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Fim do milénio à moda do Porto

Retrato das noites portuenses nos últimos anos do século passado, das bandas de garagem aos pequenos festivais, o percurso de uma tribo de góticos

“Companheiros da Penumbra”, edição da Chili com Carne já em segunda edição, é um enorme fresco de mais de 300 páginas sobre as noites da cidade do Porto nos últimos anos do século passado.
Com a narrativa balizada entre o VIII Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto, em Outubro de 1995, e os últimos dias de 1999, “Companheiros da Penumbra” acompanha uma tribo de góticos numa época em que destinos, vontades, sonhos e anseios, se expressavam livremente, cruzando-se, chocando ou avançando juntos, para sucessos e desilusões que só se vivem uma vez e que, mesmo não parecendo, fizeram deles o que viriam a ser.
São cinco anos intensos, vividos e narrados em ritmo acelerado, num tempo em que as noites portuenses se abriam a todas as experiências artísticas, gráficas ou principalmente musicais, com a adrenalina e as descobertas pautadas com muito álcool, algumas drogas e pelos ritmos vivos e pesados, ensaiados em casa para desespero dos vizinhos ou mostrados em público em bares, salas de alterne ou armazéns abandonados, onde os festivais se sucediam ao ritmo da iniciativa e da partilha de experiências e em que todas as expectativas eram legítimas.
Após uma leitura que se torna compulsiva, de “Companheiros da Penumbra” fica a ideia de um retrato sincero da época, naturalmente subjetivo porque maculado pelo olhar pessoal de quem o viveu intensamente. Retrato delineado por Nunsky de forma expressiva, com um traço realista que recria espaços e lugares perfeitamente reconhecíveis, servido por uma apurada técnica de contrastes de branco e negro que salienta as opções estéticas dos intervenientes e a extensa banda sonora que atravessa todo o livro, de Bauhaus, The Cure, Joy Division ou Mission às bandas que nascem e acabam perante os nossos olhos.
E mesmo os que não integraram as tribos mostradas, que não viveram aqueles momentos ou outros semelhantes, que não passaram por alguns daqueles espaços, certamente recordarão locais, nomes e acontecimentos que, de alguma forma, marcaram e construíram a história musical e artística da cidade do Porto naquele período de 5 anos que o leitor devora avidamente à procura de se redescobrir, antes do final de um milénio que se anunciava por um lado de profunda mudança e por outro de grande incerteza.

Companheiros da Penumbra
Nunsky
Chili com Carne
320 p., 20,00 €


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Os Companheiros da Penumbra

por David Pontes

Há um tempo em que o mundo parece um lugar aberto a todas os sonhos e possibilidades e, simultaneamente, o destino onde os nossos medos moram, à espera de se tornarem a realidade. Um tempo em que forjamos carácter, conjugamos forças, exorcizamos destinos marcados. Procuramos companhia para a viagem, naqueles com quem podemos partilhar códigos indecifráveis para a maioria e uma imparável vontade de não nos vermos diluídos na multidão.

Esse tempo chama-se juventude e é nela, que de uma forma empolgante, Nunsky nos leva a mergulhar no seu “Companheiros da Penumbra”.

É desse tempo, em que podíamos ser músicos, editores, organizadores de espectáculos, estilistas, realizadores de cinema, autores de banda desenhada, sem ter de gastar uma vida em cada uma dessas vocações, que nos fala esta banda desenhada ímpar. Anos feitos de conspirações à mesa do café, sessões de cinema em casa de amigos, palcos improvisados em casas de alterne, incursões ao Portugal “real”, excessos e amores suspirados, conquistas e derrotas amargas. Mesmo para quem não se entregou às trevas da nação gótica, mas abraçou uma qualquer tribo urbana, “Companheiros da Penumbra” é um local perfeitamente reconhecível, nostalgicamente familiar.

Até porque esta é uma viagem a um Porto muito diferente da cidade conquistada pelo turismo de hoje. Um tempo de passagem em que especialmente a Sé e a Ribeira, mas também os centros comerciais decadentes, encontravam novos habitantes nas hordas de juventude que iam enchendo bares e discotecas, onde antes havia armazéns e estabelecimentos comerciais. Nessa altura, a cidade, com todas as suas promessas adiadas de cosmopolitismo, pertencia-lhes, era o lugar onde se erguia alto a bandeira do direito à diferença.

Nunsky consegue unir isto tudo com um traço distintivo e sólido e com uma banda sonora irrepreensível, que faz de “Companheiros da Penumbra” um excelente parceiro para regressar a esses tempos negros e brilhantes.

Exposição

Na Galeria Mundo Fantasma, de 10 de Fevereiro a 24 de Março

Companheiros da Penumbra

All we ever wanted was everything
All we ever got was cold

—Bauhaus

Nunsky

Companheiros da Penumbra
Companheiros da Penumbra.

Nunsky é o pseudónimo de um autor de BD que desde há vários anos tem dado à estampa obras que surpreendem pela qualidade e coerência. Companheiros da Penumbra, a sua última obra (edição da Chili com Carne) é já um livro de culto e um sucesso de público à medida do mercado português.

No âmbito da apresentação da Bedeteca, a Galeria de BD e Ilustração Mundo Fantasma apresenta uma exposição dos originais desta obra e promove uma conversa em torno dela e da cena alternativa do Porto dos anos 80/90, com a presença de Esgar Acelerado (editor de fanzines e de discos), Carlos Moura (alternador de discos), José Alberto Pinheiro (professor e ex editor de fanzines) e Miguel T. (proprietário da Piranha, ex-Peresgótika Records e Fanzine, ex-O Arco do Cego — programa de rádio).

Data

10 de Fevereiro às 15h00

Companheiros da Penumbra

Nunsky, um criador nortenho (Maia) que só participou em três números do zine Mesinha de Cabeceira nos tempos das fotocópias…

Assina o número treze por inteiro, um número comemorativo dos 5 anos de existência do zine e editado pela Associação Chili Com Carne. Essa banda desenhada, 88, pode ser considerada única no panorama português da altura (1997) mas também nos dias de hoje, pela temática psycho-goth e uma qualidade gráfica a lembrar os Love & Rockets ou Charles Burns.

O autor nunca mais se voltou para bd desde então, tanto que preferiu tornar-se vocalista da banda psychobilly The ID’s cujo o destino é desconhecido.

Nunsky foi um cometa na bd underground portuguesa e como se sabe os cometas costumam voltar… em 2014 eis que aparece um romance gráfico de 144 páginas: Erzsébet!!! Seguido por mais dois livros metidos no Mesinha de Cabeceira. Novo silêncio e eis ele em 2022 com Companheiros da Penumbra, uma obra-prima na BD portuguesa.

Links de Interesse

Chaputa!

Chili Com Carne

Piranha