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Senhores da selva

Há 60 anos nascia em Itália Akim, herói de quadradinhos populares que, como outros, antes e depois, bebia muita da sua inspiração no Tarzan imaginado por Edgar Rice Burroughs no início do século XX.

No caso de Akim, escrito por Roberto Renzi e desenhado por Augusto Pedrazza para a revista “Albo Gioello”, com o formato dos actuais cheques, a colagem ao homem-macaco, era feita quase ao pormenor: os pais naufragaram na costa africana e foram mortos por feras; o bebé foi adoptado por uma gorila, cresceu entre eles, aprendeu a sua linguagem, desenvolveu uma assinalável musculatura e fez amizade com os animais e vestia uma tanga de pele de leopardo. Tornou-se um justiceiro da floresta, temido por nativos e traficantes e, na senda da literatura popular, também combateu sábios loucos e explorou civilizações perdidas. Nas muitas aventuras, partilhadas com um babuíno (Zig), um gorila (Kar), um elefante (Baroi) e um leão (Rag), descobriu ser herdeiro de uma grande fortuna, conheceu a bela Rita – com quem viveu “escandalosamente” durante anos sem se casar (!) – e adoptou o pequeno Jim.
Isto garantiu-lhe grande popularidade, uma revista com mais de 750 números e uma vida longa de 41 anos. Divulgado em Portugal em revistas brasileiras, Akim teve edição nacional de curta duração, da Palirex, nos anos 70.
Na senda do seu sucesso, num tom mais paródico, em França, em 1963, nas páginas da “Special Kiwi”, nasceria Zembla, criado por Marcel Navarro e desenhado por diversos artistas italianos, entre os quais Pedrazza, o mesmo de Akim. Como traços distintivos, fora criado por leões, tinha o cabelo longo e uma tira de pele que lhe cruzava o tronco, e era acompanhado por um leão, um gato-selvagem, um canguru, um pigmeu e um mágico! O sucesso bateu-lhe à porta e Zembla sobreviveu até 1994. Teve revista nacional que durou 53 números e foi também publicado na colecção Tigre.
Mas as imitações do mito do selvagem branco, popularizado no cinema por Johnny Weissmuller, e na BD por Foster, Hogarth e Manning, entre as quais se conta “Korak”, o filho de Tarzan, criação de Burroughs desenvolvida nos quadradinhos a partir dos anos 1960, publicados em português, inclusive em revista própria, não se ficariam por aqui e teriam as mais díspares origens e desenvolvimentos.
Em Fishboy, Denizen of the Deep, um comic britânico escrito por Scott Goodall e publicado entre 1968 e 1975, o protagonista comunicava com tubarões e conseguia respirar debaixo de água. Yataca, criação francófona do mesmo período mas de maior longevidade, no início narrava as aventuras de uma criança selvagem na Amazónia; ao fim de uma vintena de números, sem qualquer explicação, tornou-se adulto e mudou-se para África. Entre os seus desenhadores contou-se o português Vítor Péon, cujos episódios foram publicados pela Portugal Press, numa revista com o nome do herói. No mesmo registo, Péon criaria Zama. Também com a edição nacional, com capas do pintor Carlos Alberto Santos, após o 25 de Abril, existiu Karzan, uma versão pornográfica francófona do senhor da selva.
A Marvel, casa de super-heróis, tem também o seu selvagem, Ka-Zar, “clone” de Tarzan criado em 1936 por Bob Byrd; três décadas mais tarde, foi remodelado por Stan Lee e Jack Kirby, que o transportaram para a Terra Selvagem, uma zona de clima tropical em plena Antártida onde existem dinossauros, dando-lhe por companhia Zabu, um tigre dentes-de-sabre, o que não o impede de interagir com o Homem-Aranha ou o Demolidor.
Entre as variantes mais curiosas de Tarzan conta-se “Jungle no Ouja Ta-chan”, um manga criado por Tokuhiro Masaya que originaria uma versão humorístico animada na qual o “herói”, trapalhão e casado com uma obesa e mandona Jane, podia ser visto a lavar e estender roupa. E nos anos 90, na febre dos “crossovers”, Tarzan, o próprio, viveria nos quadradinhos incongruentes parcerias com Batman ou Superman e defrontaria o cinematográfico Predator.

[Caixa]

Rainhas da selva

As versões femininas de Tarzan são também muitas mas Rima, a primeira “mulher selvagem”, é anterior à criação de Burroughs, uma vez que protagonizou “Green Mansions: A Romance of the tropical forest”, datado de 1904, ou seja oito anos antes de “Tarzan of the Apes”. Nos anos 1970 chegaria à BD, por onde entretanto já tinham passado Shanna the she devil (da Marvel), Tygra, Jann, Tiger Girl, Rulah ou Kara, todas elas “senhoras da selva”, que associavam ao exotismo natural do tema uma sensualidade inevitável face à sua reduzida indumentária.
A mais famosa, no entanto, é sem dúvida Sheena, queen of the jungle, criada em 1937 por Will Eisner (o mesmo de Spirit) e Jerry Iger, que foi a primeira heroína anglo-saxónica de BD a protagonizar uma revista, logo no ano da sua criação. Regularmente reeditada, Sheena tem tido também novas versões, entre as quais se destacam as de Dave Stevens e Frank Cho.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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Banda desenhada: o regresso dos clássicos

Príncipe Valente, Tarzan, Peanuts, Zé do Boné e Lance estão de regresso às livrarias; Editora portuguesa lança clássicos da BD em Espanha

Príncipe Valente. Tarzan. Peanuts. Zé do Boné. Heróis dos quadradinhos que divertiram e/ou fizeram sonhar (pelo menos) todas as gerações dos que têm hoje mais de 30 anos, estão de volta às livrarias portuguesas. No espaço de poucas semanas ficaram disponíveis o sexto tomo da reedição integral do “Príncipe Valente”, de Hal Foster, o primeiro das “Pranchas Dominicais de Tarzan”, desenhadas por Russ Manning (ambos da Bonecos Rebeldes), mais dois volumes dos “Peanuts”, de Charles Schulz, abarcando o período de 1955 a 1958 (Afrontamento), e dois volumes do “Zé do Boné” (Andy Capp no original) de Reg Smythe (Fólio Edições). E em breve chegará também o “Lance”, de Warren Tufts (ver caixa).
Comum a quase todas é o extremo cuidado posto nas edições, a nível gráfico, no design cuidado e no seu complemento com textos introdutórios ou notas explicativas. E merece referência extra salientar que, nos casos das obras de Foster e Tufts, todo o trabalho editorial foi feito em Portugal e com tal qualidade que, inclusive, originaram uma edição em espanhol.
Este verdadeiro “regresso ao passado”, não é exclusivo português. Nos Estados Unidos, recuperam-se clássicos da 9ª arte, como os “Peanuts” (na edição que a Afrontamento está a seguir), “Popeye”, “Dennis the menace”, “Pogo”, “Prince Valiant” (numa edição inferior à portuguesa…), Krazy Kat” ou “Little Orphan Annie” (todas em curso no catálogo da Fantagraphics Books), “Mutt and Jeff” ou “Terry and the Pirates” (NBM).
Mas porquê este regresso aos clássicos? Aparentemente, há sempre razões afectivas associadas. Manuel Caldas, da Livros de Papel, afirma: “eu edito clássicos de que gosto, se o puder fazer com a qualidade que nenhum editor antes lhes dispensou”. Andrea Peniche, coordenadora editorial da Afrontamento, reforça a ideia: “a opção de edição dos “Peanuts” é, essencialmente, afectiva, pela memória das tiras publicadas no “Diário de Lisboa”, que eram recortadas e guardadas diariamente”. E bem próxima está a justificação de Francisco Linhares, da Fólio Edições: “O Primeiro de Janeiro, que pertence ao mesmo grupo da Fólio, publica há cerca de 50 anos o Zé do Boné, tendo os leitores criado laços afectivos muito fortes com ele”.
E os clássicos têm uma vantagem: chegam a leitores que habitualmente não lêem BD, mas que a leram em tempos idos. Apesar disso, Caldas diz que “não há mais público para os clássicos, mas HÁ público se a edição for mesmo de qualidade”, o que é corroborado pela experiência da Afrontamento, cujos “leitores, que já conheciam a edição americana, ficaram satisfeitos com a qualidade e cuidado da portuguesa”.
Edição que, quando não segue outra já existente, “fica mais cara do que publicar obras recentes, pois as agências ou não têm o material ou não o têm pronto para se publicar com a devida qualidade”, diz Caldas, que passou mais de 20 horas em cada prancha do Príncipe Valente, para restaurar o traço original a preto e branco de Hal Foster. Com tal qualidade, que “os muitos compradores espanhóis da edição portuguesa me entusiasmaram e eu lancei-me para Espanha”, onde uma ordem restritiva só lhe “permite vender por correspondência, o que não dá para grandes voos, apesar de não inviabilizar a continuidade da colecção”. Por isso, em 2008 “saírão mais três volumes em espanhol – e, quem sabe, noutra língua…”.
Quanto aos leitores, podem ficar descansados. Correndo tudo bem, os clássicos continuarão a chegar às livrarias durante 2008. E se a Afrontamento assume ficar-se “pelos “Peanuts”, um “projecto que nos ocupará nos próximos 10 anos” e a Fólio, não prevê outras edições “já que o material existente para o Zé do Boné é imenso, incluindo as pranchas dominicais coloridas”, Manuel Caldas admite “ter mais edições previstas”, mas acha cedo para “divulgar quais”.

(Caixa)
Lance
Na segunda semana de Dezembro ou só em Janeiro, chega às livrarias mais um clássico dos quadradinhos norte-americanos (já disponível por correio em mcaldas59@sapo.pt). É o primeiro dos quatro tomos daredição integral das pranchas dominicais de “Lance”, o western assinado por Warren Tufts (1925-1982) entre 1955 e 1960, o “Flecha” do “Cavaleiro Andante”, também publicado nos anos 70 e 80, no “Mundo de Aventuras Especial”.
Ambientado nos primeiros anos da expansão americana, “Lance” reflecte o eterno confronto bem/mal, com brancos e índios divididos pelos dois campos, com um fundo moralista e romântico, assente em personagens complexas e verdadeiramente humanas.
A edição, de grande formato (23,3 x 33 cm), que recupera as cores originais, tem o selo “Livros de Papel”, e por detrás dela está o trabalho laboriosos de Manuel Caldas, que conta “publicar apenas o segundo volume em 2008, e os dois finais em 2009”, pois passa “umas 14 horas (sem exagero), no restauro de cada prancha”, o que é necessário por não existirem “provas originais”, tendo que trabalhar a partir de “páginas de jornais da época, obtidas no Ebay”.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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