Um western para descobrir o género ou matar saudades. Quarto volume de “Lonesome”, publicado quase em simultâneo com a edição francófona, encerra a série.
Se às novas gerações o western dirá pouco, houve uma época em que o género imperava e seduzia. Na banda desenhada, como no cinema, os grandes espaços naturais, o confronto entre o homem branco “civilizado” e os peles-vermelhos “selvagens”, e a necessidade de superação constante eram os principais atractivos, a par de figuras marcantes que preencheram o imaginário de muitos, do western puro e duro, com muitos tiros e poucas considerações, de que “Tex” será um dos melhores exemplos, aos relatos humanistas, que têm em “Buddy Longway” um dos mais relevantes.
Em anos mais recentes, o género tem sabido renovar-se e “Lonesome”, uma dessas propostas, chega agora ao fim em “O território do Feiticeiro”, quarto e último volume, editado pela Gradiva quase em simultâneo com a edição original. Assinado por Yves Swolfs, já autor de “Durango”, apresentava como principal nota distintiva uma certa aura fantástica, baseada na capacidade que o protagonista tem de ver o passado e o destino daqueles em quem toca mas, com o desenvolver da série, essa característica atenuou-se e até o culto diabólico evocado neste derradeiro tomo, não passa de simples referência.
Por isso, esta história de busca e vingança, acaba por apostar mais decisivamente nos confrontos violentos resolvidos a tiro, que deixam um longo cortejo de cadáveres ao longo das páginas. Isso não invalida um argumento consistente, com algumas surpresas, enriquecido com uma contextualização histórica que evoca o racismo contra negros e pele-vermelhas, a eminente luta contra a escravatura que originará o confronto entre Norte e Sul na Guerra da Secessão e a apetência económica pelos novos territórios, como contornos genéricos para um relato baseado em laços familiares que o destino separou, nas intrigas políticas e na eterna luta pelo poder terreno que levam os homens a extremos inimagináveis.
Especialista do género, Swolfs, com o seu traço realista, credível na reconstituição histórica e rico em pormenores, recria de forma atractiva paisagens naturais e urbanas do Velho Oeste e personagens que, apesar de representarem estereótipos reconhecíveis, apresentam espessura psicológica, contradições e dúvidas que as tornam mais humanas, fazendo de “Lonesome” uma boa proposta para descobrir o género ou matar saudades dele.
Lonesome #4 – O território do feiticeiro
Yves Swolfs
Gradiva
64 p., 20,99 €
Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias