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Clássico da BD portuguesa dos anos 70 reeditado

Wanya – Escala em Orongo” foi lufada de ar fresco no panorama nacional; Obra chegou a estar no index dos livros que não convinham ao regime

Corria o ano de 1973. Às livrarias portuguesas, com a surpreendente tiragem de 5000 exemplares, chegava “Wanya – Escala em Orongo”, uma banda desenhada com “uma mensagem pacifista de carácter universal”, escrevia então Vasco Granja. Com um traço realista, assente numa cuidada técnica de pontilhado e numa planificação dinâmica e diversificada, “Wanya…” abria novos caminhos para a BD portuguesa que, no entanto, nunca foram trilhados.
Agora, 35 anos depois, a reedição, pela Gradiva, cumpre o desejo da pintora Maria João Franco de “dar a conhecer a obra de Nelson Dias”, seu marido e desenhador da obra, já falecido, e “revelar a importância de “Wanya” a uma nova geração”.
Que, conta Augusto Mota, o argumentista, então professor em Leiria, “nasceu por acaso, na onda da nova BD francesa dos anos 60. O Nelson” – também professor – “elaborou seis pranchas, para experimentar a “gramática” da narração figurativa e desafiou-me para criar um texto que o levasse a conseguir uma história com princípio, meio e fim; ao longo de três anos fomos discutindo a estrutura gráfica da obra, para que texto e desenho se complementassem”. Acrescenta Mª João que o marido “trabalhou exaustivamente na obra, desenhando preciosa e apaixonadamente cada centímetro da página, como se de uma teia imensa se tratasse”.
Para modelo da heroína, Dias usou a esposa que gostou “de se ver no papel, como Vânia, a jovem mulher símbolo de um sonho para um mundo melhor; aquele deveria ser o “papel” de todos nós: resgatar o Mundo para os vindouros, para o Homem como ser total, pondo as suas capacidades ainda por descobrir ao serviço da paz e da justiça”.
A reacção “dos leitores e da crítica ultrapassou as expectativas”, relembra Mota: “ficaram seduzidos pelo rigor e beleza do desenho; o texto era quase só pretexto para que o leitor-espectador não se perdesse naquele universo de imagens”. Para o qual são unânimes ao indicar uma influência: “A Saga de Xam”, de Nicolas Devil”.
Apesar da temática abordada em “Wanya” – a libertação de um povo oprimido – aludindo a “um clima de opressão, que todos sentiam, embora sem qualquer intenção panfletária da nossa parte”, garante o argumentista, “não houve problemas com a censura”. Mas podia ter havido, “se não se tivesse dado o 25 de Abril, porque foi incluída no “índex” dos livros que não convinham ao regime”.
Curiosamente, foi a revolução que tornou Vânia, heroína de uma só BD, porque “o Nelson foi destacado para a reestruturação da Escola do Magistério Primário de Leiria, e deixou de ter tempo e disponibilidade de espírito”, recorda a esposa, pelo que “a segunda aventura, “O Povo dos Espelhos”, passada noutra dimensão, atrás da realidade que os espelhos reflectem”, revela Augusto Mota, se ficaria “apenas por seis pranchas, a cores”.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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Prémio Nacional del Comic para Max

Galardão instituído pelo Ministério da Cultura espanhol atribuído pela primeira vez; Autor catalão foi visita assídua do Salão de BD do Porto e esteve este ano no Festival de Beja

O desenhador catalão Francesc Capdevila, conhecido como Max, foi o vencedor do Prémio Nacional del Comic (dotado de 15 000 euros), instituído pelo Ministério da Cultura espanhol, com o objectivo de conseguir um maior reconhecimento para a banda desenhada. Atribuído este ano pela primeira vez, a uma obra publicada em 2006, numa das línguas oficiais de Espanha, distinguiu “Hechos, dichos, ocurrências y andanzas de Bardin el Superrealista”, colectânea de histórias publicadas desde 1997, em revistas e jornais. O comunicado do Ministério da Cultura justifica a escolha por se tratar de uma obra “graficamente deslumbrante, com um guião original e repleto de referências literárias, filosóficas e cinematográficas (…) que marca um antes e um depois na banda desenhada espanhola”.
Personagem de cabeça desproporcionada, sinónimo talvez dos muitos sonhos que o animam e o levam por mundos oníricos e surrealistas, Bardin, que segundo o autor disse à agência EFE, “fala da realidade de forma não realista, pois trata de temas que nos afectam a todos, transportados para ambientes inverosímeis e fantásticos”, está longe de ser uma obra fácil ou comercial, a que levou os blogues especializados a aplaudirem especialmente a sua atribuição a Max. Este, afirmou também esperar que este prémio “leve a BD a ser equiparada a outras actividades artísticas e a ter o impulso social e mediático de que necessita”.
Max, que cria BD desde 1973, quase sempre em publicações independentes (algumas auto-editadas) e marginais, teve já exposições nos salões de BD do Porto, Amadora, Lisboa e Beja (este ano). Apesar disso, a sua obra, onde se incluem as aventuras de “Peter Pank”, uma referência dos anos 80, é quase inédita em português, sendo excepção algumas histórias de Bardin, publicadas na revista Quadrado, da Bedeteca de Lisboa.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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