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Romancistas consagrados escrevem novo Lucky Luke

Os romancistas Daniel Pennac e Tonino Benacquista aceitaram um convite da editora Dargaud para escreverem o argumento para um novo álbum de Lucky Luke, o “cowboy que dispara mais rápido que a própria sombra”, criado por Morris em 1946.
Uma vez que ambos ganharam notoriedade especialmente como autores de livros policiais, resta saber até que ponto serão capazes de transmitir ao seu relato o habitual tom humorístico de Lucky Luke. De qualquer forma, trabalhar em BD não é uma experiência nova para nenhum deles: Pennac co-assinou com Tardi “A Sacanice” (que tem edição portuguesa da Terramar), enquanto Benacquista desenvolveu já parcerias com Ferrandez, Bertrand ou Barral.
A nova equipa, de que se desconhece ainda o desenhador, trabalhará em paralelo com Laurent Gerra e Achdé que já assinaram três histórias de “As Aventuras de Lucky Luke segundo Morris” (publicadas pela ASA), permitindo assim intervalos mais curtos entre os novos títulos do herói, num esquema semelhante ao que existe actualmente para a edição de Blake e Mortimer.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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Emigração

Um homem despede-se – de forma pungente. Um homem parte. Só, com uma mala de mão. Com poucos pertences e uma fotografia. Talvez o mais valioso de todos. Uma fotografia de uma família, a sua. Ele, a mulher e uma filha pequena. O homem parte para longe. Para o outro lado de um vasto oceano. Para um admirável – mas assustador – mundo novo. De linguagem incompreensível. De escrita indecifrável. Com novos animais, novas plantas, novos alimentos. Lá chegado, só, tem que arranjar alojamento, um emprego.

Esta é a história de muitos (de quase todos?) os emigrantes: abandonar os entes queridos para procurar melhores condições de vida (sonhos?). E é também a história do notável “Là où vont nos pères” (Dargaud). Notável porque é um enorme romance mudo, feito de imagens aparentemente soltas, trabalhadas a lápis, em incómodos tons de cinzento e sépia, por Shaun Tan. Notável pela forma como explode em imagens de página inteira ou as monta até 30 por página, como forma de apressar ou retardar o ritmo da narrativa, de revelar mudanças de espírito, de nos surpreender numa paisagem, de nos reter num pormenor, de nos emocionar numa descoberta ou com um revés. Notável na forma como retrata o desconhecido, como transmite emoções e sentimentos, como ilustra o passar do tempo.

Notável, ainda, porque diz, porque faz acreditar que a integração é possível, que os sonhos se concretizam.


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F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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Lendas urbanas

O homem desde sempre teve medo. Medo do que o rodeia. Medo do desconhecido. Medo do que o ultrapassava. Medo dos poderosos. Medo da religião – dos religiosos…

Desses (muitos) medos nasceram histórias e lendas que se perpetuaram de geração em geração e passaram a fazer parte do imaginário de cada região, de cada país. Assim nasceram (?) os vampiros, os lobisomens, as bruxas e tantas outras fontes de medo.

Esses medos, evoluem com o tempo, com o próprio homem, assumindo novas formas adaptadas às novas realidades.

“Les véritables Légends Urbaines” (Dargaud), de que acaba de ser editado o primeiro tomo, escrito por Corbeyran e Guérin, explora histórias do nosso imaginário, num registo de terror, algumas das quais, provavellmente, já ouvimos contar como tendo acontecido “a alguém conhecido de fulano” ou algo assim. Histórias, com base verídica ou não, nascidas em rumores ou na (fértil) imaginação humana (a quem o medo dá asas…), que estas BDs exploram pelo seu lado mais negro, seja o gang que circula de luzes apagadas e abalroa todos os que lhes fazem sinais de luzes, sejam várias versões de assassinos dentro de casa, ilustradas por Guérineau (que com uma planificação diversificada, com múltiplas vinhetas, consegue imprimir um ritmo e um clima de tensão em crescendo à narrativa), Damour, Henriet e Formosa (cujo traço violentamente caricatural acentua o lado negro da história).


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F. Cleto e Pina

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Contar

Christophe Blain, como outros autores da sua geração (Sfar, Guibert…). encara a BD, antes de tudo, como um meio para contar histórias. Isso era já notório em “Le Réducteur de Vitesse”, com que se revelou em 1999, ou em “Isaac, o pirata”, de que a Polvo editou em português três tomos.

E é visível também, agora, em “Gus, #1 – Nathalie” (Dargaud), um western, desconcertante e atípico (no bom sentido), que poderia igualmente ser um conto medieval, actual ou de ficção-científica, pois o seu propósito é divagar sob a forma como os homens se relacionam (ou não…) com as mulheres. Para isso, apresenta-nos Gus, Clem e Gratt, três salteadores (pontualmente xerifes!) bem sucedidos na sua vida de pilhagens, mas insatisfeitos na busca das suas “almas gémeas”.

Numa história sensível mas irónica (que se adivinha) nascida ao correr da pena, que combina habilmente o real com os pensamentos, sentimentos e desejos dos intervenientes, Blain concede-se (e a nós) uma imensa liberdade gráfica, esquecendo questões “clássicas” como as proporções do corpo humano ou a constância da aparência das personagens, para colocar o seu traço simples e nervoso, parco em pormenores mas admiravelmente expressivo, sensual no tratamento das personagens femininas e capaz até de ser evocativo, ao serviço de uma total eficácia narrativa, que prende e carrega o leitor até à última e significativa prancha.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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