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A BD e a República — Quadradinhos nacionais retratam a revolução de 1910

Se os autores portugueses de BD foram muitas vezes empurrados para o nicho dos relatos históricos – quer por força das limitações que a censura impôs, quer por ser uma área onde a concorrência estrangeira não se fazia sentir – raras são as abordagens feitas na época contemporânea. Por isso, períodos com grande potencial para relatos ficcionais de base histórica, como o 25 de Abril ou a resistência ao fascismo, são quase inexistentes nos quadradinhos. O mesmo se passa também com o período conturbado que levou à proclamação da República, em 1910. E para a qual a BD e, principalmente a caricatura e o cartoon, também contribuíram, através das críticas desenhadas por Celso Hermínio, Leal da Câmara ou Francisco Valença.
Alguns álbuns, no entanto, narram os acontecimentos que antecederam o 5 de Outubro de há um século atrás, numa perspectiva histórica, como é o caso da “História de Portugal em B.D. – 4. A revolução da Liberdade” (Edições ASA, 1989), de Carmo Reis e José Garcês, que lhe dedica algumas pranchas num estilo realista e rigoroso.
O mesmo fazem Oliveira Marques e Filipe Abranches na sua “História de Lisboa (II) 1580-1974” (Assírio & Alvim e C.M. Lisboa, 2000), num estilo mais moderno e arrojado, em que a legibilidade das imagens predomina sobre o texto, reduzido ao mínimo para enquadrar os acontecimentos, mais mostrados na sua crueza do que relatados.
Mas, sem dúvida, a obra mais significativa é “Mataram o Rei!… Viva a República” (reedição da Âncora Editora em 2008), que abarca o período de 1880 a 1910. Assinado pelo veterano José Ruy, com mais de 60 anos dedicados à BD, assenta na habitual pesquisa documental, rigorosa e exigente, traduzida depois na representação de edifícios, veículos e indumentárias e numa pormenorizada descrição dos factos. IO que acaba por secundarizar um pouco a base do enredo, que parte de três jovens – João, republicano, Madalena, a sua irmã, e Manuel, monárquico, – para a descrição dos eventos, onde participarão de forma activa, o primeiro por convicção e o último por despeito, motivado pela relação ilícita de Madalena, sua namorada, com o rei D. Carlos.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

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