Etiqueta: Spirou

Spirou nasceu há 70 anos

Efeméride comemorada com novo álbum, renovação da revista, exposição antológica e emissão filatélica

Foi a 21 de Abril de 1938 que o mundo conheceu um simpático groom de hotel, com o seu típico uniforme e barrete vermelhos, destinado a viver dezenas de espantosas aventuras, deliciando gerações ao longo dos anos.
O seu criador foi um obscuro Rob-Vel, de quem a BD não guarda mais recordações, mas, depois de uma passagem pelas competentes mãos de Jijé, que lhe juntou Fantásio, foi com o genial Franquin (de 1946 a 1968) que Spirou se assumiu como um dos grandes heróis de BD. Com ele, o conde de Champignac, Zorglub e o incrível Marsupilami ganharam vida e o humor irreverente andou a par da acção, numa série de histórias inesquecíveis.
Depois, com maior ou menor inspiração, Fournier, Nic e Cauvin, Tome e Janry ou Morvan e Munuera, foram-no adaptando aos tempos que viviam – gráfica e tematicamente – mantendo-se sempre uma referência. Em tempos mais recentes, tem vivido aventuras atípicas, no espaço de um só álbum. Na mais recente, “Jounal d’un ingénu”, Bravo fá-lo regressar às origens de paquete de hotel, como que fechando um ciclo, antes de mais algumas décadas de vida.
Com ele, em 1938, nascia também a sua revista, “Le Journal de Spirou”, que 70 anos depois, orgulhosa do título de mais antiga da Europa, continua fiel à linha traçada, com predominância do humor e direccionada para o público juvenil. A efeméride justificou remodelação, com mais séries e autores, retomando a tradição dos suplementos especiais e apresentando o número (#3653!) evocativo da data, envolto num “papel de embrulho” que esconde uma das suas quatro capas alternativas.
Na Bélgica foi lançado um bloco filatélico, baseado em desenhos de Franquin, e uma grande exposição retrospectiva da revista está patente até 8 de Junho no Centro Belga de BD, em Bruxelas, e, em França, a Casa da Moeda emitiu uma medalha especial alusiva.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Clássicos

Tem por título “Ex-Libris”, por objectivo adaptar em BD os grandes romances da literatura e é dirigida por Jean David Morvan, recém-despedido argumentista de Spirou e autor de êxitos como “Sillage”. Como premissas, apresenta “um profundo respeito pelas obras”, a sua recriação “por autores que pretendam revisitar um dos seus livros de cabeceira” e “adaptações fiéis mas personalizadas”

Já com Dickens, Mary Shelley, Victor Hugo ou Kafka em agenda, esta colecção da Delcourt estreou-se com os primeiros volumes das versões aos quadradinhos de “Les Trois Mousquetaires”, de Alexandre Dumas, e “Robinson Crusoé”, de Daniel Defoe.

No primeiro caso, o argumento de Morvan e Dufranne reteve a essência do original bem como o seu espírito, que o traço semi-caricatural de Rubén acentuou, realçando o lado divertido e alegre da narrativa, a par do dinamismo das muitas cenas em que imperam as espadas, tudo assente numa planificação multifacetada com profusão de vinhetas por prancha.

Já em “Robinson Crusoé”, o traço de Gaultier é bem mais esquemático e sombrio, quase intimidativo, como que antecipando a angústia das quase três décadas passadas na ilha deserta, às portas da qual deixamos o protagonista, depois de este viver algumas aventuras que não aplacaram a sua sede de descoberta, nas quais a grande expressividade dos desenhos permite muitas vezes a omissão do texto escrito.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem

Yvan Delporte, a morte do argumentista modesto

Foi chefe de redacção da revista Spirou e escreveu argumentos de BD para Franquin e Peyo, entre muitos outros; Foi o inventor do nome de Gaston Lagaffe

Os leitores regulares de banda desenhada franco-belga, nos anos 60, 70 e 80, encontraram muitas vezes, em notas de rodapé ou nas páginas interiores dos álbuns, a referência: “segundo uma ideia de Delporte”. Esse Delporte, cujo nome poucas vezes apareceu na capa das muitas de dezenas de álbuns que escreveu ou cujas ideias base forneceu, faleceu ontem, dia 5, devido a doença, contava 79 anos.

Nascido em Bruxelas, a 24 de Junho de 1928, Yvan Delporte deu os primeiros passos no mundo da 9ª arte em 1945, nas edições Dupuis, como “retocador” das séries norte-americanas, julgadas “muito ousadas” para a época. Quatro anos mais tarde, assinava o seu primeiro argumento, uma história de “Jean Valhardi”, para Eddy Paape, a que se seguiriam muitos mais, para Hausman, Forton, Peyo (com quem desenvolveu muitas das aventuras dos “Schtroumpfs”), Jidéhem, Roba (“Boule et Bill)”, Will (“Isabelle”), Follet, 

Bretécher e, em especial, Franquin (sendo dele muitas das ideias dos gags de Gaston Lagaffe, que comemorou 50 anos a semana passada e cujo nome se deve a Delporte que coordenou o respectivo álbum comemorativo).

Mas apesar de ter colaborado com muitos dos grandes nomes do seu tempo, Delporte ficará na história da BD principalmente como chefe de redacção da revista Spirou, entre 1955 e 1968, onde “inventou” as histórias curtas, que serviram de porta de entrada a muitos autores. Em 1977, voltaria a inovar com o irreverente suplemento “Le Trombonne Illustré”, onde deu largas ao seu humor pouco convencional, negro e cáustico, que foi uma lufada de ar fresco para a BD humorista, encaminhando-a para temas mais adultos.

Uma monografia dedicada a Delporte estava em preparação. “Agora vai ser preciso terminar o livro com a ideia que ele não o vai ler”, foi a reacção dos seus autores, Christelle e Bertrand Pissavy-Yvernault.


Escrito Por

F. Cleto e Pina

Publicação

Jornal de Notícias

Futura Imagem