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O perigo da unanimidade que “Blacksad” justifica

Policial negro actual, embora situado décadas atrás

Sei que a unanimidade é perigosa mas no caso de Blacksad é impossível não ficar deslumbrado pelo originalidade da estrutura, pela qualidade das histórias e pela desenvoltura do traço desta criação dos espanhóis Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido
O título mais recente “Então, tudo cai” é, até agora, o mais ambicioso da série e, talvez por isso, foi necessário dividir a história por dois álbuns, que a Ala dos Livros já disponibilizou em português, reproduzindo as capas originais que compõem uma imagem única, com quatro dos principais intervenientes e a coragem de a segunda não ter o protagonista.
Ambientado numa Nova Iorque efabulada, o relato, apesar de se situar décadas atrás, soa estranhamente actual, pois combina ambições pessoais, lutas sindicais, interesses imobiliários e ligações perigosas entre políticos e gente pouco recomendável, numa trama bem urdida, consistente e sólida, repleta de segredos incómodos, em que os passados de algumas personagens as atrapalham e os cadáveres se vão multiplicando.
A par deste contexto mais genérico, em que arte e progresso parecem servir propósitos antagónicos, o protagonista, que dá título à série, reencontra antigas ligações, como sempre escolhe o lado errado das trincheiras e acabará por pagar caro as suas opções, fazendo, também ele jus ao título que aponta para a finitude da impunidade, das injustiças e dos negócios esconsos, sem que isso implique nenhum fundo nem lições de moral.
Policial negro, contido nos diálogos, deixando que a arte – e que arte! – de Guarnido tenha a primazia na narração da história – revela no entanto como Canales é extremamente assertivo e certeiro nas palavras que coloca na boca das suas personagens, com uma qualidade de escrita peculiar e uma enorme capacidade de transmitir muito com pouco.
E se, adequadamente, numa história que também tem ligações com a representação e o teatro, o tom de tragédia vai aumentando página a página, nenhum leitor estará preparado para a cena final, monumental e ao mesmo tempo representativa da pequenez do ser humano ou, em “Blacksad”, dos animais antropomórficos que assumem na sua forma as suas características intrínsecas, nos espelham e representam de forma tão forte, marcante e reveladora.
…porque, na verdade, é nessa última vinheta que, “Então, tudo cai”.

Blacksad: Então, tudo cai
Díaz Canales e Juanjo Guarnido
Ala dos Livros
60+56 p., 17,50€ (cada)


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Blacksad: um novo álbum e um filme

As Edições Asa distribuem hoje nas livrarias nacionais, em simultâneo com a edição original francesa, o álbum “Blacksad: O inferno, o silêncio”, quarto tomo desta série escrita por Juan Díaz Canales e desenhada por Juanjo Guarnido.
Com inúmeros prémios conquistados e os favores do público e da crítica, “Blacksad”, que retoma a tradição dos grandes autores do género, é um policial negro ambientado em meados do século XX que já revisitou temas como a intriga em meios cinematográficos, o racismo e o Ku-Klux-Klan ou a caça aos comunistas nos EUA. No novo álbum, que sai após um intervalo de 5 anos, encontramos o detective na Meca do jazz, Nova Orleães, à procura de um pianista toxicodependente.
A principal marca distintiva da série é, no entanto, o grafismo pois, em “Blacksad”, todos são animais antropomorfizados, cujas características correspondem às das personagens que interpretam. Assim, o detective que o protagoniza é um ágil felino, os duros que tem de enfrentar gorilas, ursos ou lobos, as personagens femininas, belas e sensuais, uma gata ou uma leoparda, etc. A par disso, o desenho, hiper-realista e servido por belas cores, é magnífico, notando-se ao nível da composição das pranchas e do ritmo imposto à narrativa, as influências do trabalho de Guarnido como animador nos Estúdios Disney
Integralmente editada em português, a série inclui ainda um álbum especial – “Blacksad – Os bastidores do inquérito”- com esboços, estudos e desenhos inéditos, em que os autores revelam a génese do herói e a sua forma de trabalhar.
Entretanto, Blacksad pode estar em vias de ser transposto para o grande ecrã, pois o realizador Alexandre Aja (“Piranha 3D”) revelou estar interessado no projecto, em parceria com Thomas Langmann. Este último já esteve envolvido em adaptações cinematográficas doutros heróis dos quadradinhos, nomeadamente Astérix e Blueberry.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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