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Bandeira a meia-haste para Jo-El Azara

Taka Takata perde o seu criador

Joseph Franz Hedwig Loeckx faleceu ontem, vítima de um AVC, contava 85 anos. Natural de Drogenbos, na Bélgica flamenga, era mais conhecido pelo pseudónimo de Jo-El Azara, com que assinou as bandas desenhadas de Taka Takata, a sua criação mais famosa.
Como muitos outros autores de banda desenhada estudou no Institut Saint-Luc, em Bruxelas, tendo de seguida, no verão de 1953 conhecido Willy Vandersteen, um dos maiores autores de língua flamenga, a quem assistiu num episódio da série “Bob et Bobette” (“Suskie en Wiske” no original). No ano seguinte entrou para os Estúdios Hergé onde, até 1961, participou na realização dos álbuns “O Caso Girassol”, “Carvão no Porão” e “As Jóias da Castafiore”. Foi lá que conheceu Josette Baujot que viria a ser sua esposa e colorista dos seus álbuns.
Em paralelo, a partir de 1958, colaborou em diversas revistas e jornais como “Spirou”, “Le Soir Illustré” e “Tintin”. A sua bibliografia contempla colaborações com Will em “Jacky et Célestin” ou Greg, na retoma pontual da série “Clifton”.
Finalmente, a 3 de Agosto de 1965, então no seu 20.º ano, a revista “Tintin” belga estreava um herói de nome curioso, Taka Takata que animaria as páginas da revista até 1985 e que Azara manteve vivo até 2004, com um traço humorístico muito eficaz e de grande legibilidade, características herdadas na sua passagem pelos Estúdios Hergé.
Escrito por Vicq (Raymond Anthony, 1936-1987), numa linguagem que combinava humor e poesia, Takata era um militar nipónico, imbuído dos valores tradicionais daquela sociedade oriental, profusamente expressos nos diálogos e na sua exagerada humildade. Para além disso, era pacifista, trapalhão, desastrado e inseguro, contrariando tudo o que seria de esperar de um militar do país do Sol Nascente, provocando frequentemente estragos e a perda de material bélico, para desespero dos seus superiores hierárquicos, o honorável coronel Rata Hôsoja (que, num ajuste de contas, foi inspirado no superior hierárquico que lhe fez a vida negra durante o seu serviço militar) e o ajudante Hatéjojo. Com estas personagens e uma galeria de secundários, Azara conquistou e divertiu os leitores que rapidamente aderiram à personagem, protagonista geralmente de histórias curtas ou de apenas uma página.
Em Portugal Taka Takata estreou-se na versão lusa da revista “Tintin”, logo no seu primeiro ano, 1968, onde foi presença recorrente, tendo passado também pelas páginas da “Tintin Selecções” e “Almanaque Tintin”, tendo sido editado em álbum por duas vezes: “O Ciclista Kamikaze” (Arcádia, nos anos 1970) e “O Batráquio dos Dentes de Ouro” (ASA, 2003).
Para além da banda desenhada, Jo-El Azara desenvolveu uma carreira diversificada como ilustrador de publicidade, que lhe valeu uma homenagem especial no 14.º Festival Internacional de BD De Angoulême “pela original utilização da banda desenhada em campanhas publicitárias”. A pedido de Albert Uderzo e Pierre Tchernia, participou na decoração da rua medieval do Parque Astérix, em França.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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Exposição de “A Pior Banda do Mundo” de José Carlos Fernandes no Centre Belge de BD

O autor português José Carlos Fernandes “conquistou” Bruxelas, a “capital” da banda desenhada, com a sua obra “A Pior Banda do Mundo”, já publicada em França e agora exposta na capital da Bélgica, ao lado de grandes nomes da nona arte.

Numa galeria estrategicamente localizada ao lado da bilheteira do Centro Belga de Banda Desenhada (CBBD), é dado a conhecer aos visitantes o trabalho do desenhador português, que, “tal como os seus célebres compatriotas Vasco da Gama e (Fernão de) Magalhães”, partiu à conquista do mundo, “não por via marítima e com bússola, mas com lápis e papel”, como se pode ler no cartaz de apresentação à entrada da sala.

“As suas numerosas referências ao mundo do jazz vão ficar muito tempo gravadas na memória dos seus leitores”, é a promessa deixada no texto de apresentação, assinado pelo diretor adjunto do Centro, Willem De Graeve, que, em entrevista à Agência Lusa, não poupou elogios a José Carlos Fernandes, considerando que se trata de um autor com tudo para vingar no muito exigente mercado belga.

O responsável da organização explicou que lhe chegou, da embaixada portuguesa em Bruxelas e do Instituto Camões, a sugestão para uma exposição do trabalho de José Carlos Fernandes, numa galeria que o CBBD dedica a novas obras (sete por ano), sendo que neste caso a “novidade” foi a publicação em França, pelas edições Cambourakis, da saga “Le Plus Mauvais Groupe du Monde”, em três álbuns de dois volumes cada (enquanto em Portugal está publicada em seis volumes, pela Devir).

“Conhecia José Carlos Fernandes de nome, mas nunca tinha lido a sua obra. Quando a embaixada de Portugal nos fez a proposta, li o seu ciclo e desde logo fiquei encantado e convencido de que esta era a exposição certa para fazermos aqui”, disse.

A resposta do CBBD foi por isso “imediata”, disse. “Considerámos que José Carlos Fernandes é um grande autor, que trabalha de forma muito original. O seu ciclo “A Pior Banda do Mundo” é uma verdadeira pérola da nona arte”, afirmou De Graeve, categórico em estender a boa impressão ao público que tem passado pela galeria.

“Penso que a reação do público é muito semelhante à minha: a maior parte das pessoas não conhece, mas descobre aqui, e ficam maravilhados, encantados”, garantiu, acrescentando que também a imprensa belga se rendeu a esta “descoberta”.

O diretor adjunto do centro apontou que “alguns jornais escreveram sobre a exposição e, por exemplo, o jornal belga De Standaard deu cinco estrelas, a pontuação máxima para uma BD, o que mostra que todo o público mas também os órgãos de comunicação social são muito entusiásticos em relação a este autor”.

A banda desenhada portuguesa continua no entanto a ter pouco espaço na “montra” de Bruxelas, e esta é a primeira exposição de um autor português no CBBD, depois de uma anterior, “mais geral, com uma retrospetiva da BD portuguesa, em colaboração com o Centro de Banda Desenhada da Amadora”, indicou Willem De Graeve, que justifica a dificuldade de os autores portugueses entrarem no mercado belga com a “muita concorrência” existente.

“Não é fácil, mas tenho a certeza que José Carlos Fernandes é uma exceção, porque tem realmente uma grande qualidade e tem todas as condições para ter sucesso também aqui na Bélgica”, vaticinou.

Até ao final de fevereiro, muitos mais amantes dos quadradinhos irão ter ainda oportunidade de “descobrir” este autor português, cujas pranchas estão expostas no primeiro andar do edifício “art nouveau” concebido por Victor Horta (1906), sede do CBBD, perto de figuras tão conhecidas como Tintin e Lucky Luke.

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