Convite à descoberta da obra gráfica de João Abel Manta
Em “João Abel Manta – Caprichos e Desastres”, com o pretexto (desnecessário) dos 80 anos do artista, João Paulo Cotrim leva-nos num longo e detalhado passeio pela obra gráfica de Manta, um dos mais interessantes e estimulantes artistas plásticos que o século XX deu a Portugal, “uma obra múltipla que respira, que não se consegue prender no fio de uma metáfora apenas”.
Nas mais de duas centenas de páginas deste álbum, Cotrim apresenta alguns (dos muitos) momentos significativos da sua arte, propondo-os ao leitor da forma como os vê, à luz do tempo em que foram executados – mas também à luz do tempo em que são (re)interpretados – enquanto nos desafia a (re)vê-los à nossa maneira, à luz da nossa formação/da nossa intuição, nas suas múltiplas leituras.
Contido nas palavras, dando espaço às imagens, Cotrim ajuda-nos a descobrir uma imensa manta de retalhos. Retalhos (de Manta) multiformes nas técnicas utilizadas (desenho livre ou trabalhado, colagens, fotocomposições e técnicas mistas várias) ou nas temáticas abordadas (dos trabalhos mais conhecidos à ilustrações de obras literárias, das célebres capas do “JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias” aos retratos de personalidades da vida cultural portuguesa, passando até por obras que a censura forçou à gaveta), com os quais o artista construiu um retrato lúcido e mordaz, marcante, por vezes incomodativo, deste país que é Portugal, afinal mote (quase) único de toda a sua criação, nas suas grandezas e misérias. Ou, talvez, na grandeza das suas misérias.
O cartoonista da Revolução
João Abel Manta – Caprichos e Desastres
João Paulo Cotrim
Assírio & Alvim, El Corte Inglés e C.M.L. – Museu Bordallo Pinheiro
Com uma diversificada obra como arquitecto, pintor, caricaturista, designer e cenógrafo, João Abel Manta, nascido a 29 de Janeiro de 1928, assinou as primeiras obras nos anos 40 do século passado e diplomou-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1951.
E foi/é também cartoonista, especialmente após o 25 de Abril – sendo por muitos considerado “o cartoonista da revolução” por excelência – sendo de sua autoria as marcantes “Caricaturas Portuguesas dos anos de Salazar” ou um dos mais conhecidos cartazes do MFA.
Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias