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BD sobre a PIDE para celebrar Abril

Obra do italiano Giorgio Fratini é “uma metáfora sobre a perda da memória”; Lisboa dos anos 70 é testemunha muda da actuação da polícia política

Para assinalar o 34º aniversário da Revolução dos Cravos, a Campo das Letras acaba de editar “As paredes têm ouvidos – Sonno Elefante”, um romance gráfico cuja acção decorre a dois tempos, nos últimos anos da ditadura e em 2006, centrada no edifício da R. António Maria Cardoso que serviu de sede à PIDE, e que retrata, de forma contida mas realista, alguns métodos dos seus agentes – “que não investigam antes de prender, prendem para investigar”, lê-se a certa altura.
Esta banda desenhada nasceu de uma notícia sobre a transformação daquele edifício num condomínio de luxo, e é “uma metáfora sobre a perda da memória de um lugar, logo de um pedaço da História”, revelou ao JN o autor, aquando da edição italiana do livro, no início de 2008. Isto porque, curiosamente, esta é uma obra de um italiano, Giorgio Fratini, que conheceu Portugal em 2000, ao abrigo do programa Erasmus.
Ou talvez não, se pensarmos que os quadradinhos nacionais raramente abordaram o meio século de ditadura salazarista, embora não seja “exclusiva da BD esta cegueira criativa e libertária em relação a um período tão rico (para o melhor e para o pior)”, como refere João Paulo Cotrim, argumentista de “Salazar – Agora na hora da sua morte” (2006), um outro romance gráfico situado na mesma época, que humaniza o mito do ditador, como forma de o desmistificar. E acrescenta: “caiu sobre o período da ditadura um véu politicamente correcto que não permitiu que o olhar da criação, cujo pressuposto é a absoluta liberdade, iluminasse o período do regime para além do (que parece) bem e mal”.
Para além de “Salazar…”, algumas das excepções mais relevantes são “As pombinhas do Sr. Leitão” (1999), de Miguel Rocha, ou “Operação Óscar” (2000), de José Ruy, a par de alegorias mais datadas como “Kolanville” (1974), de Duarte, “O País dos Cágados” (1989), de Artur Correia e Gomes de Almeida ou “Wanya” (1973; reedição Gradiva, 2008), de Nelson Dias e Augusto Mota, embora, “paradoxalmente, algumas das mais interessantes produções recentes” – muitas delas “perdidas” em jornais e revistas – “se incluam nesta vertente da BD de cariz histórico”. E isto apesar de a banda desenhada “ter sido uma linguagem bastante usada pelas propagandas da ditadura”, conclui Cotrim.
“As paredes têm ouvidos”, cuja acção decorre também nas ruas inclinadas e nas tabernas típicas de Lisboa, cujas casas e prédios são testemunhas mudas dos medos e mordaças que então imperavam, traça igualmente o percurso de cinco amigos, cujas vidas são profundamente afectadas pela actuação da polícia política, “entre os quais há quem se oponha, quem traia, quem colabore, quem se anule e quem morra”.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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BD sobre a PIDE premiada em Itália

“Sonno Elefante – I muri hano orecchie”, romance gráfico de Giorgio Fratini centrada no edifício da Rua António Maria Cardoso, que serviu de sede à PIDE, foi escolhido como o Melhor Livro Italiano pelo Festival de BD de Roma – Romics 2008.
O júri partiu de uma lista que incluía cinquenta dos melhores títulos de banda desenhada editados em Itália, tendo distinguido igualmente grandes nomes dos quadradinhos como o japonês Jiro Taniguchi (Grande Prémio Romics 2008), os norte-americanos Alan Moore, Melinda Gebbie e Howard Chaykin ou o italiano Vittorio Giardino.
Editado em Portugal pela Campo das Letras com o título “As paredes têm ouvidos – Sonno Elefante”, para assinalar o 34º aniversário da Revolução dos Cravos, segue os destinos de cinco amigos, a dois tempos, nos últimos anos da ditadura, na Lisboa de 1970, e na actualidade, em 2006, mostrando como a actuação dos agentes da PIDE naquele edifício marcou a vida de muitos portugueses.
O ponto de partida para a obra, que o autor definiu ao JN como “uma metáfora sobre a perda da memória de um lugar”, foi a descoberta de que a antiga sede da PIDE, estava a ser remodelada para dar lugar a um conjunto de apartamentos de luxo e lojas.


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F. Cleto e Pina

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BD sobre a PIDE editada em Itália

Sonno elefante é “uma metáfora sobre a perda da memória de um lugar”, disse ao JN o autor, Giorgio Fratini

Acaba de ser editada em Itália, pela editora BeccoGiallo, uma banda desenhada cuja história “roda à volta de um lugar tristemente famoso de Lisboa, a ex-sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso”, revelou ao JN o seu autor, o italiano Giorgio Fratini.
Nascido a 23 de Novembro de 1976, é “arquitecto, licenciado pela Faculdade de Arquitectura de Florença” e esteve em Portugal “pela primeira vez em 2000, para estudar arquitectura ao abrigo do programa Erasmus”.
A Lisboa, voltou “várias vezes” e dessas estadias nasceu “Sonno Elefante – I muri hano orecchie”, cujo título, diz, “é uma metáfora sobre a perda da memória de um lugar, de um pedaço da história”. Algo como “o sono da memória”, acrescenta Fratini, cujo traço a preto e branco, matizado de cinzentos, em que se destaca o tratamento realista dado aos edifícios, que contrasta com o tom semi-caricatural das personagens, e a agradável e multifacetada composição das páginas, não deixam adivinhar tratar-se da sua primeira obra.
O ponto de partida para a história foi a descoberta de que a antiga sede da PIDE, iria ser “remodelada, dando lugar a um conjunto de apartamentos de luxo e lojas”. Nada de especial, a acreditar nas palavras de uma personagem, logo nas primeiras páginas do livro: “E então? Um dia há uma coisa, depois outra; é normal, não é?”.
A história, resume o autor, está “ambientada poucos anos antes da Revolução dos Cravos e segue os destinos de Zé, Marisa, Leon, Maria e Afonso”, ligados àquele “palácio nefasto, como aconteceu a milhares de cidadãos portugueses comuns”. Entre eles “há quem se oponha, quem traia, quem colabore, quem se anule e quem morra. E um deles, muitos anos depois, volta àquele lugar trazendo consigo o que considera impossível cancelar: a própria história”. E recorda “o terrível passado do edifício, as crueldades que tiveram lugar dentro daquelas paredes, os gritos e lágrimas sufocados naqueles quartos, lutando, à sua maneira, contra a destruição da memória de todas as vidas ali perdidas na luta pela liberdade”, conclui o editor, Federico Zaghis.
Uma história narrada ao longo de pouco mais de uma centena de pranchas, “inspirada parcialmente em factos reais, trabalhados pela minha imaginação”, para a qual Giorgio Fratini, “para além da Internet”, teve que “fazer pesquisas no Arquivo da PIDE, na Torre do Tombo, e no Centro de Documentação 25 Abril da Universidade de Coimbra, bem como no arquivo fotográfico em linha da Câmara Municipal de Lisboa, fundamental para a iconografia dos anos 70” em que decorre boa parte de “Sonno Elefante”, para já sem edição prevista no nosso país, embora “haja alguns contactos com editoras portuguesas”, revela o autor.


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F. Cleto e Pina

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