Filipe Melo: “Temos orgulho no que éramos na altura, mas agora somos melhores”

“Aventuras Completas de Dog Mendonça e Pizzaboy” já nas livrarias

Acaba de chegar às livrarias nacionais “As Aventuras Completas de Dog Mendonça e Pizzaboy”, uma paródia aos grandes filmes de aventuras dos anos 1980 e um ‘tijolo’ com mais de 450 páginas de BD que foi o pretexto para uma entrevista com os seus criadores, Filipe Melo e Juan Cavia.
Este volume reúne os três álbuns originais, as histórias curtas publicadas pela primeira vez nos Estados Unidos, um conto inédito, diversos extras e os prefácios assinados por John Landis, Lloyd Kaufman, George A. Romero e Tobe Hooper. Treze anos depois da publicação do primeiro livro, “representa o fim de um logo caminho” diz Filipe Melo, “algo que tínhamos de fazer antes de começar um novo projecto”. Juan Cavia, o desenhador confessa “vergonha em reeditar só o primeiro livro, porque já não nos representa; na época éramos muito jovens.” E assevera: “a pressão de voltar a Dog Mendonça e Pizzaboy estava a esgotar-nos”. Melo complementa: “temos orgulho no que éramos na altura, mas agora já somos melhores do que isto. Por isso, foi incluída uma história nova, protagonizada pela Madame Chen, que representa a visão actual dos autores, o que são hoje”. E explica: “logo na terceira página do argumento, ficou claro que não podíamos seguir o mesmo esquema”, por isso, a solução foi “um conto ilustrado, com um desenho mais livre, mais poético, que encerra o livro e ao mesmo tempo é o início de todas as aventuras”.
Questionados sobre voltarem um dia às personagens, Melo repete que “é um capítulo encerrado, ultra-enterrado e com construções por cima!” Mas entreabre a porta: “Ter uma ideia é difícil… se surgir uma boa ideia, será um crime não a aproveitar”. Cavia reitera por outras palavras: “neste momento não existe vontade, mas não sou fundamentalista… tudo pode acontecer!”.
Inicialmente pensadas como um filme protagonizado por Nicolau Breyner, “As Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy”, um detective lobisomen e um entregador de pizzas, auxiliados por um demónio de 6000 anos e a cabeça de uma gárgula, acabaram por ser narradas em banda desenhada, tornando-se um dos maiores sucessos dos quadradinhos nacionais. Melo revela que a partir do segundo álbum começou a escrever “em função do desenho do Juan” e que entre os dois se desenvolveu “uma química perfeita”. Nunca pensou “escrever para outros desenhadores”, pois embora ele e Cavia não sejam “ciumentos”, têm “um casamento artístico muito feliz”.
Em termos de futuro, confessam que ainda não estão a trabalhar num nova obra. Filipe Melo revela até “que conceber este volume integral foi uma forma de fugir ao livro que vem depois do “Balade para Sophie”. O sucesso nacional, em França, Espanha e Estados Unidos, com a nomeação para diferentes prémios, “inconscientemente é um peso e uma responsabilidade extras”, reconhece Juan Cavia. O argumentista contrapõe: “Para mim não; o facto de ter corrido bem, dá margem para fazermos algo que não corra tão bem… mas tem de ser novo, representar uma motivação acrescida”. “Acima de tudo”, conclui Cavia, “tem de ser algo honesto”.
Quando terminaram “Balada para Sophie”, “que saiu durante a pandemia, por isso com padrões distorcidos” recorda Cavia, “havia a noção que era um livro mais tradicional, mais universal, logo mais vendável. Mas também era um livro muito longo, trabalhado durante vários anos. Podia ter corrido mal, mas o que dá mais trabalho, também dá melhores resultados”.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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