Contar

Christophe Blain, como outros autores da sua geração (Sfar, Guibert…). encara a BD, antes de tudo, como um meio para contar histórias. Isso era já notório em “Le Réducteur de Vitesse”, com que se revelou em 1999, ou em “Isaac, o pirata”, de que a Polvo editou em português três tomos.

E é visível também, agora, em “Gus, #1 – Nathalie” (Dargaud), um western, desconcertante e atípico (no bom sentido), que poderia igualmente ser um conto medieval, actual ou de ficção-científica, pois o seu propósito é divagar sob a forma como os homens se relacionam (ou não…) com as mulheres. Para isso, apresenta-nos Gus, Clem e Gratt, três salteadores (pontualmente xerifes!) bem sucedidos na sua vida de pilhagens, mas insatisfeitos na busca das suas “almas gémeas”.

Numa história sensível mas irónica (que se adivinha) nascida ao correr da pena, que combina habilmente o real com os pensamentos, sentimentos e desejos dos intervenientes, Blain concede-se (e a nós) uma imensa liberdade gráfica, esquecendo questões “clássicas” como as proporções do corpo humano ou a constância da aparência das personagens, para colocar o seu traço simples e nervoso, parco em pormenores mas admiravelmente expressivo, sensual no tratamento das personagens femininas e capaz até de ser evocativo, ao serviço de uma total eficácia narrativa, que prende e carrega o leitor até à última e significativa prancha.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias