BD sobre a PIDE editada em Itália

Sonno elefante é “uma metáfora sobre a perda da memória de um lugar”, disse ao JN o autor, Giorgio Fratini

Acaba de ser editada em Itália, pela editora BeccoGiallo, uma banda desenhada cuja história “roda à volta de um lugar tristemente famoso de Lisboa, a ex-sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso”, revelou ao JN o seu autor, o italiano Giorgio Fratini.
Nascido a 23 de Novembro de 1976, é “arquitecto, licenciado pela Faculdade de Arquitectura de Florença” e esteve em Portugal “pela primeira vez em 2000, para estudar arquitectura ao abrigo do programa Erasmus”.
A Lisboa, voltou “várias vezes” e dessas estadias nasceu “Sonno Elefante – I muri hano orecchie”, cujo título, diz, “é uma metáfora sobre a perda da memória de um lugar, de um pedaço da história”. Algo como “o sono da memória”, acrescenta Fratini, cujo traço a preto e branco, matizado de cinzentos, em que se destaca o tratamento realista dado aos edifícios, que contrasta com o tom semi-caricatural das personagens, e a agradável e multifacetada composição das páginas, não deixam adivinhar tratar-se da sua primeira obra.
O ponto de partida para a história foi a descoberta de que a antiga sede da PIDE, iria ser “remodelada, dando lugar a um conjunto de apartamentos de luxo e lojas”. Nada de especial, a acreditar nas palavras de uma personagem, logo nas primeiras páginas do livro: “E então? Um dia há uma coisa, depois outra; é normal, não é?”.
A história, resume o autor, está “ambientada poucos anos antes da Revolução dos Cravos e segue os destinos de Zé, Marisa, Leon, Maria e Afonso”, ligados àquele “palácio nefasto, como aconteceu a milhares de cidadãos portugueses comuns”. Entre eles “há quem se oponha, quem traia, quem colabore, quem se anule e quem morra. E um deles, muitos anos depois, volta àquele lugar trazendo consigo o que considera impossível cancelar: a própria história”. E recorda “o terrível passado do edifício, as crueldades que tiveram lugar dentro daquelas paredes, os gritos e lágrimas sufocados naqueles quartos, lutando, à sua maneira, contra a destruição da memória de todas as vidas ali perdidas na luta pela liberdade”, conclui o editor, Federico Zaghis.
Uma história narrada ao longo de pouco mais de uma centena de pranchas, “inspirada parcialmente em factos reais, trabalhados pela minha imaginação”, para a qual Giorgio Fratini, “para além da Internet”, teve que “fazer pesquisas no Arquivo da PIDE, na Torre do Tombo, e no Centro de Documentação 25 Abril da Universidade de Coimbra, bem como no arquivo fotográfico em linha da Câmara Municipal de Lisboa, fundamental para a iconografia dos anos 70” em que decorre boa parte de “Sonno Elefante”, para já sem edição prevista no nosso país, embora “haja alguns contactos com editoras portuguesas”, revela o autor.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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