Etiqueta: José Ortiz

Fartura

“Não há fome que não dê fartura”, diz a sabedoria popular – tão sábia que muitas vezes tem um dito oposto, para ter sempre razão. No caso, aquele aplica-se às revistas Bonelli, que chegam a Portugal, via Brasil, nas edições da Mythos que, depois de alguns meses limitadas aos títulos de Tex, vêem este mês a oferta aumentada com o regresso de “Mágico Vento” e “J. Kendall, aventuras de uma criminóloga” (e em breve “Zagor”), graças à mudança de distribuidora. Neste último, Júlia, a criminóloga de Garden City, criada por Berardi à imagem de Audrey Hepburn, a braços com um potencial assassino que procura a sua atenção, continua incapaz de estabelecer relações a nível pessoal, numa história rica e bem estruturada, de ritmo propositadamente lento, que cruza o mistério da situação policial com as questões quotidianas dos protagonistas. Já Mágico Vento, o feiticeiro branco dos Sioux, desenvolvido por Manfredi, atravessa uma das suas fases mais interessantes, combinando o ritmo arrebatador do western com o misticismo das crenças indígenas e o realismo histórico com um toque de fantástico.
E como a anterior distribuidora se atrasou – ainda vai fazer mais um lançamento, para não haver falhas na continuidade – e a nova se adiantou, há neste momento oito títulos Bonelli nas bancas, entre os quais os “Tex” #422 e #424 e o “Tex Gigante” #17, em que se destaca o soberbo preto e branco de José Ortiz.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Deleite

Qual a melhor história de Tintin? E de Astérix? Se a resposta já é complicada em séries com duas ou três dezenas de álbuns, imagine-se no caso de Tex, com centenas de histórias ao longo de quase 60 anos. E, não tendo sido muitos os argumentistas, forçosamente muitas delas assemelham-se, raramente fugindo aos estereótipos do western – o que não é, de todo, sinónimo de serem desinteressantes ou mal contadas.
Assim, geralmente, é o desenho que marca a principal diferença e o acaso fez coincidir nas bancas portuguesas duas edições da Mythos com o traço de José Ortiz, de momento um dos melhores desenhadores do ranger. Traço que se distingue pelo dinamismo e expressividade, pelo preto e branco contrastante, pela pormenorização dos cenários selvagens e poeirentos e da figura humana dura e agreste e pela variedade de enquadramentos, com destaque para os grandes planos dos rostos. E se em “Tex #422 – A longa viagem” (primeiro de uma trilogia em que a temática até foge ao convencional, com Tex e Carson envolvidos numa caça ao tesouro) isto já é evidente, a verdade é que é no “Tex Gigante #17 – O grande roubo” – beneficiando do maior formato – que o traço de Ortiz respira mais à vontade, transformando uma típica história de um assalto a um comboio – com uma série de surpresas e coincidências bem urdidas por Nizzi – numa narrativa bem ritmada e que é um deleite para os olhos.


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F. Cleto e Pina

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