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A indiferença perante o horror da realidade

Biografia de Francesc Boix revela a realidade do campo de extermínio de Mauthausen.

Preservar a memória é fundamental num tempo em que a informação – e a falta dela – é tão etérea e passa tão depressa quanto surge: à velocidade de um clique.
“O Fotógrafo de Mauthausen”, disponível em edição portuguesa da Gradiva, é um tributo à memória de um homem, o espanhol Francisco Boix, que esteve preso no campo de extermínio de Mauthausen, um local para onde iam os “irrecuperáveis”, um local de onde nenhum dos prisioneiros “deveria sair vivo”.
Tendo de fugir após a guerra civil do país ao lado, Boix tornou-se refugiado político em França, onde seria integrado à força numa divisão do exército local e acabaria prisioneiro dos alemães, em 1941, quando o seu poderio militar e a sua expansão atingiam o auge.
Depois do filme de 2018, de Mar Targarona, esta é mais uma forma de contar, possivelmente a outra faixa de potencial público, o que Boix viveu em Mauthausen e, mais do que isso, o que ele viu por lá.
Porque naquele campo de extermínio, triste coincidência, havia quem tivesse o mesmo propósito: ilustrar a verdade para que ela perdurasse, embora não pelos mesmos motivos. Paul Rincken, um dos oficiais nazis, gostava de retratar a morte dos prisioneiros em fotografias artísticas, ao mesmo tempo que ‘fabricava’ outro tipo de imagens para dar uma ideia distorcida, até agradável, do local.
Boix, caído nas graças dele devido ao seu jeito para a fotografia, decidiu então que teria de fazer sair do campo os negativos e as fotos que poderiam mostrar ao mundo a hedionda realidade. É neste pressuposto que se baseia esta narrativa realista com toques de ficção, em que a bestialidade nazi nos entra pelos olhos dentro em contraponto com o idealismo de um homem que tenta preservar a memória.
Da leitura, agradável, composta por um muito extenso dossier final, ilustrado por muitas das fotos que Boix preservou que situa e contextualiza os acontecimentos, fica uma dupla sensação de incómodo: pelo que foi levado a cabo naquele lugar e pela indiferença com que o pós-guerra – e os dias de hoje? – receberam a verdade.

O Fotógrafo de Mauthausen
Salva Rubio, Pedro J. Colombo e Aintzane Landa
Gradiva
168 p., 32,50 €


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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