Etiqueta: 1967

Grande prémio de Angoulême para Blutch

Blutch foi distinguido com o Grande Prémio de Angoulême pelo conjunto da sua obra, num palmarés que, este ano, prima pelo destaque dado à banda desenhada de autor.

De seu verdadeiro nome Christian Hinckler, Blutch nasceu em Estrasburgo a 27 de Dezembro de 1967, tendo publicado a sua primeira BD aos 20 anos na revista “Fluide Glacial”. Inicialmente marcadas pelo humor, as suas histórias rapidamente passaram a registos poéticos ou oníricos, uma das suas imagens de marca, juntamente com a plasticidade das suas pranchas, extremamente originais, esquemáticas no traço vivo e dinâmico, quase sempre em tons de preto e branco. Isso aproximou-o dos editores independentes, em registos de uma grande virtuosidade gráfica e, muitas vezes, de tom autobiográfico, sendo um dos cabeças de cartaz de uma geração responsável por muito do experimentalismo que tem aberto novas portas e soluções à BD nos últimos 20 anos.
Pode dizer-se que Blutch foi o grande triunfador deste ano, já que o seu álbum “Le petit Christian – tome 2” (L’Association), foi também escolhido como um dos Essenciais de 2008, onde se contam também “Lulu” (Futuropolis), de Étienne Davodeau, “Martha Jane Cannary“ (Futuropolis), de Blanchin e Perrissin, “Spirou, le Journal d’un Ingénu“ (Dupuis), de Émile Bravo e “Tamara Drewe“ (Denoël Graphic), de Posy Simmonds. O Fauve d’or para Melhor Álbum do Ano coube a “Pinocchio“ (Les Requins Marteaux), de Winschluss.
Neste palmarés, equilibrado e recheada de obras indiscutíveis que merecem ser descobertas, destaque ainda os prémios Essencial Revelação – entregue a “Le Goût du chlore“ (Kstr/Casterman), de Bastien Vivès -, Essencial Património – “Opération Mort“ (Cornélius), de Shigeru Mizuki – e Essencial Juventude – para “Le petit prince“ (Galimard), de Joann Sfar, o único destes títulos editado em Portugal (pela Editorial Presença).
Um dos pontos altos da Cerimónia de entrega de prémios, cuja assistência ovacionou de pé a escolha de Blutch, foi a homenagem a Claude Moliterni, um dos fundadores do Festival de Angoulême e um dos maiores especialistas em BD, recentemente falecido.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Com D grande

Está nas livrarias o segundo álbum de Astérix em mirandês, “L Galaton” (“O Grande Fosso”), a história de uma aldeia dividida ao meio por uma querela. Se a notícia para a maior parte dos leitores de BD, vale só pela curiosidade, merecerá mais atenção se acrescentar que a edição inclui um segundo caderno que reproduz a mesma história (em francês, vá-se lá compreender porquê…), a preto e branco, no formato italiano, a meia prancha por página, 35% maior que a versão colorida, o que permite admirar pormenorizadamente o excelente trabalho de Uderzo.

Se em “Astérix, o gaulês”, estreado em Outubro de 1959 na “Pilote”, o traço era algo agreste, de contornos rígidos e, por vezes, mostrava algumas dificuldades em representar movimento, uma análise mais cuidada revelava, ainda “em bruto”, alguns dos principais méritos do desenhador que tanto contribuíram para o êxito da série: bom domínio da planificação, do ritmo e do sentido de leitura. E se ao longo do álbum era notória já uma evolução assinalável, seria preciso esperar até “Astérix e os Normandos” (1967) para que as suas potencialidades se revelassem em todo o esplendor, confirmando Uderzo como um grande desenhador, muitas vezes imitado mas nunca igualado, no seu traço suave, vivo e dinâmico, nos seus heróis de formas arredondadas e grandes narizes e pela sublimação das outras qualidades já referidas.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias