Do mar profundo

Filme animado e livro ilustrado, De Profundis é uma história de paixão pelo mar

É no mar, desde sempre fonte de fascínio e terror, de calma e violência, de paixão e repulsa, de morte e de vida, que se centra De Profundis.

O filme, incluído no livro ilustrado (ou o inverso?), nasceu de pinturas a óleo animadas de forma tradicional e é como uma banda desenhada com movimento, pela qual a câmara navega, revelando pormenores, desvendando detalhes, guiando os nossos olhos fascinados. Porque nele, talvez como nunca, o desenho virtuoso de Prado brilha, reluz, cativa e atrai, realçado pela forma pausada como a acção decorre, qual passeio, melhor, qual mergulho extasiado, ao som da música original de Nani Garcia (indissociável da animação) interpretada pela Orquestra Sinfónica da Galiza.
Na origem desta história, simples e maravilhosa, combinação onírica de fantasia e lendas marítimas, está a paixão pelo mar (da Corunha, onde o autor vive). No seu centro, uma improvável mansão, assente num penedo no meio do imenso mar, que lambe a cada vaga a sua escadaria ao cimo da qual uma violoncelista toca belas e melancólicas melodias para si, para os cetáceos que cada fim de tarde passam (para a ouvir?), para o seu companheiro, pintor dos fascínios do mar.
Mas um dia, uma tempestade naufraga a traineira onde ele embarcou, mergulhando-o numa viagem iniciática pelo misterioso fundo do mar, onde redescobre tudo o que já pintou – memórias que desconhecia serem-no – de desfecho fantástico. Mais aberto no filme, que apela mais à descoberta, à capacidade de nos maravilharmos; mais directo no livro, de respostas mais concretas.



Da BD à animação
De Profundis (edição com DVD)
Miguelanxo Prado
Edições ASA

Nascido em 1958, Miguelanxo Prado, estudou arquitectura, dedicando-se à banda desenhada desde 1980. Uma das grandes referências da 9ª arte espanhola das últimas duas décadas, foi premiado em Angoulême, Barcelona, Amadora ou Roma, estando quase todas as suas obras editadas em Portugal.
Após trabalhar na versão animada de “Men in Black” (1997), produzida por Steven Spielberg, tem em “De Profundis” um projecto extremamente pessoal ao qual dedicou quatro anos de trabalho.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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