Afirma Colin Wilson, desenhador de Major Alvega, que hoje regressa às livrarias portuguesas, e também de Blueberry e Tex; “É mais fácil desenhar aviões do que cavalos”, revela o autor; História comemorativa dos 50 anos do herói chega com dois anos de atraso
Começa hoje a ser distribuído nas livrarias portuguesas o livro “Battler Britton /Major Alvega” (BDMania), que há dois anos assinalou os 50 anos da criação daquele que foi, possivelmente, o mais popular herói dos quadradinhos da Segunda Grande Guerra em Portugal, apesar da sua origem inglesa (ver caixa).
Esta nova aventura, decorre em Outubro de 1942, numa altura em que os alemães pareciam imparáveis nos seus avanços. Neste contexto, o ás da aviação da RAF (Royal Air Force, a Força Aérea britânica), é enviado para uma base americana no Norte de África, para preparar um ataque conjunto às forças de Hitler, tendo que enfrentar, para além dos perigos habituais, a zombaria dos pilotos americanos.
Originalmente editada pela Wildstorm, um dos selos da DC Comics, como uma mini-série de cinco números, tem capas de Garry Leach e a assinatura do britânico Garth Ennis, reputado argumentista de “Preacher”, “Hitman” ou “Judge Dread”, e do neo-zelandês Colin Wilson, que os portugueses conhecem como desenhador de “A Juventude de Blueberry” e de “O último rebelde”, um Tex gigante da Mythos.
Sobre este trabalho o artista, de 58 anos, afirmou ao JN ser “muito diferente dos meus westerns”, esperando que “tal como Blueberry e Tex, seja uma boa aventura, que por acaso decorre durante a Segunda Guerra Mundial”. Tendo dificuldades em comparar “o trabalho envolvido nestes dois géneros”, reconhece que continua a “achar muito mais fácil desenhar aviões do que cavalos”!
O trabalho nesta mini-série permitiu-lhe o reencontro com um dos heróis da sua juventude, já que era “um grande fã dos pequenos formatos sobre a Segunda Guerra Mundial, publicados na Grã-Bretanha pela Fleetway, em especial das histórias com aviões, muitas delas de Battler Britton”. Entre elas destaca as “desenhadas pelo britânico Ian Kennedy”, por isso, “imediatamente aceitei desenhar a história e senti-me honrado por seguir as pisadas deste grande artista” que, soube mais tarde, “tinha sido a primeira escolha para desenhar o regresso de Battler, tendo recusado por estar retirado“. E revela “quando o Garth Ennis e eu discutimos o projecto, concordámos logo em torná-lo uma homenagem à sua maravilhosa arte”.
Não se reconhecendo no herói – “Battler é íntegro, indomável e invencível, portanto impossível de tomar como modelo” – afirma que “o maior desafio desta BD foi representar os aspectos técnicos de uma forma visualmente convincente e correcta. Especialmente os voos dos aviões, algo que eu já desejava há anos. Felizmente o Garth é especialista na matéria e ajudou-me muito nos detalhes de uniformes, equipamentos e aviões. Acho que é visível no resultado final o prazer que tive no seu desenho”.
Em relação ao original, criado há mais de meio século, Wilson acredita que “a grande diferença é que o Garth e eu pudemos trabalhá-lo juntos. Nos anos 50 e 60, na Fleetway, em que os autores nem sequer eram creditados, duvido que alguns autores sequer se conhecessem. Eu e o Garth pudemos sentar-nos e conversar demoradamente sobre a aproximação que queríamos fazer ao herói. Acho que essa consistência se nota na história”.
História que foi “bastante bem recebida pelos leitores; fiquei surpreendido como tantos ainda recordavam e gostavam das histórias originais”.
[Caixa]
Inglês ou português?
Criado em 1956, na revista Sun, por Mike Butterworth (argumento) e Geoff Campion (desenho), como “Battler Britton – England’s Fighting Ace of Land, Sea and Air”, o ás da aviação inglesa, que foi também desenhado por Pratt, Ortiz, Battaglia ou Gino D’Antonnio, para a Fleetway, chegaria a Portugal no início dos anos 60, nas minúsculas páginas de “O Falcão”. Por “indicação da censura”, foi rebaptizado por Mário do Rosário, director da revista, e por Anthímio de Azevedo, o tradutor, passando a chamar-se Jaime Eduardo de Cook e Alvega, com pai ribatejano, mãe inglesa, estudos em Coimbra e patente de major em vez do original tenente-coronel!
Era a forma do Estado Novo criar bons exemplos “bem portugueses”, que também mudou o nome a outros heróis dos quadradinhos: Rip Kirby foi Rúben Quirino, Flash Gordon, Capitão Raio ou Relâmpago, o pugilista Big Ben Bolt tornou-se o campeão luso Luís Euripo e o ás do volante Michel Vaillant chamou-se Miguel Gusmão. E que também retocou decotes e saias curtas – ou simplesmente os escondeu com borrões de tinta – e apagou muitas armas, deixando heróis e bandidos a disparar com os dedos!
Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias