Contar sempre a mesma história

O eterno triângulo amoroso, com novas roupagens. Mestria gráfica de Marini faz a diferença em “Noir Burlesc.

Há quem defenda que só existe um punhado de histórias para contar e o que varia são as épocas, os locais e as roupagens com que são vestidas as personagens que as vão interpretar. E acima de tudo, a forma como são (re)contadas.
Por essa ordem de ideias, “Noir Burlesco” é (mais) uma variação de uma temática tantas vezes abordada, aquela que tem por base o eterno triângulo amoroso.
Apertando a grelha, desta vez, Marini, o seu autor, localiza a acção nos Estados Unidos pós-II Guerra Mundial – mais precisamente em 1950, em Filadélfia – e entrega o protagonismo a um trio: Terry Slick, um bandido que gosta de trabalhar sozinho, segundo o seu próprio código de honra, de regresso à cidade após ter sido desmobilizado; Rex, um dos chefes mafiosos locais, com quem Slick tem contas a ajustar, a mais recente das quais ele ter noivado com a sua ex-namorada; e esta última, a bela e sensual Deb Caprice, que deixa os leitores a suspirar, de olhos esbugalhados, e se revela capaz de tudo para servir os seus próprios propósitos. A par deles, passa perante os nossos olhos uma forte galeria de personagens secundárias, que se revelam fundamentais para o desenvolvimento do relato e para dar diversidade, maior conteúdo e consistência ao todo.
Uma das principais diferenças na narrativa de Marini, é a mestria gráfica com que dá vida à sua narrativa, com um traço realista e credível, que representa na perfeição os cenários urbanos, os automóveis de época ou a figura humana, tudo pintado com uma variada gama de tons de cinzento e aplicações pontuais de vermelho vivo que tanto podem destacar buracos de bala ensanguentados como os lábios sensuais de Caprice.
Para além disso, Marini deixa que a imagem prevaleça sobre o texto, reduzindo este aos diálogos essenciais, curtos, assertivos e acutilantes, aqui e ali com uma pitada de humor negro, inevitável num registo policial do mesmo tom, duro e violento quanto baste, com algumas surpresas no percurso.

A edição do segundo tomo deste díptico, de novo em co-edição entre a Arte de Autor e A Seita, permite que a leitura das 240 páginas da história seja feita como ela pede: de seguida, sem paragens nem interrupções, para a fruirmos completamente outra vez, mas pela primeira vez.

Noir Burlesco 2
Marini
Arte de Autor/A Seita
136p., 29,50€


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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