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A Cruz e o Escorpião

Embora a um ritmo não muito sustentado, as Edições Asa lá vão continuando as principais séries do seu catálogo de Banda Desenhada. Três anos depois de terem publicado o volume anterior, chegou a vez do “Escorpião”, de Marini e Desberg, já um clássico da moderna BD franco-belga cujo sexto volume, “O Tesouro do Templo”, já chegou às livrarias portuguesas, numa edição que, como também já vem sendo hábito, conta com uma capa diferente para a edição vendida na FNAC.
“O Escorpião” insere-se na linhagem clássica de títulos como “Os Três Mosqueteiros”, “Scaramouche” e “Lagardere”, que cultivavam a aventura folhetinesca em estado puro, mas introduz um toque de modernidade na receita, através da junção cuidadosa de outros ingredientes, como uma pitada de erotismo soft, representado pelas belas e perigosas Mejai e Ansea Latal, e um toque de teoria da conspiração “à la Dan Brown”, perceptível na organização secreta que se serve do poder da Igreja para controlar o mundo, a que o Escorpião se opõe.

Além do charme e da classe do Escorpião, um sedutor ladrão de antiguidades, que parece saído directamente de um filme com Errol Flynn, mas a quem Marini deu umas feições que lembram demasiado as de Drago, o vampiro de “Rapaces” (outra série desenhada por Marini), do carisma do “mau da fita”, o diabólico Cardeal Trebaldi, e da sensualidade das personagens femininas, temos uma intriga suficientemente complexa para manter o leitor em suspense, servida por uma eficácia narrativa ao alcance de poucos. Tudo isto, passado a imagens de forma notável pelo virtuosismo de Marini, um dos mais elegantes desenhadores realistas da BD europeia.

Neste volume chega ao fim a intriga, iniciada no volume 3, da busca da verdadeira cruz em que foi crucificado o apóstolo São Pedro. Relíquia suprema, cuja descoberta e revelação permitirá derrubar o poder de Trebaldi, eleito Papa por via de ter apresentado ao povo de Roma uma cruz de São Pedro que, tanto ele como o Escorpião, sabem ser falsa. Depois da Capadócia e de Jerusalém essa busca termina na fortaleza de Saint-Serrac, mas o resultado não foi bem o que o Escorpião esperava…

Embora a intriga evolua de forma demasiado lenta, e os últimos três álbuns contribuam muito pouco para o evoluir da trama global, vale a pena continuar a acompanhar este “Escorpião”, quanto mais não seja pelo excelente trabalho de desenho e de cor directa de Marini, cada vez mais à vontade como colorista.

(“O Escorpião Vol 6: O Tesouro do Templo”, de Marini e Desberg, Edições Asa, 48 pags, 12,50 €)

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Interlúdio

As conspirações no seio da Igreja Católica e as (muitas) dúvidas sobre a veracidade de alguns dogmas sobre os quais assenta, não sendo um tema novo, está na moda, embora a BD já o explorasse antes do fenómeno Dan Brown.
Esta é também a temática da série “O Escorpião”, ambientada no século XVIII, que narra a procura da verdadeira cruz de Pedro, para desmascarar o Cardeal Trebaldi, auto-assumido ateu, recém-eleito Papa com o objectivo de se servir da muito poderosa organização católica, refundando-a à imagem dos seus interesses.
Para além dos seus sequazes, a busca envolve um aventureiro conhecido como Escorpião, filho ilegítimo do anterior Papa e que vive na fronteira da lei, e as belas – mas perigosas – Ansea e Méjai, e está na origem de movimentadas narrativas, em que a veracidade histórica e ficção se confundem, plenas de acção e dinamismo, com muitas armadilhas, traições, surpresas, intriga e mistério, que mostram o melhor da BD de aventuras franco-belga.
O traço realista ágil, fluído e expressivo e a planificação cinematográfica de Marini servem na perfeição o guião de Desberg que demonstra toda a sua mestria em “O vale sagrado”, de ritmo intenso, com diversos volte-faces e cuja leitura prende e entusiasma, mesmo que não passe de um interlúdio, pois, no final, nada se adiantou à história base, e os protagonistas estão numa situação tão crítica como no início…


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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