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“Sou um contador de histórias”

Palavras de Fernando Relvas, nome grande da BD portuguesa, a residir na Croácia; Autor auto-editou recentemente diversos títulos pelo sistema “print on demand”; São crónicas de viagem em que combina texto, desenho e fotografia

O nome próprio é Fernando, mas foi pelo sobrenome de Relvas que se tornou conhecido, como um dos mais notórios autores de BD nacionais. A partir de 1978 na revista Tintin, com “L123”, “Cevadilha Speed” ou “O Espião Acácio”, depois no semanário “Se7e”, onde se perderam (para a posteridade) obras marcantes para uma geração como “Concerto para Oito Infantes e um Bastardo”, “Nunca Beijes a Sombra do Teu Destino” ou “Karlos Starkiller”, crónicas urbanas de uma certa marginalidade, feitas de acção transbordante e humor desconcertante, quase sempre na Lisboa onde nasceu em 1954. Nos anos 90, o encontro (finalmente) com os álbuns, revelaram um autor em busca das histórias paralelas da nossa História, que não encontraram o seu público.
Há três semanas, Relvas regressou aos jornais, de forma efémera, com uma prancha no semanário gratuíto “Mundo Universitário”, no espaço coordenado há dois anos por Geraldes Lino, que o foi desinquietar na Croácia natal da sua mulher, onde reside “porque a certa altura se tornou óbvio que não estávamos a fazer nada em Portugal”. E sem rumo certo, como muitos dos heróis de papel que criou, “assim que surgir uma boa oportunidade, partiremos”. Porque, “como aí, os editores também são timoratos e com pouca imaginação e arrastam-se em promessas sem concretização”, o que o fez procurar alternativas, que encontrou “num artigo do “The Guardian”, sobre o site lulu.com” e o sistema “print on demand” (POD) (ver caixa). “Não me pareceu que perdesse algo em experimentar. O sistema é prático, a impressão boa, o prazo de pagamento rigorosamente respeitado”. Mas, “para o tornar rentável é preciso investir na promoção…” Por isso está ainda “em fase experimental”, não excluindo a hipótese “da edição clássica, que o POD, uma ferramenta útil, não substitui”. Assim, no lulu.com, entre milhares de propostas, estão as mais recentes experiências narrativas (ver caixa) do “contador de histórias que sou. Se é a banda desenhada que me permite fazê-lo melhor, então serei autor de banda desenhada”. Mas “não tem sido o caso nos últimos anos, pois cansei-me de desenhar e só encontrei sossego quando comecei a escrever mais e a desenhar menos”.
Banda desenhada (será?) onde tem “misturado tudo” – texto, desenho em computador, fotografia… – “como em Costa” ou na página do “Mundo Universitário”.
Estas obras, bem como as experiências que vai partilhando no seu blog (http://hardline-approach.blogspot.com)“, surpreendentemente são todas em inglês, “o que não foi fácil, porque gosto de escrever em português. Mas colocar publicações on-line só para leitores de língua portuguesa numa pareceu-me fraca iniciativa”. Depois, “comecei a achar graça à língua inglesa”, embora não ponha de parte o regresso à língua materna “se a procura o justificar ou surgir uma proposta séria dum editor português”, até porque “é uma língua que eu conheço bem!”.
Os seus projectos são “continuar a contar histórias, só não garanto que em BD. A experiência no Lulu reaproximou-me do desenho, mas tenho ali uns ficheiros de Word que me chamam com insistência…”

[Caixa 1]
Os novos títulos
Fernando Relvas tem disponível no lulu.com cinco títulos, aqui resumidos pelo autor:

“O Urso vai a Espanha”
Acabada de escrever em 2005, é a minha primeira novela. Inspirei-me no ambiente de uma BD feita cinco anos antes. No centro da história, que tem os mesmos elementos de movimento e rapidez duma BD, um simples mas estranho mistério que envolve um frete marítimo. É para ser lida entre dois pontos de uma viagem e é uma mistura de argumento de BD com crónica de viagem.

“Costa”, 1 e 2
Histórias curtas, relatos das viagens, aventuras e trabalhos de Costa, um marinheiro reformado que se entrega aos excitantes prazeres da cozinha, da pintura e do desenho, e dos encontros com misteriosas mulheres.

“Palmyra”
Segunda versão duma história concebida para ser publicada em Portugal em 2000, a sua acção passa-se em Lisboa, junto ao Tejo, algures entre um passado próximo e um vago futuro. Nela uma bióloga, Jau, é perseguida ao recusar-se colaborar num projecto sobre peixes transgénicos.

“Ink flow”
Histórias com poucas palavras e muita tinta, feitas sem esboços preparatórios, para ler com o texto em fundo, enquanto se acompanha o fluir da tinta.

[Caixa 2]
Print on demand
O sistema “print on demand” (POD) apresenta, à partida, dois atractivos: não implica investimento inicial e não gera stocks. O POD assenta num princípio simples: o autor entrega ao site a obra acabada (BD, livro, CD, DVD, etc.) em formato digital, e este coloca-a disponível para ser encomendada on-line, só imprimindo cada exemplar à medida que vai recebendo encomendas. O preço de custo tem por base o custo de fabrico do produto, ao qual o autor acrescenta a margem que desejar, sendo que o site fica com uma percentagem da mesma (entre os 10 % e os 25 %). Uma vez colocada a encomenda, o produto é fabricado, devidamente acondicionado e expedido para casa do comprador, que o recebe até três semanas depois.
Principal senão: toda e qualquer promoção fica a cargo do autor, que, no entanto, em qualquer momento pode retirar a obra do site ou introduzir as alterações ou correcções que ache necessárias, bem como consultar o número de exemplares já vendidos.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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