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António Alfacinha, um português na Turma da Mônica

Novo herói de Maurício de Sousa estreia-se em Julho no Brasil; Revistas com as primeiras histórias deverão chegar a Portugal em Dezembro; diferenças de linguagem em Portugal e no Brasil são a base das suas histórias

A notícia avançada por Maurício de Sousa em Novembro do ano passado, tem agora data e local oficiais: António Alfacinha, lisboeta de gema, o “miúdo luso” da Turma da Mônica vai fazer a sua estreia no nº 7 da revista “Cebolinha”, que será lançada no Brasil na próxima semana. E como após longos meses de ausência, as revistas da Mônica, Cebolinha, Cascão e companhia voltaram às bancas portuguesas a semana passada, com seis meses de atraso em relação à distribuição no Brasil, Portugal terá de esperar até Dezembro para o conhecer.

Esta nova personagem não é caso único na história recente da Turma da Mônica. “Para que ela espelhe a realidade brasileira”, declarou Maurício de Sousa ao Jornal de Notícias, em Novembro último, no Festival de BD da Amadora, “criámos Dorinha, a menina cega, Luca, o paraplégico em cadeira de rodas… vem aí uma menininha com Síndroma de Down e uma família negra porque nós temos poucas personagens negros e estamos a sentir falta deles” ou Bloguinho, um maníaco da informática. António Alfacinha é “uma ideia antiga” de Maurício que agora se concretiza.

O seu processo de criação, como habitualmente, “envolveu muita pesquisa, conversámos com pessoas, vimos a parte positiva, a parte negativa, até me sentir pronto para fazer a personagem”. E passa por coisas (aparentemente) tão simples como definir o seu aspecto – Alfacinha nos primeiros esboços tinha um cabelo verde-alface assemelhado mesmo a uma alface e acabou com cabelo preto e risca ao meio, a lembrar um bigode aristocrático – ou as suas roupas, – cuja combinação de cores andou sempre em torno das da bandeira portuguesa, e que acabaram por se fixar em calções verdes, t-shirt vermelha, colete preto e sapatos castanhos. E os olhos e as bochechas salientes típicas das personagens de Maurício, que lhes conferem um ar simpático e divertido e condizem com o carácter desinibido e mesmo provocador do Alfacinha. O passo seguinte foi “testá-lo, com as mulheres do estúdio: são mais sensíveis, dão ideias e respostas mais honestas”.

Como principal característica, o Alfacinha “fala o português original de Portugal, com diferenças fonéticas, palavras diferentes, para que as crianças no Brasil também as conheçam e até comecem a utilizá-las. Assim haverá uma aproximação de crianças do Brasil e de Portugal que acho extremamente positiva”.

E é nessas diferenças da língua (visível logo no nome: António, com “o” aberto, e não “Antônio” à brasileiro) que se baseiam as três primeiras histórias que Alfacinha co-protagoniza. Nelas, sucedem-se os trocadilhos e as confusões verbais, com bem conseguidos efeitos cómicos, possivelmente mais acessíveis a nós portugueses, mais habituados à língua brasileira, pela influência das telenovelas e da música, do que o inverso. Depois de travar conhecimento com o Cebolinha logo na primeira história – “Alfacinha, o miúdo luso” – António – que usa e abusa do “oh pá!” e do “ora pois!” – conhece outros membros da Turma, como o Cascão e o Xaveco, com quem joga futebol. O encontro com a Mônica, resulta em paixão à primeira vista para o pobre portuguezinho, que é enganado pelos outros miúdos, quanto às melhores frases para a cativar. Depois de levar uma tareia “de coelho”, a marca registada da Mônica, Alfacinha vingar-se-á de forma surpreendente! Na terceira história, a sua paixão pela “cachopinha” desperta os ciúmes do Cebolinha, começando entre ambos uma guerra culinária que termina da forma habitual, com os dois pretendentes unidos na desgraça, vencidos e (con)vencidos pelo coelho da Mônica!

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Perfil

Maurício de Sousa

Nascido em Santa Isabel, no Brasil, em 1935, Maurício de Sousa, após uma infância normal e uma adolescência dividida entre os estudos e o trabalho para ajudar os pais, mudou-se para São Paulo para tentar concretizar o sonho de ser desenhador profissional, acabando como repórter policial do “Folha da Manhã”. Continuando sempre a desenhar, em 1959 cria Bidu e Franjinha em tiras que vendeu ao seu jornal, juntando-lhes sucessivamente Cebolinha, Piteco, Chico Bento e muitos outros que, ao fim de 10 anos, eram publicados em mais de 200 jornais brasileiros. Começava assim um verdadeiro império dos quadradinhos – as suas revistas vendem hoje cerca de 2 a 3 milhões de exemplares por mês só no Brasil, e chegam a lugares tão distintos como os EUA, Espanha, Itália, Coreia ou Indonésia – que Maurício, com tanto de criador genial como de gestor atento à realidade, tem sabido estender a outros meios: televisão, cinema, parques temáticos, sendo a Internet o próximo passo. A par disto, o licenciamento de inúmeros produtos com os seus heróis e a participação gratuita em campanhas de solidariedade, nacionais e internacionais, contribui sobremaneira para a difusão da Turma da Mônica, cuja principal mensagem é “deixem as crianças ser crianças”.

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Os outros portugueses que Maurício criou

António Alfacinha não é o primeiro português criado por Maurício de Sousa nos seus “quadrinhos”, embora seja o primeiro a merecer um lugar de (relativo) destaque. Nos anos 50, ainda a Turma não existia, Maurício criou Mingão, o dono de um talho, que agora chegou a ser apontado como pai do Alfacinha, o que acabou por não se concretizar. Entretanto abandonado, voltou a aparecer de forma fugaz em “Lostinho – perdidinhos nos quadrinhos”, uma sátira da Turma da Mônica à série televisiva “Lost” (“Perdidos”).

Em tempos mais recentes. Quinzinho foi outro português a cruzar os caminhos da Turma, como namorado da comilona Magali. Filho de um padeiro, ao contrário do que se possa pensar, o seu nome não é diminutivo de Joaquim, mas antes uma tradição familiar pois os irmãos chamam-se Onzinho, Dozinho, Trezinho…


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Vêm aí The Simpsons em formato manga

Maurício de Sousa anunciou que a Turma da Mónica também terá versão manga ainda este ano

Se de repente começar a ouvir falar da família Simpsonzu e achar nela estranhas semelhanças com uma família que conhece bem, não estranhe. Serão os protagonistas de uma nova banda desenhada em estilo manga (bd japonesa), baseada em “The Simpsons”, a célebre família amarela do pequeno ecrã, a lançar possivelmente ainda durante este ano.

E, curiosamente, tudo começou com uma brincadeira, quando Space Coyote, uma artista obscura, decidiu afixar no seu site, “só por brincadeira, para os amigos”, uma “foto de família” com duas dúzias dos mais conhecidos intérpretes de “The Simpsons”, com a particularidade de estarem desenhados com características manga: seja olhos grandes, bocas escancaradas e um aspecto assumidamente asiático. Incentivada pelas reacções recebidas, Space Coyote fez o mesmo exercício com os heróis de “Futurama”, outra série de Matt Groening, actualmente em exibição na 2:. As imagens começaram a circular na net, chegaram até à Bongo Comics, responsável pela versão em BD dos Simpsons, que, em lugar de processar a artista, decidiu convidá-la para desenhar uma banda desenhada, com a estética própria dos quadradinhos japoneses. Mas este autêntico conto de fadas não se fica por aqui, pois a ilustradora também foi contactada pela 20th Century Fox, que exibe os desenhos animados originais, para colaborar na nova temporada de “Futurama”.

Entretanto, no Brasil, em entrevista recente, Maurício de Sousa, o criador de Mônica, Cebolinha, Cascão e companhia – cujas novas revistas deverão ser distribuídas em Portugal nas próximas semanas – entre outros projectos anunciou “que também vamos ter a Turma da Mônica desenhada no estilo dos quadradinhos japoneses; vamos brincar um pouquinho com o estilo “semi-manga”, ainda este ano”.

Estes são mais dois exemplos da importância crescente deste género de BD no Ocidente, onde já representa 40 % ou mais dos mercados alemão, espanhol e franco-belga. Isto tem levado muitos autores europeus e norte-americanos, nomeadamente das novas gerações, a optarem por este género narrativo, preferido pelos leitores mais jovens, sendo exemplos recentes adaptações de Shakespeare na Inglaterra e nos EUA, ou edições aos quadradinhos apadrinhadas e protagonizadas por Courtney Love ou Avril Lavigne, como o JN oportunamente noticiou.

Em Portugal, se as anteriores tentativas de editar manga têm sido um fracasso, há alguma expectativa em relação à entrada das Edições ASA neste segmento, nos finais de 2007, e quem costuma acompanhar concursos e fanzines, nota o número cada vez maior de obras influenciadas pelo estilo narrativo nipónico. A um outro nível, o bimestral “BDJornal”, que acompanha a actualidade dos quadradinhos, tem publicado “Os Monótonos Monólogos de um Vagabundo”, de Hugo Teixeira, e as Produções Fictícias procuram uma parceria para lançarem aquela que classificam como “o primeiro manga português”, “Meia-Noite e Três”, de Nuno Duarte e Ana Freitas.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias