escritório uma surpresa constante. E, claro, num dos (anti)-heróis mais amados da 9ª arte, a pé ou tripulando o seu Fiat 509, inventando o ininventável ou tocando o ensurdecedor broncofone. Através dele, Franquin, por natureza introvertido e depressivo, deu largas ao seu génio, através de um humor transbordante e contagiante e de um traço personalizado, vivo, dinâmico e extremamente expressivo, muitas vezes copiado mas nunca igualado.

Várias vezes reeditado (inclusivamente em Portugal, onde começou por se chamar Jeremias…!), imortalizado numa estátua em tamanho natural no centro da Bruxelas que ele atormentou, Gaston Lagaffe vê a sua cidade natal assinalar os seus 50 anos com um mural com mais de 3 metros de altura (inaugurado ontem) e um dia sem parcómetros (hoje), em homenagem à guerra que ele sempre lhes moveu nas suas aventuras, para desespero do abnegado (e infeliz) agente da lei Longtarin.

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50 anos de Festa

“Festa” é uma das palavras mais adequadas para classificar o espírito de Gaston e é, por isso, o tema do álbum “Gaston 50” (Marsu Productions), coordenado por Yvan Delporte e Frédéric Jannin, que recupera histórias antigas para enumerar os diversos aspectos de uma celebração (convites, presentes, balões, flores, comida, velas, música, etc.) não sendo difícil imaginar como cada um deles se pode revelar caótico, catastrófico, inesperado ou apenas irresistivelmente divertido quando considerado sob o signo de Gaston Lagaffe.

E como cereja no topo do bolo (da festa!) o álbum inclui cerca de meia centena de tiras e ilustrações inéditas de Franquin.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

Gaston Lagaffe