Etiqueta: Greg

Bernard Prince: Ameaça Sobre o Rio

Com poucos meses de atraso sobre a edição original francesa, a Vitamina BD acaba de lançar “Ameaça Sobre o Rio”, álbum que assinala o regresso de Hermann à série Bernard Prince, trinta e dois anos depois de ter desenhado “Le Port des Fous”, o seu último álbum para esta série.
Após Herman ter decidido abandonar as aventuras de Bernard Prince para se dedicar às suas próprias criações, Greg prosseguiu a série com outros desenhadores, Danny e E. Aidans, mas a etapa de Hermann é única e inultrapassável, tanto mais que os argumentos de Greg na fase final da sua carreira, ficam bem longe dos tempos áureos da série.

Daí que este regresso de Hermann a “Bernard Prince”, ilustrando em cores directas, uma história escrita pelo seu filho, Yves H. fosse muito aguardado. Para esta nova aventura, cuja acção decorre num país fictício da América Latina, Yves foi buscar os principais elementos que fizeram o sucesso da série: a aventura em cenários exóticos, a fúria da natureza como grande obstáculo (nesta caso, uma chuvada diluviana), o Cormoran, e personagens recorrentes ao longo da série, como El Lobo, personagem que aparece nos álbuns “Tormenta sobre o Coronado” e “O Refúgio da Moreia” e Kurt Bronzen, o mau da fita de “A Fronteira do Inferno” e “Tormenta sobre o Coronado”, a quem os anos trataram bastante pior do que a El Lobo que, tal como Bernard Prince e Barney Jordan, pouco envelheceu.

E a questão do passar do tempo é um dos aspectos mais curiosos deste álbum, pois se há uma actualização a nível da tecnologia (todos têm telemóveis e o Cormoran tem computador e GPS) e dos costumes (o topless algo gratuito da filha de Bronzen não teria sido possível nas páginas da revista Tintin, onde os primeiros episódios foram publicados), as únicas personagens em quem é visível o passar do tempo, são Bronzen, que ficou careca, e Djinn, que parece ter mais quatro ou cinco anos do que na fase áurea da série, mesmo que a nível de comportamento se revele muito menos expedito do que nos bons velhos tempos. Mas essa é mesmo a maior falha do argumento de Yves H., que no resto se revela um discípulo aplicado de Greg, com a grande vantagem de contar a seu lado com um Herman ao seu melhor nível, tanto em termos de desenho como na cor.

“Bernard Prince: Ameaça sobre o Rio”, de Hermann e Yves H., Vitamina BD, 56 pags, 13,50 €

Futura Imagem

Comanche e Clifton de parabéns hoje

Há quatro décadas, eram publicadas as primeiras pranchas de Comanche, um dos mais notáveis westerns da banda desenhada. Dez anos antes, tinha nascido o Coronel Clifton, o fleumático investigador inglês.

A 16 de Dezembro de 1969, os leitores do “Tintin” belga, descobriam uma nova série intitulada “Comanche”. Se as primeiras pranchas, ambientadas num vasto espaço selvagem e com um empolgante duelo logo na página 3, davam o mote para mais um western aos quadradinhos, ela viria a revelar-se uma das mais referenciadas (e reverenciadas) abordagens realistas a um género que a BD explorou até à exaustão, então (ainda) na moda.
O seu argumentista era Greg, rigoroso na construção das histórias, hábil na escrita dos diálogos, que situou a acção no período de transição entre a prevalência da lei das armas e dos mais fortes e a chegada da civilização às regiões mais inóspitas do velho Oeste. E escolheu um lote de protagonistas de todo improvável – Comanche, uma jovem, dona do rancho “666”, o velho Ten Gallons, o negro Toby, o miúdo Clem, o índio “Mancha de Lua” – todos excluídos socialmente, que lhe permitiram abordar em segundo plano questões como o lugar da mulher, o racismo ou o massacre dos peles-vermelhas. E, claro, Red Dust, a estrela da companhia, elo de união entre todos, capaz de potenciar o melhor de cada um, irlandês, ruivo, ex-pistoleiro, decidido e humano. E talvez este seja, também, o adjectivo que melhor define a série: humana porque “Comanche” é antes de tudo um tratado sobre seres humanos, sobre a sua adaptação às circunstâncias e a um novo mundo, sobre superação e sobre amizade.
O desenho foi entregue a Hermann que progressivamente se revelou como um dos grandes mestres realistas europeus, com uma planificação multifacetada e dinâmica, tal como o traço, nervoso, com o evoluir da série mais atraente e depurado, ágil e servido por belas cores, tão capaz de retratar os grandes espaços como o ser humano, de mostrar o quotidiano como os (muitos) momentos de tensão e violência.
Em Portugal, a série foi publicada integralmente na revista “Tintin” e oito dos seus dez tomos foram editados em álbum pela Bertrand e/ou Distri.
Anos mais tarde, em 1989, Greg (ninguém é perfeito…) voltou a Comanche para mais cinco aventuras (a última terminada por Rudolphe, devido à sua morte, em 1990). Mas a verve narrativa já não era a mesma, o tempo do western tinha (também) passado e o traço de Rouge ficava muito distante da arte de Hermann.

Na mesma revista “Tintin” belga, no mesmo dia, mas 10 anos antes, nascia Harold Wilberforce Clinton, coronel aposentado e, por vezes, chefe de escuteiros, para resolver enigmas policiais e de espionagem, secundado pelos seus gatos e por Mrs. Patridge, a sua governanta. Inglês de nascença, fleumático por natureza, inimigo do uso da violência a não ser em último caso, foi criado pelo mestre Raymond Macherot, também autor de Chlorophylle e Minimum, que no espaço de três álbuns lançou as bases da série, concebida com muito humor e uma elegante linha clara, dinâmica e legível. Publicado em Portugal no Tintin e pontualmente em álbum pela Ibís e a ASA, Clifton seria depois continuado (descaracterizado e banalizado), numa vintena de álbuns, entre outros, por Greg, Jo-El Azara, Turk, De Groot e, na actualidade, Rodrigue.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem