É o mais duradouro western dos quadradinhos; Edição a cores e reedição do único romance que protagonizou assinalam data; Jornal do Vaticano dedicou amplo espaço à criação de Bonelli e Galep; Blog português homenageia herói com conto literário de Jorge Magalhães e Augusto Trigo
1948, 30 de Setembro, um homem espreita por detrás de umas rochas. A roupa identifica-o como cowboy, nas mãos tem duas pistolas prontas a utilizar e, mais tarde, saber-se-á que se chama Tex Willer. Assim se iniciava o mais duradouro western da história da banda desenhada, então protagonizado por um fugitivo da justiça que viria a tornar-se um ranger do Texas e também chefe dos navajos, como “Águia da Noite”. A história, intitulada “Il Totem Misterioso”, da autoria de Gianluigi Bonelli (texto) e Aurelio Galleppini (desenhos), aparecia na “Collana del Tex”, uma publicação com um estranho formato alongado, com apenas uma tira por página.
Era o princípio de uma lenda, que marcaria gerações e definiria um género, os “fumetti”, a banda desenhada italiana, de características populares (preço baixo, papel de qualidade inferior, formato médio, impressão e preto e branco, histórias com duas ou três centenas de páginas), combinando relatos ficcionais com muita acção e uma sólida base histórica. E dava origem a um verdadeiro império dos quadradinhos em Itália, mais tarde alargado a criações como “Dylan Dog”, “Martin Mystère”, “Mágico Vento” ou “Júlia”, mas sempre alicerçado na imensa popularidade de Tex que, nalguns períodos chegou a vender mais de um milhão de exemplares mensais, chegando depois aos quatro cantos do mundo. A Portugal, as suas aventuras cujo protagonismo compartilha quase sempre com Kit Carson e, por vezes, com Jack Tigre e o filho Kit, chegam desde os anos 70 via Brasil, agora em edições da Mythos Editora que cativam três a quatro milhares de leitores por mês.
Agora, 60 anos depois, a revista “Tex #575” assinala a data com a história a cores “Sul sentiero dei ricordi”, escrita por Cláudio Nizzi e desenhada por Fabio Civitelli, que evoca o seu breve casamento com a índia Lylith, e oferecendo a reedição de “Il massacro di Goldena”, o único romance protagonizado pelo ranger, escrito por G. Bonelli em 1951.
Inspirado em Gary Cooper e nos míticos westerns cinematográficos, Tex é um homem duro e obstinado, típico de um Oeste duro e agreste, onde a força das armas impunha a lei, sempre ao lado dos desfavorecidos, independentemente da sua raça ou cor. Também por isso, até o “L’Observatore Romano”, o jornal oficial do Vaticano, lhe dedicou algumas páginas na sua edição de 14 de Agosto, descrevendo-o como “um justiceiro americano, capaz de distinguir ‘sem ses e sem mas’, o bem do mal”, que “agrada aos operários, aos estudantes, aos intelectuais e aos políticos”, e tem “comportamentos irrepreensíveis ditados por valores não negociáveis”, embora “ao mesmo tempo se torne protagonista de acções que por vezes desembocam na justiça sumária”, tendo matado ao longo de 60 anos “quase três mil pessoas, uma média de sete cadáveres por edição”.
Os 60 anos em Portugal
O 19º Festival de BD da Amadora, de 24 de Outubro a 9 de Novembro, tem prevista uma exposição, o BDJornal #24 vai publicar um dossier sobre o ranger, que inclui uma BD curta, e o “Blog do Tex” (www.texwiller.blog.com), tem on-line “Tex e os Coyoteros”, uma homenagem “não oficial” de Jorge Magalhães e Augusto Trigo, que mostra um Tex diferente, na sua estreia em conto literário, introspectivo e a questionar acções do seu passado, e a ter até um relacionamento romântico, tema tabu nos quadradinhos.
Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias