Afirma David Rubin, autor galego de banda desenhada
Chama-se David Rubin, nasceu em Ourense em 1977, e, de passagem pelo Porto, para inaugurar exposições de originais na Biblioteca Municipal de Gaia (até 31 de Agosto) e na livraria/galeria Mundo Fantasma (C.C. Brasília, até 13 de Setembro), conversou com o JN sobre a BD galega. Ou melhor, sobre a “BD feita na Galiza, onde há autores a trabalhar para lá, para Espanha, França, Estados Unidos, mas não em histórias com vacas ou castros.” A existir uma “BD galega”, ela distinguir-se-á pela maneira “de escrever, de sentir, como se expressam as personagens, que é o que torna as obras autênticas e perduráveis no tempo”. Co-fundador do colectivo Polaquia, que edita a revista “Barsowia”, afirma que a 9ª arte na Galiza “está no seu melhor momento porque nunca houve tantos autores no activo, tantas propostas editoriais, tantos não galegos publicados em galego”. Apesar disso, não “há que lançar foguetes, pois ainda há muito para avançar”.
Conversador agradável, finalista do Prémio Nacional de Comic espanhol em 2007, por “La teteria del oso malayo” (Astiberri), define-se “antes de tudo como um autor de BD que também faz cinema e ilustração” e considera os quadradinhos “mais complexos e poderosos que qualquer outra forma de expressão, seja a literatura, o cinema, o teatro…”, pois “um autor de BD é escritor, desenhador, pintor, encenador, iluminador, monta, marca o ritmo, planifica, define a velocidade de leitura…”
Apesar de ter feito “o primeiro comic aos 7 anos”, acredita que com “cada livro aprende e dá um pouco mais do que no anterior”. E se a sua ambição é viver da banda desenhada, mesmo que pudesse “não deixaria a animação ou a ilustração”, pois não quer “confinar-se a um único meio e ficar limitado”.
Nas suas histórias, Rubin fala do que o “inquieta, preocupa ou diverte”, sem ter que agradar a editores, leitores ou modas. O que não impede que tenha aceite o desafio de adaptar em apenas 30 pranchas “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, ou “O Monte das Almas”, de Gustavo Bécquer, com os quais aprendeu “a usar a sombra e a cor como elementos narrativos e a dar a primazia ao relato em relação ao desenho”. O que é fundamental, pois “os comics são sobretudo um meio narrativo”.
Define-se como “um criador visceral, que trabalha com as tripas e o coração, deixando que a arte flua sem controle”, pelo que por vezes o resultado o surpreende. Gosta de reler o trabalho impresso, para verificar “se tudo saiu bem” e folheia-o “de vez em quando para ver a evolução, pois ela não se planeia; conforme se avança na vida, experimentam-se coisas diferentes que afectam o desenho e as formas de contar histórias”.
Tendo estado nos festivais de BD de Beja e da Amadora, acredita no potencial destes encontros em que se “vão formando pontes que beneficiam todos” e lhe permitiram descobrir e apreciar autores portugueses (que nomeia sem dificuldade) como Paulo e Susa Monteiro – que já publicou na “Barsowia” – Miguel Rocha, Filipe Abranches, José Carlos Fernandes, Pedro Brito ou Pedro Nora. E defende maiores intercâmbios entre festivais portugueses e galegos e até edições conjuntas.
Escrito Por
F. Cleto e Pina
Publicação
Jornal de Notícias