A corrida energética contra o relógio

Exposição divertida sobre as questões climáticas sedutora para todos os leitores. “O Mundo sem Fim” foi o livro mais vendido em França em 2002, considerando todos os géneros.

Dentro do novo paradigma da banda desenhada em Portugal, que passa por mais editoras a apostar no género e por uma maior diversidade temática, “O Mundo sem Fim”, edição recente da Ala dos Livros, é uma das apostas mais arrojadas.
Afirmá-lo não questiona a qualidade intrínseca da obra, a sua actualidade ou interesse, mas destaca a sua temática, pois aborda questões como as alterações climáticas, os vários tipos de energia, os mais aconselháveis e as limitações dos recursos energéticos, que muitos não esperariam ver tratados em banda desenhada.
Com mais de um milhão de exemplares já vendidos em França, onde foi o livro mais vendido em 2022, considerando todos os géneros e não apenas a BD, tem por base uma longa conversa entre Jean-Marc Jancovici, um renomado especialista em questões energéticas e alterações climáticas, e Christophe Blain, responsável, por exemplo, pelas versões de autor de Lucky Luke.
Se o tema se poderia ter tornado maçador, pesado e até desinteressante, Blain conseguiu transformar a exposição numa narrativa viva e dinâmica, com pequenos apontamentos de humor gráfico, referências que todos podem compreender e uma capacidade de expor graficamente perante os olhos do leitor as questões tratadas, proporcionando uma leitura fluída e apaixonante que custa interromper. Para aqueles que gostam de apontar a banda desenhada como modelo de virtudes didáticas, este é um exemplo concreto, tanto capaz de seduzir os que já lêem esta arte regularmente, quanto os que muitas vezes ainda continuam a olhá-la de soslaio.
Em “O Mundo sem fim”, somos confrontados com problemas incontroláveis, questões inadiáveis, soluções aparentemente miraculosas que não o são, a ilusão das energias renováveis ou daquelas que hoje parecem o truque de magia saído da manga, questões que são polémicas, assustam e obrigam a pensar sobre o rumo que queremos tomar.
Num tom que não é catastrofista, mas apenas profundamente realista e não tem medo de expressar opiniões fortes e pouco consensuais, este livro mostra claramente que, ao contrário do que o seu título parece indicar, não vivemos num mundo sem fim; tem limitações e recursos finitos e, em nome da nossa sobrevivência, convém estarmos alertados e tomarmos medidas, mesmo que incómodas, para não termos de assistir ao seu ocaso.

O Mundo sem Fim
Jancovici e Blain
Ala dos Livros
196p., 35,00€


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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