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Um Astérix que não é o Astérix

Lapinot, alter-ego de Trondheim, veste a pele do pequeno guerreiro gaulês
Paródia é homenagem ao espírito e à forma das histórias de Uderzo e Goscinny

Em anos recentes, os universos das grandes séries clássicas franco-belgas que encantaram gerações de leitores das revistas “Tintin”, “Spirou” ou “Pilote”, têm sido revisitados a dois níveis: pela sua retoma em continuações que eternizam os parâmetros originais ou, então, em versões de autor, quase sempre mais estimulantes e criativas.
Curiosamente, “Por Tutatis!”, acabado de editar pela Ala dos Livros, não encaixa em nenhuma das definições mas, se não tivesse sido criado numa (consentida) revelia à editora original, teria tudo para ser um “Astérix por…”
Por Lewis Trondheim, no caso, que, por razões que os leitores descobrirão, optou por colocar Lapinot, o seu herói/anti-herói/alter-ego, num arremedo da “pequena aldeia gaulesa que bem conhecemos”, para mais na pele de Astérix. As razões e as consequências irão sendo explanadas ao longo das pranchas, enquanto vão sendo avançados os contornos de um confronto do ‘pequeno guerreiro gaulês’ com o deus que desde sempre o protegeu e aos seus compatriotas, o omnipotente Tutatis.
No livro, toda a estrutura aponta para uma verdadeira aventura de Astérix – ou quase – com os elementos expectáveis numa aventura dos gauleses: Obélix, Panoramix, o chefe e o bardo com as suas canções, a (falta de) frescura do peixe, os confrontos com os romanos, as caçadas aos javalis, os infortunados piratas e, principalmente, a poção mágica no centro dos acontecimentos. É uma obra que decorre em bom ritmo, com gags recorrentes, uma bela sucessão de trocadilhos e os piscares de olho a serem mais do que os desvios, evidentes e assumidos, à obra original.
“Por Tutatis!”, que se distingue pela novidade da abordagem dentro da novidade “Astérix que não é Astérix”, é uma homenagem que se compreende sincera a René Goscinny e a Albert Uderzo, criadores originais de Astérix, dentro do espírito da obra que eles nos legaram, com divertidos anacronismos, uma inteligente exploração das idiossincrasias originais e a repetida constatação de que “isto nunca aconteceu na BD”, o que faz dele um álbum muito divertido, pleno de referências a várias aventuras e que pede uma leitura atenta pelos apreciadores de Astérix, para o usufruirem em toda a sua plenitude.

Por Tutatis!
Lewis Trondheim
Ala dos Livros
48 p., 15,50 €


Escrito Por

F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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Festival de BD da Amadora volta à Brandoa em 2008

Lewis Trondheim, fundador de L’Association é a grande figura do fim-de-semana; Festival da Amadora termina domingo; Mais lançamentos portugueses hoje

Termina domingo, dia 4, o 18º Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, cujo tema central é “Maioridade”, já “atingida pelo festival em termos de idade”, nas palavras de Nélson Dona, o seu responsável, mas entendida pelos organizadores “como o questionar constante do nosso papel, do que fazemos e de como podemos dar resposta ao mundo editorial e ao público leitor, sempre em mudança”. Maioridade demonstrada pela “afirmação do festival como uma referência cultural a nível nacional” e pela sua “presença ino calendário internacional”, mas questionada por alguns pela pouca atenção dedicada aos comics (BD americana) e aos manga (BD japonesa), opção justificada por Nélson Dona, “pela pouca expressão editorial que esses géneros têm em Portugal”. No entanto, reconhece que ” são nichos de mercado muito importantes, preferidos pelo público mais jovem, por isso é nossa intenção inclui-los em programações futuras, sempre que a sua temática ou qualidade artística o justifiquem”. E confidencia que “está em estudo, em cooperação com o Festival de Angoulême (França) uma exposição sobre BD chinesa”, que, no entanto, não “deverá ser já para 2008”.
Aliás, certos no programa do próximo ano, “se aceitarem os convites, apenas os premiados deste ano: Luís Henriques e Jean-C. Denis”, decorrendo contactos com “autores importantes nos seus países, mas pouco conhecidos entre nós por estarem fora dos circuitos comerciais europeu e norte-americano”.
Para os últimos dias, que contarão com a presença de Lewis Trondheim, fundador da editora L’Association, que mudou a forma de ver e editar BD em França, Zidrou, Sapin e de membros do colectivo Les Requins Marteaux, Nélson Dona destaca, “em primeiro lugar, a exposição monográfica de Alain Corbel e “Salazar, Agora na Hora da sua Morte”, de Miguel Rocha e João Paulo Cotrim, dois autores portugueses determinantes e com um trabalho extraordinário; em segundo lugar, o trabalho de renovação e de ocupação do espaço do Fórum Luís de Camões”, na Brandoa, onde o núcleo central do evento tem lugar pelo segundo ano consecutivo, realçando “o destaque dado ao livro, quer pela criação de zonas de leitura, quer pelo melhoramento da zona comercial, mais confortável para expositores e visitantes”. A melhor ocupação do espaço tem sido consensual entre os visitantes, sendo assim boa notícia a confirmação que o FIBDA de 2008 também lá terá lugar, como já “anunciou o Presidente da Câmara na abertura do festival”.

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Lançamentos em português
1 de Novembro
“Evereste” (ASA); de Ricardo Cabral
“Bang Bang” (PedranoCharco), de Hugo Teixeira
“Formas de Pensar a BD – Entrevistas do BDesenhada.com” (PedranoCharco), de Nuno Pereira de Sousa
3 de Novembro
“ABZ do Sexo” (Arte Plural Edições), António Pedro Nobre e Manuel Sousa Fernandes


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F. Cleto e Pina

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Jornal de Notícias

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O mundo dos quadradinhos regressa à Amadora

Maioridade é o tema central da 18ª edição do Festival de BD que começa a 19 de Outubro; “As 10 BDs do século” e “Salazar”, visto por João Paulo Cotrim e Miguel Rocha, são os principais destaques; Milo Manara e Lewis Trondheim são cabeças de cartaz; mão cheia de lançamentos em português

O mundo maravilhoso dos quadradinhos, através de algumas das suas muitas facetas, vai regressar à Amadora de 19 de Outubro a 4 de Novembro, de novo no Fórum Luís de Camões, na Brandoa, que reúne sem dúvida boas condições logísticas para acolher o evento, embora deixe a desejar quanto à acessibilidade através de transportes públicos. Aquela que é a 18º edição do Festival Internacional de BD, terá como tema central a Maioridade e pretende dar uma visão global de uma arte centenária. Reflexo disso, é a principal exposição, “As 10 BD’s do Século”, que evocará as obras mais votadas pelos especialistas de todo o mundo no inquérito que o Festival promoveu em 2004, ou seja “Little Nemo in Slumberland”, “Krazy Kat”, “Tintin”, “Batman”, “The Spirit”, “The Peanuts”, “Astérix”, “Blueberry”, “Corto Maltese” e “Maus”.
No mesmo local estarão também os originais de “Salazar – Agora, na hora da sua morte”, o livro de João Paulo Cotrim e Miguel Rocha que recolheu no ano passado a unanimidade da crítica (Prémios Nacionais de BD para Melhor Argumento, Desenho e Álbum) e do público.
Astérix marca presença em dose dupla já que os 80 anos de Uderzo, cujo álbum comemorativo que reúne diversas homenagens feitas ao desenhador do pequeno gaulês pelos seus colegas de profissão, será lançado pela ASA durante o evento, dará o mote a outra das exposições.
O Fórum Luís de Camões, onde funcionará a Feira do Livro de Banda Desenhada, bem como sessões de autógrafos (para as quais está prevista a presença de nomes como Milo Manara, Lewis Trondheim, Ziraldo, Achdé e Guerra, estes dois os actuais responsáveis por Lucky Luke), conferências, etc., acolherá igualmente mostras de Alain Corbel (autor da linha gráfica do festival deste ano), Roberto Goiriz, Danijel Zezelj, Sixto Valência, Mathieu Sapin, Fábio Zimbres, Ilan Manouach, Warren Craghead, Frédéric Coché e Amy Lee, bem como a do Centenário de Cardoso Lopes, um dos grandes nomes do jornalismo infanto-juvenil em Portugal da primeira metade do século XX, o Espaço Infantil, preenchido com originais de “Menino Boavida”, de Godi e Zidrou, “Rosco Le Rouge”, de Jean-Louis Marco, “Uma Mesa é uma Mesa”, de Madalena Matoso e Isabel Martins e “Pê de Pai”, de Bernardo Carvalho e Isabel Martins, e o “espaço adulto”, onde os maiores de 18 anos poderão admirar a arte de Mattioli, Liberatore, Milo Manara e Leone Frollo.
Como é habitual, o Festival espraia-se pela cidade: a Galeria Municipal Artur Bual, mostra a obra de Ziraldo, a Casa Roque Gameiro acolhe ilustrações de Teresa Lima, Prémio Nacional de Ilustração Infantil do IPLB, os Recreios da Amadora, têm diversas mostras de Cartoon, e no CNBDI está patente “007, Ordem para Humorar”, um conjunto de divertidas abordagens ao mítico agente secreto que o cinema imortalizou.

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Lançamentos em português
Afirmando-se mais uma vez como o local por excelência para a divulgação da 9ª arte nacional, o Festival deverá assistir este ano ao lançamento dos seguintes títulos:
“O Corvo III” (ASA), de Luís Louro e Nuno Markl
“Obrigado Patrão” (ASA), de Rui Lacas
“Evereste” (ASA), de Ricardo Cabral
“Sexo, Mentiras e Fotocópias” (pedranocharco), de Álvaro
“Super Pig” (Kingpin Comics), de Carlos Pedro e Mário Freitas
“C.A.O.S.” (Kingpin Comics), de Filipe Teixeira, Fernando Dordio Campos e Carlos Geraldes


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F. Cleto e Pina

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Festival de BD de Angoulême na encruzilhada

Maior manifestação europeia de banda desenhada começa hoje, ensombrada por questões logísticas e problemas de financiamento; Lewis Trondheim e Hergé atraem as atenções

Começa hoje a 34ª edição do Festival International de Bande Dessinée d’Angoulême, França, ensombrada por diversas questões que podem mesmo pôr em causa a continuidade da mais importante manifestação europeia dedicada aos quadradinhos, pelo menos nos moldes até agora utilizados.

À cabeça destas, surgem os problemas de financiamento que o festival experimentou este ano, acompanhadas de perto pela necessidade de montar as tradicionais feiras de BD num local situado a dois quilómetros do centro de Angoulême, onde estão as principais exposições, o que desagradou aos livreiros e põe em causa a imagem de marca do festival: uma cidade inteiramente consagrada à banda desenhada. Esta opção permitiu, no entanto, congregar num único espaço, com cerca de 10.000 m2, que se apresenta como a “maior loja de BD do mundo”, editores, fanzines e produtos derivados.

Esta edição nasceu desde logo envolta em polémica, ou não fosse Lewis Trondheim, contemplado com o Grande Prémio da Cidade em 2006, o Presidente. Polémico por natureza, disparou para todos os lados (direcção do festival, patrocinadores, imprensa), e a verdade é que deixa a sua marca. Quer no cartaz sóbrio e mais gráfico do que era habitual, quer na alteração do palmarés do festival (ver caixa), quer no facto de ter abdicado da tradicional exposição retrospectiva, substituindo-a por “Les 7 merveilles de la bande dessinée”, uma exposição-gag minimalista em que Trondheim e os seus amigos rendem homenagem à BD em todas as suas formas, em sete vinhetas gigantes irónicas, entre as quais “Pranchas originais dos Schtroumpfs”, “A prancha mais cara do mundo” e “Descobrir o mundo com Corto Maltese”. Por iniciativa de Trondheim, também, serão realizadas em Angoulême “As 24 horas de BD”, nas quais 24 autores criarão em 24 horas uma história de 24 páginas, que será difundida na Internet.

Outro dos grandes atractivos do festival é a primeira parte da “Exposition Universelle de la bande dessinée”, que tem por base uma exploração prospectiva da BD que se faz hoje em todo o mundo, buscando pontos de contacto e vias inovadoras, e que será desenvolvida ao longo de várias edições do evento.

Em ano de centenário de Hergé, que tem uma rua em Angoulême com o seu nome, tal como acontecerá este ano com Goscinny, o festival propõe uma grande evocação do desenhador e da sua herança artística através de encontros de críticos e autores e de uma exposição inédita – “Hergé: da viagem imaginária à viagem interior” – que explora os mecanismos da criação do pai de Tintin.

“O mundo de Kid Paddle”, uma exposição espectáculo vocacionada para os mais novos, uma mostra dedicada ao psicadelismo de Jim Woodring, um documentário sobre a influência da actualidade na série “Valérian”, o cada vez mais procurado “Espaço Manga” e os Encontros Internacionais, para os quais estão garantidos nomes como Gilbert Hernandez, Didier Comès ou Sergio Toppi, são outros dos pontos de interesse do festival que se desenrola até ao próximo domingo.

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Palmarés renovado

Entre as muitas críticas de Lewis Trondheim ao festival, avultava a questão do palmarés, que, entre outros atribuía prémios para melhor argumento e melhor desenho, como se numa banda desenhada fosse possível fazer esta separação. A sua tese venceu – e este poderia ser um bom exemplo a seguir pelo Festival da Amadora – e assim, este ano, o palmarés do festival será assim estabelecido: Melhor Álbum, seis Álbuns Essenciais, um dos quais também “Revelação”, e o Prémio do Património, a atribuir à reedição de uma obra clássica da 9ª arte.

As 50 obras pré-seleccionada para estes prémios estarão disponíveis ao público, no “Espaço Leitura”, criado este ano no Festival. 


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F. Cleto e Pina

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