Improvável neste tempo “globalizado”, uma tira diária de banda desenhada ambientada no coração da América profunda era também algo original há 75 anos, quando a 13 de Agosto de 1934 se estreou “Li’l Abner”. Mas que se entendia, numa América que começava a sair da crise em que a tinha mergulhado a Grande Depressão económica de 1929 e em que muitos defendiam o retorno às origens.
A sua acção desenrolava-se maioritariamente em Dagpotch, um espelho dos EUA, e o seu protagonista era Li’l Abner Yokum, um provinciano pouco inteligente e infantil que vivia uma existência simples com o pai e a mãe, apenas perturbada pelas aparições tempestuosas de Daisy Mae, uma loura de formas generosas com quem viria a casar.
A série era regida por um princípio simples: os Abner eram pobres mas honestos; o resto da humanidade não, que originava histórias divertidas, cujo tom ia do poético ao cínico, mas sempre com uma forte componente de crítica social e política, encabeçada por personagens imbecis e preguiçosas.
O seu criador foi Al Capp (pseudónimo de Alfred Gerald Caplin) que tinha sido assistente de Ham Fisher, em “Joe Palooka”, antes de encontrar o sucesso com “Li’l Abner” que, depois de uma estreia modesta numa quinzena de jornais, teve um sucesso retumbante que o levou a quase um milhar de periódicos nos anos 40 e ser adaptado em folhetins televisivos e radiofónicos, numa comédia musical da Brodway (interpretada por Jerry Lewis) e numa longa-metragem (em 1959). A par do registo burlesco e satírico, Capp, que foi indicado para o Nobel da Literatura por John Steinbeck, evidenciou um virtuosismo gráfico, assente num traço expressivo e dinâmico, numa boa utilização de sombras e numa legendagem original.
A partir de 24 de Fevereiro de 1935, “Li’l Abner”, que foi publicado em Portugal pontualmente, passou também a ter uma prancha dominical, igualmente assinada por Capp que animou a sua criação até ao fim, a 13 de Novembro de 1977, dois anos antes da sua própria morte.
Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias