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Grande prémio de Angoulême 2008 partilhado por Dupuy e Berberian

Autores de Monsieur Jean fizeram caderno de desenhos sobre Lisboa; “Là oú vont nos pères”, do australiano Shaun Tan, escolhido como Melhor Álbum do Ano

O Grande Prémio de Angoulême, divulgado ontem, pela primeira vez foi atribuído ex-acqueo, a Dupuy e Berberian. Ou talvez não, porque na sua obra é impossível distinguir onde termina a contribuição de um e começa a do outro.
Philippe Dupuy nasceu em 1960, em França, e frequentou a Escola de Belas-Artes de Paris, onde conheceu Charles Berberian, nascido um ano antes no Iraque. Em 1983 elaboraram a sua primeira BD conjunta, uma homenagem a Hergé, e um ano depois nascia “Le journal d’Henriette” (primeiro volume editado em português pela Booktree), o divertido diário secreto de uma adolescente gorda que deseja ser escritora. A sua obra de referência é a série “Monsieur Jean” (1991), a crónica quotidiana de um trintão – também escritor – indeciso perante as encruzilhadas da vida, feita em tom intimista e autobiográfico, que lhes valeu o Alph’Art para o Melhor Álbum de 1999. O traço da dupla assenta numa linha clara de desenho simples e eficaz e cores suaves. O primeiro volume, editado pela Meribérica com o título “Monsieur Jean, o amor, a porteira…”, trouxe o protagonista a Portugal, em busca de inspiração para as suas obras. Por Portugal passaram também os autores, primeiro como convidados do IX Salão de BD do Porto (1999), depois, a convite da Bedeteca, pela capital, resultando dessa estadia o livro “Lisboa – cadernos”.
O júri do Festival escolheu “Là oú vont nos pères”, do australiano Shaun Tan, como Melhor Álbum do Ano, um livro notável, totalmente mudo, feito de imagens aparentemente soltas, trabalhadas a lápis, em incómodos tons de cinzento e sépia, sobre os dramas dos emigrantes.
O palmarés de Angoulême fica completo com os álbuns “essenciais”: “Exit Wounds”, de Rutu Modan; “La Marie en plastique”, de Rabaté e Prudhomme; “Ma Maman est en Amérique, elle à rencontré Buffalo Bill”, de Regnaud e Bravo ; “R.G.”, de Peeters e Dragon ; “Trois Ombres”, de Pedrosa; “L’Elephant”, de Isabelle Pralong (Revelação); “Moomin”, de Tove Jansson (Património); “Kiki de Montparnasse”, de Catel e Bocquet (Público); “Sillage #10”, de Morvan e Buchet (Juventude).


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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Emigração

Um homem despede-se – de forma pungente. Um homem parte. Só, com uma mala de mão. Com poucos pertences e uma fotografia. Talvez o mais valioso de todos. Uma fotografia de uma família, a sua. Ele, a mulher e uma filha pequena. O homem parte para longe. Para o outro lado de um vasto oceano. Para um admirável – mas assustador – mundo novo. De linguagem incompreensível. De escrita indecifrável. Com novos animais, novas plantas, novos alimentos. Lá chegado, só, tem que arranjar alojamento, um emprego.

Esta é a história de muitos (de quase todos?) os emigrantes: abandonar os entes queridos para procurar melhores condições de vida (sonhos?). E é também a história do notável “Là où vont nos pères” (Dargaud). Notável porque é um enorme romance mudo, feito de imagens aparentemente soltas, trabalhadas a lápis, em incómodos tons de cinzento e sépia, por Shaun Tan. Notável pela forma como explode em imagens de página inteira ou as monta até 30 por página, como forma de apressar ou retardar o ritmo da narrativa, de revelar mudanças de espírito, de nos surpreender numa paisagem, de nos reter num pormenor, de nos emocionar numa descoberta ou com um revés. Notável na forma como retrata o desconhecido, como transmite emoções e sentimentos, como ilustra o passar do tempo.

Notável, ainda, porque diz, porque faz acreditar que a integração é possível, que os sonhos se concretizam.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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