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A Tragédia Japonesa Vista Pelos Cartoons

Numa época em que o cartoon editorial está presente em quase todos os jornais, a tragédia que o Japão ainda vive não escapou ao olhar e ao traço dos criadores gráficos.
Uma simples pesquisa na Internet permite descobrir um grande número de desenhos alusivos, nos quais se destaca o uso recorrente de alguns símbolos: a bandeira japonesa, em especial o círculo vermelho, representando uma ferida, sol posto (desespero) ou sol nascente (esperança); o sinal nuclear associado ou substituindo elementos da cultura nipónica; variações sobre a pintura “A grande onda”, de Katsushika Hokusai, feita sinónimo de destruição, com a montanha original substituída por chaminés nucleares ou destroços urbanos.
E se à maior parte deles é comum uma grande sensibilidade e contenção, apelando mais à reflexão do que ao riso, a verdade é que algumas polémicas têm surgido, com alguns leitores a insurgirem-se, obrigando mesmo, nalguns casos, os autores a explicarem-se ou os jornais a pedirem desculpas públicas, como aconteceu, por exemplo no Brasil e na Malásia.
Ao mesmo tempo, têm sido criados sites como Tsunami – Des images pour le Japon (Nota: Site inexistente), do ex-argumentista de Spirou, Jean-David Morvan, que reside no Japão, que reúnem ilustrações de solidariedade de autores de proveniências e estilos diversos.

Martinefa
Martinefa.

Casa-Museu de Corto Maltese Inaugurada em Veneza

A personagem de banda desenhada Corto Maltese, o capitão maltês aventureiro, criado pelo autor italiano Hugo Pratt, já tem direito a uma casa-museu, que inaugurou esta semana em Veneza.

Tal como Tintin está associado a Hergé e Astérix a Uderzo e Goscinny, Corto Maltese é tão ou mais conhecido que o seu próprio autor, e merece agora um espaço naquela cidade italiana, onde Hugo Pratt passou a infância.

La Casa di Corto tem um espaço dedicado a Hugo Pratt, com um conjunto de fotografias a preto e branco, incluindo retratos do artista no estúdio e em casa, e acolherá em breve a biblioteca pessoal do artista italiano. Estão ainda expostas aguarelas, esboços, desenhos e alguns objectos associados às histórias que Hugo Pratt criou e ligados ao universo pessoal do autor e às viagens que fez pelo mundo.

Mais do que um museu, a Casa de Corto Maltese pretende ser um laboratório, um espaço para dar a conhecer quem gosta de fazer banda desenhada e gosta de aventura, tal como o capitão de mar criado por Hugo Pratt.

Foi por isso que a direcção da casa-museu incluiu a presença e a participação de Guido Fuga e Lele Vianello nas actividades do espaço, dois colaboradores de longa data de Hugo Pratt.

Hugo Pratt nasceu em Rimini, passou a infância em Veneza e mudou-se em finais dos anos 1940 para Buenos Aires, na Argentina, onde trabalhou com Héctor Oesterheld, um dos maiores nomes da banda desenhada mundial. Nas décadas seguintes, Pratt viajou várias vezes entre os dois lados do Atlântico, até que no final da década de 1960, já em Itália, cria uma publicação – Sgt. Kirk – onde apresentou em 1967 o capitão Corto Maltese, de longa jaqueta militar preta e brinco de ouro na orelha esquerda, em “Balada do Mar Salgado”. Depois dessa novela gráfica, Hugo Pratt desenvolveu histórias poéticas, literárias, utópicas que serviram de inspiração para as gerações seguintes e colocaram a banda desenhada num patamar artístico acima da cultura popular. Hugo Pratt ainda viveu em França, viajou e morreu na Suíça, em 1995, aos 68 anos vítima de cancro. “Os escorpiões do deserto”, “As Célticas”, “Corto Maltese na Sibéria” e “Mu – A cidade perdida”, são algumas novelas gráficas protagonizadas por Corto Maltese.

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Fantasma, o Espírito que Caminha há 75 anos

Passam hoje 75 anos sobre a estreia no New Yorker American Journal das tiras diárias de The Phantom, popularizado em Portugal como Fantasma. Seria no entanto necessário aguardar uma semana para conhecer o primeiro herói dos quadradinhos com identidade secreta, oculta por uma máscara nos olhos, um fato justo de cor roxa e as cuecas por fora.
Apesar disso, o Fantasma não tinha super-poderes, que entrariam na BD apenas um par de anos mais tarde com o Superman, servindo-se da força, da agilidade física e do seu aspecto amedrontador para derrotar gangsters e tiranos, que marcava para sempre com o seu anel da caveira. E ainda da lenda que o afirmava imortal, contando mais de 400 anos, sendo por isso conhecido como “o espírito que caminha” ou “o homem que nunca morre”.
Na verdade, este Fantasma inicial era apenas o 21º de uma longa linha sucessória, iniciada em 1526 por um aristocrata inglês que, naufragado na costa africana na sequência de um ataque de piratas Singh, jurou consagrar a sua vida e a dos seus descendentes a combatê-los.
Imaginado por Lee Falk, que dois anos antes criara o mágico Mandrake, o Fantasma inicialmente foi desenhado por Ray Moore, sucedendo-lhe Wilson McCoy e Sy Barry. À tira diária juntar-se-ia uma prancha dominical colorida, em Maio de 1939, ano em que também se estreou em revista autónoma. Actualmente, as tiras diárias são escritas por DePaul e desenhadas por Paul Ryan.
Na sua primeira aparição o Fantasma salvava de apuros a bela Diana Palmer, que seria sua noiva durante mais de meio século, até finalmente casarem, em 1977. Guran, chefe dos pigmeus Bandar, Diabo, o cão-lobo, Herói, o cavalo branco e a Patrulha da Selva, são outras personagens recorrentes desta banda desenhada.
O Fantasma habita a Caverna da Caveira, na fictícia selva de Bengala, de onde parte para os mais exóticos destinos para combater o crime e a opressão, tendo mesmo participado na II Guerra Mundial, contra invasores japoneses.
O sucesso da BD, fez com que fosse levada ao cinema em 1943, com Tom Tyler como protagonista, papel que coube a Billy Zane, num filme de má memória de 1996. Na televisão apareceu em 1986, numa série animada futurista, integrando os Defensores da Terra, juntamente com Flash Gordon, Mandrake e os respectivos filhos (!). No ano passado, uma mini-série interpretada por Ryan Carnes, narrou a iniciação do 22º Fantasma.
Em Portugal, a estreia do herói deu-se em 1952, na revista Condor, tendo depois passado pelo Mundo de Aventuras, Audácia, Jornal do Cuto e até por títulos próprios. A título de curiosidade, refira-se que foi desenhado pelo português Eliseu Gouveia (Zeu), nos números #20 e #26 da edição da Moonstone Books, em 2007/08.

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True Grit, a Banda Desenhada

A tempo da estreia europeia, a Paramount disponibilizou há dias uma banda desenhada promocional inspirada numa das cenas-chave da película dirigida pelos irmãos Coen, que introduz o universo do filme, em particular dando a conhecer o carácter do Marshall Rooster Cogburn (Jeff Bridges).
O seu autor é o britânico Christian Wildgoose, que revelou que tudo começou quando editou no seu blog um sketch da personagem de Bridges, feito após o visionamento do trailler do filme. De alguma forma a imagem chegou às mãos de um responsável da Paramount que o convidou para fazer a BD.
Agora, estão disponíveis online (http://www.truegritmovie.com/intl/uk/dimenovel/) duas dúzias de pranchas, apenas a preto e branco (e cinzento para realçar os volumes), nas quais Cogburn narra em tribunal como encontrou duas vítimas dos irmãos Wharton e partiu em sua perseguição. O traço de Wildgoose, duro e agreste, é ideal para o tom duro e violento da trama e para retratar o cenário em que ela decorre, deixando sem dúvida o leitor desejoso de conhecer o resto da história…
Apesar de “incompleta”, esta BD encontra-se nomeada para os Eagle Awards, nas categorias de Melhor BD Britânica a Preto e Branco e Melhor Legendagem.

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Regresso ao Armazém Central

Aos poucos, as edições Asa começam a retomar a publicação de algumas séries que pareciam ter ficado pelo caminho. A última a ter essa sorte, foi “Armazém Central”, de Loisel e Tripp, de que acaba de sair o terceiro volume. A série, que Loisel, numa entrevista, define como “uma comédia à Frank Cappra (…) com um ambiente próximo das pinturas de Norman Rockwell”, passa-se em Notre-Dame-des-Lacs, uma aldeia perdida no Quebeque dos anos 20 do século XX, cujo dia-a-dia vai ser alterado quando a jovem viúva Marie Ducharme decide tomar conta sozinha do Armazém Central que era do seu falecido marido.
Curiosamente, a série acabou por ser mais notícia em França pelo facto de Loisel e Tripp trabalharem o desenho a meias, com Loisel a encarregar-se do desenho a lápis e Tripp a passar a tinta. Algo perfeitamente vulgar nos comics das grandes editoras americanas, onde o mais habitual é haver uma clara separação de tarefas, com um argumentista, um desenhador para o lápis e outro para a arte-final (passagem a tinta), um colorista e um responsável pela legendagem, muitas vezes com cada um numa cidade diferente, cabendo ao editor coordenar toda essa gente, mas que para a BD franco-belga é suficientemente exótico para justificar o destaque que a editora dá ao facto, incluindo duas páginas no início do álbum em que se explica o peculiar (para os franceses) método de trabalho.

Na origem desta colaboração em moldes poucos habituais para a BD franco-belga, está o facto dos dois autores partilharem o mesmo Atelier em Montreal, no Canadá, o que lhes permitiu descobrir que eram complementares, ou nas palavras de Tripp, que “um desenhador virtual, que fosse uma mistura dos dois, desenharia com muito mais prazer, sem esforço”. Com efeito, Loisel adora o desenho a lápis e aborrece-se mortalmente na fase de passar a tinta, enquanto que Tripp é exactamente ao contrário e, ao conseguirem que cada um faça apenas aquilo que mais gosta, conseguem produzir a um ritmo nada habitual no mercado francês, de tal modo que em pouco mais de três anos já são cinco os álbuns publicados nesta série, inicialmente pensada como uma trilogia e que, até ver, irá ter pelo menos seis álbuns…

Se em termos de ambiente a coisa funciona muito bem, com os autores a traçarem um conseguido retrato nostálgico da vida no campo nessa época, a verdade é que o ritmo narrativo é contemplativo e bastante lento, apesar das coisas aquecerem um pouco neste 3º volume, com os homens a regressarem à aldeia e a reagirem mal à presença de Serge Brouilet, um estrangeiro vindo de Montreal que abriu um restaurante nas traseiras do Armazém Central. E se a tensão que este novo elemento introduz na relação de Marie com o resto da aldeia, está muito bem explorada, sequências como a do aniversário de Gaetan, o típico tolo da aldeia, em nada contribuem para o avançar da história, nem funcionam tão bem como as brincadeiras entre um cachorro, um gatito e um pato que decorrem em segundo plano, em paralelo à acção principal.

(“Armazém Central 3: Os Homens, de Loisel e Tripp, Edições Asa, 15,50€)

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Rip Kirby em Português

Depois do “Principe Valente”, de Hal Foster e do “Tarzan” de Russ Manning, a editora Bonecos Rebeldes recupera mais um clássico da Banda Desenhada norte-americana publicada nos jornais: a série “Rip Kirby”, de Alex Raymond. Último trabalho de Raymond, falecido em 1956, num acidente de viação, “Rip Kirby” é a segunda incursão do criador de “Flash Gordon” e de “Jungle Jim”, pelo registo policial, depois de no início de carreira ter desenhado a série “Secret Agent X-9”, a partir de um argumento do escritor Dashiel Hammet.
“Rip Kirby” assinala o regresso de Raymond à Banda Desenhada depois de um período de 22 meses em que esteve alistado no exército americano. Terminada a II Guerra Mundial, Raymond regressou disposto a retomar a série “Flash Gordon”, que tinha ficado a cargo do seu assistente Austin Briggs, mas como a King Features entretanto tinha assinado um contrato com Briggs para desenhar a série até 1948, Raymond viu-se obrigado a criar um novo personagem, um detective cheio de glamour chamado Rip Kirby, que traduzia uma abordagem mais madura às histórias policiais.

Ao contrário de “Flash Gordon” e Jungle Jim”, que saiam a cores nas páginas dominicais dos jornais, “Rip Kirby” foi pensado desde o início para ser publicado a preto e branco, como tira diária, o que permitiu a Raymond trabalhar o seu estilo de um modo diferente. Sem o espaço para as composições barrocas da fase final de Flash Gordon, optou por jogar com as sombras, como ainda não tinha feito em trabalhos anteriores. Mas o que marca mais este trabalho é a elegância do traço de Raymond e a extraordinária sensualidade e glamour das mulheres que desenha, desde Honey Dorian, a eterna namorada de Kirby, até Pagan Lee, a sedutora e mortífera “má da fita”, cujo visual serviu de inspiração para Bettie Page, que vai ser uma presença recorrente ao longo da série.
Este primeiro volume, de uma edição prevista para 13 volumes, recolhe em 56 páginas que recolhem em média 4 tiras por página, as três primeiras aventuras de Rip Kirby, publicadas entre Março e Novembro de 1946, precisamente no mesmo formato em que a editora está a editar o “Príncipe Valente”.

E, embora o trabalho de Catherine Labey, que faz a tradução e execução gráfica, não atinja a perfeição a que Manuel Caldas nos foi habituando noutras reedições de clássicos, e a legendagem e o colorido em photoshop da capa não serem nada famosos, esta edição da Bonecos Rebeldes tem os seus méritos, não sendo tão má como alguns têm escrito, mesmo que o preço de 25€ por um livro de 56 páginas custe a dar, sobretudo tendo em conta que a edição do “Príncipe Valente da mesma editora, tem quase o dobro das páginas por volume e custa apenas mais 2,50€… É que é muito importante não esquecer que a edição da Bonecos Rebeldes é, de todas as disponíveis no mercado, a única que reproduz na sua totalidade as tiras de Raymond.
Para poder jogar com as questões de espaço nos diferentes jornais que publicavam a série, a King Features disponibilizava duas versões diferentes de cada tira, uma integral e outra ligeiramente mais curta, com o desenho amputado em alguns milímetros. É essa versão cortada que foi usada para a maioria das edições, incluindo a luxuosa edição em 4 volumes que a IDW está a publicar nos EUA, (de onde tirei a maioria das ilustrações para este artigo) que também não reproduz as tiras desenhadas por Raymond na totalidade, cortando a parte de baixo de cada imagem. Imagens que a edição da Bonecos Rebeldes reproduz na íntegra, como facilmente podem ver pelos exemplos que a seguir mostro.

(“Rip Kirby”, Vol. 1, de Alex Raymond, Bonecos Rebeldes, 56 pags, 25,00€)

Rip Kirby

Homem-Aranha Integra Quarteto Fantástico

Com as cinzas do Tocha Humana ainda quentes – a sua morte aconteceu no final de Janeiro – a Marvel já tratou de lhe arranjar um substituto, tendo anunciado que o seu lugar no Quarteto Fantástico será ocupado pelo Homem-Aranha.
Isto acontecerá na estreia da revista FF (que será lançada a 23 de Março), na qual aquela sigla deixa de corresponder a Fantastic Four (Quarteto Fantástico) passando a designar a Future Foundation (Fundação Futuro), que terá por missão salvar o universo Marvel de grandes ameaças. Este título vem substituir a revista Fantastic Four, que terminará este mês, no nº 588, com uma história que de alguma forma antecipa o futuro agora desvendado, numa conversa entre o Homem-Aranha e Franklin Richards, filho do Sr. Fantástico e da Mulher Invisível.
Na história inaugural de FF #1 escrita por Jonathan Hickman e desenhada por Steve Epting, a entrada do Homem-Aranha no grupo fica também assinalada pela estreia de novos uniformes de cor branca, que substituem os tradicionais fatos azuis com o número 4.
Curiosamente, o Homem-Aranha tinha-se oferecido para integrar o Quarteto Fantástico logo nos seus primórdios, na revista “Amazing Spider-Man” #1 (1963), tendo na altura sido recusado.
Esta notícia surge ao mesmo tempo que chega às livrarias especializadas portuguesas a edição #587 de Fantastic Four, a tal em que o Tocha Humana perde a vida no decorrer de uma enorme batalha, que foi alvo de uma grande campanha de marketing desde Agosto de 2010, chegando às bancas envolta num saco plástico preto, para não ser possível saber antecipadamente qual dos super-heróis perderia a vida. Campanha que obteve os resultados pretendidos, quer mediaticamente, quer em volume de vendas pois a revista foi a mais vendida nos EUA no mês de Janeiro, ultrapassando os 115 mil exemplares e recolocando a Marvel no topo.
Sem aquela expressão, este número especial – que muitos consideram um bom investimento tendo em vista uma eventual futura valorização – teve um número de encomendas bem superior ao habitual também nas lojas especializadas portuguesas, como é o caso da Mundo Fantasma, no Porto, onde ontem ainda restavam alguns exemplares.

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Newborn: 10 Dias no Kosovo

Um ano depois da publicação de “Israel Sketchbook”, Ricardo Cabral regressa às livrarias com um novo caderno de viagem, desta vez dedicado ao Kosovo. “Newborn: 10 Dias no Kosovo” nasceu de um projecto de Banda Desenhada para a editora francesa Soleil, que acabou por não se concretizar. Gorado esse projecto, a viagem de recolha de elementos gráficos para uma BD ambientada no Kosovo do pós-guerra, que Ricardo ia desenhar a partir do argumento de um autor nascido no Kosovo, serviu-lhe para conhecer por dentro a realidade do Kosovo actual, realidade essa que Ricardo nos transmite de forma despretensiosa neste caderno de viagem.
Mais uma vez, a visão de Ricardo Cabral não é a do vulgar turista, mas sim de alguém que, durante 10 dias, partilhou a vida daqueles cuja terra visita. Um país bonito e que lentamente vai curando as cicatrizes de uma guerra sem quartel, que não poupou albaneses nem sérvios. Conforme o próprio Ricardo refere: “pensei encontrar um país martirizado pela guerra. Das notícias das valas comuns, das deportações forçadas, dos milhares de refugiados e desaparecidos, era de esperar um país cinzento e triste, mas a vida decorre normalmente… e as raparigas aqui são realmente muito bonitas.”
Tal como acontecia em “Israel Sketchbook”, embora a memória da guerra paire em alguns momentos do livro, o que fica é um bonito país e, sobretudo, a sua gente, gente bonita e que procura ser feliz.
E, embora se mantenha o mesmo método de trabalho, com os esboços feitos no local a serem posteriormente coloridos por computador, com auxílio de fotografias, a principal diferença em relação ao livro anterior é uma maior diversificação de registos visuais, com imagens apenas esboçadas, publicadas tal como foram desenhadas na altura, diferentes desenhos sobrepostos na mesma imagem, ou sequências em que se misturam de forma explícita o desenho e a fotografia, num processo que de alguma forma evoca o magnífico trabalho de Emanuel Guibert a partir das fotografias de Didier Lefevre em “Le Photographe”.
A publicação deste segundo caderno de viagem pela Asa, mostra que há um público para este tipo de livros, talvez até mais vasto do que o da BD. Esperemos, é que o sucesso do Ricardo Cabral viajante, não nos prive do trabalho do autor de BD…

(“New Born: 10 Dias no Kosovo”, de Ricardo Cabral, Edições Asa, 144 pags, 19,20 €)

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“Tinta nos Nervos” — A BD Levada a Sério…

Foi inaugurada, no passado dia 10 de Janeiro, a exposição “Tinta nos Nervos – Banda Desenhada Portuguesa”, no Museu Colecção Berardo do Centro Cultural de Belém.
Estendida por diversas salas do Museu, e comissariada por Pedro Moura, a mostra irá estar patente até ao dia 27 de Março.
Uma das mais importantes montra de que há memória na Banda Desenhada portuguesa, a exposição comissariada por Pedro Moura apresenta obras de Alice Geirinhas, Ana Cortesão, André Lemos, António Jorge Gonçalves, Bruno Borges, Carlos Botelho, Carlos Pinheiro, Carlos Zíngaro, Cátia Serrão, Daniel Lima, Diniz Conefrey, Eduarda Batarda, Filipe Abranches, Isabel Baraona, Isabel Carvalho, Isabel Lobinho, Janus, João Fazenda, João Maia Pinto, José Carlos Fernandes, Jucifer (Joana Figueiredo), Luís Henriques, Marco Mendes, Marcos Farrajota, Maria João Worm, Mauro Cerqueira, Miguel Carneiro, Miguel Rocha, Nuno Saraiva, Nuno Sousa, Paulo Monteiro, Pedro Burgos, Pedro Nora, Pedro Zamith, Pepedelrey, Rafael Bordalo Pinheiro, Richard Câmara, Teresa Câmara Pestana, Tiago Manuel e Victor Mesquita.
Como bem refere Jorge Machado-Dias no seu blog Kuentro, «(…) é uma oportunidade única para aceder a tão vasta (embora não auto-conclusiva) informação sobre a actual BD portuguesa (…)».
E este crítico, editor e divulgador, diz ainda: «(…) À partida, a filosofia de que partiu esta abordagem à Banda Desenhada – tratando-se especialmente da portuguesa –, é algo com que estamos plenamente de acordo e cuja visita deveria ser obrigatória para os directores dos Festivais de banda desenhada em Portugal, para perceberem como fazer um festival de BD de larga abrangência e potencialmente cativador de maiores e mais variados públicos. Isto apesar de, diga-se de passagem, Paulo Monteiro, o director do Festival de Beja, ter vindo propositadamente de Beja para esta inauguração, sendo que é também, um dos autores expostos…
Para já, deixo ficar apenas uma nota sobre a feliz escolha por Pedro Vieira Moura, da expressão que melhor define a BD portuguesa actual: banda desenhada de autor! Nada mais apropriado, uma vez que os portugueses são especializados em algumas áreas “de autor”, sendo o cinema a mais conhecida. E tal como o cinema português é parcamente visto pelos portugueses, também a BD portuguesa sofre do mesmo mal: vende-se pouco! E isto não é uma crítica, é uma constatação. Aliás a Sara Figueiredo Costa aborda alguns pontos desta questão no texto que produziu para o Catálogo desta exposição – o porquê das fracas vendas da BD portuguesa (…).
O catálogo da exposição, com textos de Pedro Moura, Sara Figueiredo e Domingos Isabelinho contém 138 ilustrações e a biografia de todos os autores expostos, sendo distribuído pela Chili Com Carne.
A exposição tem entrada gratuita e pode ser visitada no Museu Colecção Berardo, Praça do Império, Lisboa, até 27 de Março, de domingo a sexta, das 10h00 às 19h00 e sábado das 10h às 22h.

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Tertúlia BD de Lisboa – Natal 2010

Decorreu no passado dia 7 de Dezembro, num restaurante lisboeta, o Encontro de Natal 2010 da Tertúlia BD de Lisboa. Foi o 317º Encontro, Ano XXV e, «em conformidade com o critério estabelecido há já muitos anos, nos encontros natalícios da Associação Informal Tertúlia BD de Lisboa» não houve homenageado nem convidado especial a apresentarem-se («com quem habitualmente se estabelece diálogo (o momento de tertúlia propriamente dito»).
Foi “apenas” um jantar-convívio.
Como é habitual nas tertúlias de Natal «todos oferecem, para ser sorteada, uma peça de BD considerada como prenda natalícia, ou seja um álbum, uma revista, um fanzine, ou até mesmo qualquer objecto (emblema, miniatura, porta-chaves, t-shirt) que reproduza personagens de BD.
Este Sorteio Interactivo Bedé?lo das peças de Banda Desenhada tem a conhecida característica de todos os participantes serem contemplados com uma peça diferente daquela que tenham oferecido.
É uma forma de fazer com que os bedé?los da tertúlia possam eventualmente tomar conhecimento com algo que desconheçam ainda: um autor, um álbum, uma revista portuguesa ou estrangeira, antiga ou actual, um fanzine português ou estrangeiro.
Conforme relata Jorge Machado-Dias no seu blog Kuentro, este Encontro de Natal da Tertúlia BD de Lisboa decorreu no Restaurante Jardim da Luz, tal como o do 25º Aniversário, a 1 de Junho passado, mas agora numa sala diferente: «Devo dizer desde já que, pelo que me lembro, a ementa de 1 de Junho foi muito superior a esta, tanto em qualidade como em quantidades. Nem sequer a montra das iguarias (…) apresentava nada parecido com aquela magnífica cabeça de peixe que reproduzi aqui na altura. Esta aparente magreza do cardápio aconteceu, eventualmente, devido à famosa crise económico/financeira que grassa neste país, uma vez que o Restaurante Jardim da Luz estava completamente a abarrotar de gente, com pessoas à espera de mesa junto à porta e tudo…
Quanto à ementa, uma açorda de camarões selvagens (tão selvagens como aqueles que se compram no Continente, no Pingo Doce ou no Mini-Preço, em saquetas) e picanha fatiada (meia crua no interior, como se diz que deve ser e como eu detesto), com meia dúzia de batatas fritas e arroz de pimentos, mais uma pequena tigela de feijão preto que passava de mão em mão. Tudo isto (excepto o feijão preto) em pequenas travessas para cada duas pessoas (…)».
Participaram, por ordem alfabética:
Abílio Pereira, Álvaro, Ana Maria Baptista, Ana Saúde, André Cardia Moreno, André Oliveira, António Isidro, Clara Botelho, David Ribeiro, Dulce Ribeiro, Falcato, Fernando Andrade, Luís Filipe Lopes, Gabriel Martins “Loot”, Gastão Travado, Geraldes Lino, Hélder Jotta, Hugo Teixeira, Inês Mendes, Joana Afonso, João Antunes, José Abrantes, Luís Salvado, Luís Valente, Machado-Dias, Manuel Valente, Maria José Magalhães Pereira, Miguel Ferreira, Miguel Marreiros “Mima”, Milhano, Moreno, Nuno Amado “Bongop”. Nuno Duarte “O outro Nuno”, Pedro Bouça, Ricardo Correia, Rui Domingues, Rui Rolo, Sandra Rosa, Simões dos Santos, Sofia Mota, Teresa Cardia, Tiago Pimentel, Vasco Câmara Pestana, Victor de Jesus, Vidazinha e Virgínia Soares.

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